O GTi do século XXI
A Peugeot sempre foi pródiga na construção de pequenos automóveis com grandes “corações” e ainda mais importante, que entusiasmassem quem os conduzisse e causasse inveja a quem por eles eram ultrapassados.
Não existe ninguém que goste de automóveis (e não só) que não conheça o mítico Peugeot 205 GTi ou pelo menos que já não tivesse ouvido falar deste famoso “Leão”.
Com a apresentação do bem-nascido 208 (as vendas assim o dizem) a Peugeot decidiu também apresentar uma versão desportiva deste modelo, fazendo renascer tão mítica e saudosa sigla: GTi.
E ainda bem que o fez, pois estamos perante o GTi do século XXI.
Se para muitos, os mais antigos, um automóvel desportivo tem de ser apenas um motor, um chassis, 4 rodas e muita competência, tudo isso mudou e o automobilista atual, mesmo dando primazia à eficiência e performance, já não abdica de muitas das mordomias e mimos que os automóveis da atualidade nos oferecem.
E é precisamente aqui que entra em ação o Peugeot 208 GTi que vos trazemos como “Automóvel do Mês” de Outubro.
Ok, vamos lá ser sinceros: confesso que o design do 208 “normal”, não me tocava na alma, para mim era apenas mais um… Peugeot.
Mas tudo mudou no dia em que me dirigi às instalações da Peugeot, para levantar o “branquinho” (Nacré Satin), aqui em teste.
A Peugeot realizou um excelente trabalho, ao pegar nas linhas do 208 “normal” e transformá-lo num automóvel que respirando agressividade por todos os poros, fá-lo de forma bastante subtil, um toque aqui, uma pincelada ali, sem entrar em exageros desnecessários, ou “xunings”.
Aileron traseiro de pequenas dimensões, luzes diurnas e piscas em LED, vidros traseiros escurecidos, dupla ponteira de escape cromada e pinças de travão vermelhas, ajudam na transformação, tornando a “normalidade” em algo, desportivo, agressivo e sensual.
E isso sente-se mal se abre a porta e nos sentamos nos magníficos assentos, forrados a pele e tecido, bastante confortáveis e com bom apoio lateral, tal como se quer num automóvel desportivo.
Primeira sensação: espaço. Sim, é um automóvel pequeno, de três portas, ideal para transportar 4 pessoas (sim, transporta 5 pessoas, mas quem se sentar ao meio no assento traseiro, irá sempre desconfortável, situação que piorará se o condutor puxar pela ganadaria existente debaixo do capot), sem que tenham de existir empurrões ou cotoveladas.
Continuando a falar de espaço, a bagageira cumpre, os mínimos, sem deslumbrar, mas também ninguém está à espera que um automóvel desta gama e principalmente um desportivo, tenha uma bagageira XXL. Chega bem para o dia-a-dia e também para uma viagem de fim-de-semana, isto claro, sem levar a sogra, o gato e o periquito! Para isso existem outros modelos da Peugeot.
Voltando ao 208 GTi e sentado na posição do condutor eis que… percebo as queixas lidas em alguns ensaios já efetuados a diversos 208: na minha posição de condução normal, ligeiramente baixa, mas com as costas do assento quase na vertical, não vejo os manómetros do painel de instrumentos.
Agora percebo porque é que achei estranha a posição em que o assento se encontrava, quando me sentei. É necessário perder-se algum tempo até encontrarmos a posição ideal de condução, que será necessariamente sempre baixa porque senão… não vemos nem o velocímetro e nem o conta-rotações.
Ora sobe aqui, ora chega para a frente, mais um toque para trás, baixa mais um pouco e já está. Não será a posição ideal de condução pelo menos para mim, mas é o melhor compromisso a que consegui chegar entre o visualizar o painel de instrumentos, a estrada e o sentir-me minimamente confortável.
Uma olhadela em redor e excelente.
Os tais pequenos toques desportivos que a Peugeot soube tão bem dar ao exterior, mantém-se no interior, sobressaindo os remates a vermelho “racing” tanto nos assentos (em pele), como nas pegas das portas, rebordos do tablier e também no punho da caixa de velocidades.
Por cima, temos o enorme teto panorâmico, ladeado de duas fileiras de leds de um tom suave de azul, de bonito efeito, principalmente à noite, quando bem acompanhados, decidimos contemplar as estrelas…
Agarro o volante e… que maravilha. Pequeno, forrado a pele, recortado na zona inferior onde se encontra o monograma GTi, mas acima de tudo com uma excelente pega.
Lembram-se do que escrevi sobre o ser um automóvel do século XXI? Como é óbvio referia-me ao equipamento que este Peugeot possui:
- Airbags frontais, laterais e de cortina.
- AC automático bi-zona.
- Cruise Control com programação.
- E.S.P. - Electronic Stability Program.
- Faróis de nevoeiro.
- GPS integrado.
- Pack Visibilidade.
- Retrovisores exteriores rebatíveis eletricamente.
- Sistema de ajuda ao estacionamento traseiro.
- Touch Screen de 7”, com 6 altifalantes, sistema de som Arkamys, Bluetooth® e comandos no volante.
- Volante em couro perfurado com monograma GTi.
- Cor exterior: Branco Nacré Satin.
- Numeração no painel de bordo e na parte inferior dos vidros laterais traseiros.
- Jantes em liga leve 17’’ Carbone Noir Onyx-
- Centros de roda com contorno vermelho.
- Sistema Hi-Fi JBL.
Cinto de segurança devidamente apertado e está na hora de rodar a chave na ignição e acordar os 200 cv deste 1.6 Litros THP – que também equipa o desportivo RCZ.
E… sim, tem voz grossa, tal como se quer num carro desportivo, mas tudo natural, ao contrário de outros modelos de outras marcas que até se servem de amplificadores e do próprio sistema de som do carro, para fazer chegar até aos ouvidos dos passageiros, uma banda sonora mais… ruidosa.
Gosto do ronco, contido q.b., nada incomodo, mas lembrando sempre que estamos perante um 208 “especial”.
Graças aos 275 Nm de binário máximo que surgem logo ali por volta das 1700 rpm, consegue-se rodar a baixa velocidade, sem ter de estar sempre a utilizar a caixa de velocidades, sempre útil em circuitos urbanos, ou quando não queremos acordar os 200 cavalos sobrealimentados por um turbo de geometria variável, pois quando isso acontece… o desportivo discreto, “revolta-se” e… começa a festa!
E que festa meus amigos! Somos levados dos zero aos 100 km/h apenas em 6,8 segundos e quanto à velocidade máxima a marca garante 230 km/h.
No “branquinho”, consegui ver cravados nos dois velocímetros (um analógico e outro digital) 225 km/h, isto sem que os 200 cv fossem já com os “bofes de fora”! O que por outras palavras quer dizer que, noutras condições mais favoráveis, facilmente veria marcados os tais 230 km/h.
Falar nos consumos de um automóvel com estas características é sempre relativo, mas mesmo assim posso dizer-vos que no dia-a-dia, num andamento perfeitamente normal (nem sempre consegui…), consegue-se ver marcado no computador de bordo, 7,4 L gastos e com alguma paciência, até menos.
Puxando a sério pela manada de briosos equídeos, esqueçam as médias, pois estão sempre garantidos consumos acima dos 12 litros. Afinal de contas, sempre são "200 cavalos a beberem"...
Durante os dias em que tive o 208 na minha posse e como se pode ver nas fotos, a chuva e o mau tempo fez-nos quase sempre companhia o que me leva agora a falar do “abençoado” ESP (Electronic Stability Program), pois seria impossível descobrir os limites do pequeno Peugeot (e fazer as traquinices que lhe fiz…). Quer dizer, possível até seria, mas arriscava-me a devolver o “branquinho” à Peugeot com uma nova aerodinâmica estilo “harmónio”!
Claro que experimentei desligar o ESP, só para ver como era, mas no piso molhado esqueçam… é melhor não arriscar.
Curvar com o 208 GTi em piso seco dá um gozo tremendo pois agarra-se ao alcatrão que nem uma lapa e mesmo nos limites é sempre muito previsível. A frente, incisiva, nunca descola, transmitindo grande confiança ao condutor que apenas tem de se preocupar com a traseira, isto já bem no limites dos limites, quando o 208 Gti começa a levanta a “perninha” traseira interior, como que a avisar para não nos “esticarmos mais”, pois a “coisa” pode ficar fora de controlo.
Mas atenção, quando falo em conforto num carro desportivo é sempre relativo e este GTi não é exceção, pois se o compararem com um 208 “normal” a diferença é muita.
No entanto se o compararem com outros desportivos, aí sim, o conforto deste pequeno desportivo até é bastante aceitável, longe de ser um “cepo”, como alguns rivais. E claro que este conforto, mesmo que relativo, é uma mais-valia no dia-a-dia, e até mesmo em viagens mais longas, pois não chegamos ao destino, todos “partidos”.
Ok, até aqui tudo “positivo”, mas existe alguma coisa que eu não tenha gostado, ou que podia ser melhor?
- Alguns plásticos que até mesmo pelo toque “soam” a qualidade sofrível. e que contrastam bastante com outros de excelente qualidade. Falo por exemplo, dos plásticos que revestem as zonas inferiores do habitáculo, o que até é “quase” normal neste segmento, mas que contrastam bastante com os restantes plásticos e materiais usados tanto na tablier como, no geral, em todo o habitáculo.
- Peso excessivo das portas, algo que irá afetar principalmente as senhoras.
- E por último, a caixa de velocidades que possui um ótimo escalonamento e na qual não se falha uma passagem de velocidade mas… se o seu curso fosse um “niquinho” mais curto, seria perfeita e… mais rápida.
Conclusão: Estamos perante um verdadeiro Gti, tanto na pujança do seu propulsor, como no comportamento dinâmico que faze jus à sua herança, acrescentando ainda um pacote tecnológico que normalmente apenas encontramos em automóveis de gamas superiores.
Normalmente não sou muito saudosista em relação a automóveis e motos que ensaio, tentando ser sempre o mais imparcial, seguindo sempre a razão e não o coração, mas sou obrigado a confessar que foi com alguma pena que devolvi este 208 GTi à Peugeot, pois é um excelente companheiro, tanto para o dia-a-dia, como para aquelas alturas especiais... uma estrada solitária, bom piso, curvas, muitas curvas e…vocês sabem o que quero dizer!
Informação Técnica
Motor – 4 cilindros, a gasolina, colocado transversalmente, 4 válvulas por cilindro.
Cilindrada – 1598 cc
Potência – 200 cv às 5800 rpm
Binário – 275 Nm às 1700 rpm
Velocidade máxima – 230 km/h
Aceleração 0/100 km/h – 6,8 segundos
Alimentação – Injeção direta. Turbo, intercooler.
Transmissão – Caixa manual de seis velocidades, tração dianteira.
Pneus (5) – 205/45 R17
Suspensões
Dianteira – Rodas independentes, tipo McPherson.
Traseira – Rodas independentes – Trem com travessas deformáveis.
Travões
Frente – Discos ventilados
Trás – Discos
Depósito de combustível - 50 L
Peso – 1265 kg
Agradecimento - Peugeot Portugal
Avaliação
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Carlos Veiga (2013)
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