Durante estas mais de 3 décadas que já levo a conduzir automóveis, passaram por mim quatro Citroen.
O meu primeiro carro foi um Citroen Diane, branquinho, comprado a um amigo pela módica quantia de 35 mil escudos (vá, façam as continhas…).
O carrito até estava em bom estado, fora o facto de na primeira vez que o conduzi, a capota de lona esfarrapou-se me mil pedaços, tal era o seu estado, obrigando-me a conduzir durante algumas dezenas de quilómetros debaixo de chuva torrencial, chegando a casa não dentro de um automóvel, mas dentro de um aquário, tal era a quantidade de água no seu interior.
Mesmo assim ainda ficou comigoe durante alguns meses e esteve sempre à altura das tropelias que lhe fiz, entre as quais as inúmeras tentativas para o fazer capotar, façanha que (felizmente) nunca consegui realizar!
Uns tempos mais tarde fui o condutor assíduo de um Ami 8 que era da minha avó.
O estado deste Citroen era único, pois sinceramente ninguém sabe como é que “aquilo” ainda trabalhava e milagre dos milagres ainda andava! Ferrugem? Esse era o nome da nova cor, pois somente olhando para o Ami 8 com alguma atenção é que se conseguia vislumbrar aqui e ali vestígios de vermelho, que era a sua cor de nascença. Tudo nele era ferrugem, sendo mais fácil contabilizar o que não era. No entanto, confesso, tinha uma admiração especial por estre valente carrinho, pois a sua vida tinha sido tudo menos fácil. Por ela tudo passou e tudo carregou. Desde fazer viagens para a “santa terrinha” carregada até às “bordas”, com 7 adultos, fora as criancinhas (outros tempos) e toneladas de malas, sacos e afins, até o transportar fardos de feno e pasme-se ovelhas, tudo ela aguentou estoicamente e só passou à reforma quando a carta de condução da minha avó também o fez. Sobre este automóvel posso também dizer que consumia mais óleo que gasolina e que "marcava sempre o território por onde passava", mas nunca deixou ninguém ficar apeado, tal era a sua resistência!
Depois, passaram mais uns anos até que voltei a ter outro Citroen e este confesso, é um automóvel de que gosto muito.
Não sei se é pela genialidade (pelo menos para mim) das suas linhas, criadas pelo mago do design Marcello Gandini, que foi o responsável pela criação de alguns dos mais famoso automóveis de todos os tempos entre os quais se destacam os Lamborghini Miura e Countach, a primeira geração do BMW Série 5, o Renault Super 5, entre muitos outros.
O certo é que adorava (e adoro) o BX, seja pelas suas linhas geométricas e recortadas, seja pelo conforto único da suspensão hidráulica que dá um “handling” único à sua condução, o certo é que tal como o DS, o GS e CX, o BX também éum automóvel único.
Depois do BX, veio cá para casa um ZX, 1.4i Aura, cumpridor naquilo que lhe era exigido, ou seja muito espaço de arrumação, fiabilidade q.b. e acima de tudo conforto, mas… faltava-lhe algo e a falta desse “algo”, infelizmente, transmitiu-se às gerações seguintes dos modelos da Citroen, fosse no Xsara, no Saxo, e até mesmo nos primeiros C5: genialidade!
A monotonia instalou-se na Citroen, e de modelos únicos, passaram a ser “boring cars”! Ter um Citroen, fez com que o seu proprietário passa-se a ser apenas mais um na estrada, e não, mais um proprietário de um Citroen, na estrada, o que é muito diferente.
Felizmente, parece que na Citroen também pensavam da mesma forma que eu, e depois de alguns (muitos!) anos de “boring cars”, fez-se luz e apresentaram a primeira geração do C4, que veio substituir o Xsara e este sim, já pode ser considerado um verdadeiro Citroen, pois bastava olhar para as linhas do C4 de três portas, ou então para o “estranho” volante deste modelo para vermos que a Citroen estava de volta. E estava, pois o Citroen C6 é o melhor exemplo disso mesmo.
Mas na Citroen ainda não contentes com o resultado decidiram fazer melhor, criando uma linha de modelos específicos a qual batizaram de Linha DS, separando assim estes top-models Premium, dos outros.
E é aqui que entra em ação o DS3, o Citroen aqui em teste.
Sim, não existem dúvidas, o DS3 é uma derivação do C3 da Citroen. Mas apenas isso, pois este é um automóvel muito especial.
Olhem para ele e digam-me lá se, apesar das suas pequenas dimensões, não se destaca na multidão (ainda mais neste belíssimo castanho Ivory), tal como um verdadeiro Citroen deve sempre fazer.
Seja de frente, trás, de perfil ou de esguelha, o DS é um automóvel que mistura de forma perfeita a graciosidade e beleza de uma top-model com a agressividade e raça de um desportivo.
Quando nos sentamos no seu interior e apesar das muitas diferenças que existem o C3 e o DS3, o certo é que a sua envolvência nos faz lembrar que estamos a bordo de um produto do Grupo PSA, pois essa mesma envolvência também nos faz lembrar de certa forma, o Peugeot 208, apear das diferenças existentes.
Sentado ao volante, levo algum tempo a tentar encontrar a posição ideal, mas mesmo depois de algumas tentativas, penso que… a combinação entre as regulações da amplitude e principalmente altura do assento e o volante poderia ser melhor pois ficamos sempre ou demasiado altos, ou então, aqueles que como eu gostam de conduzir numa posição mais baixa, ficam numa posição…menos boa, mas mesmo assim confortável e com tudo ali à mão… menos o cinto de segurança, pois quando estamos sentados e o pretendemos puxar… quase que temos de ter dotes de contorcionista. No entanto o DS3 não é o único automóvel de três portas do mercado que padece deste mal.
E é precisamente no ter ali tudo á mão que surge a primeira nota negativa em relação ao DS3. Ora então reparem: no lado esquerdo do guiador, temos a tradicional manete que comanda as luzes e piscas, uma das duas que comandam a caixa de velocidades, o comando do cruise-control e ainda… mesmo ali ao lado, na coluna de direção, o botão que comanda a altura dos faróis.
E do lado direito o que vamos também encontrar? Lá estão duas manetes, a dos limpa-vidros, a outra manete da caixa de velocidade e ainda… o conjunto de botões que comandam o rádio e afins do C3, ou seja gera-se a confusão sempre que pretendemos fazer alguma coisa do lado esquerdo do volante. Sinceramente não percebi, porque é que alguns destes comandos não passaram, por exemplo, para o volante, tal como acontece em outros modelos da marca e/ou do Grupo.
Pior ainda é o facto da tal peça onde estão agrupados os comandos do rádio ser… igualzinha à mesma peça que equipa o Peugeot 206 SW da minha mulher que é de… 2003! Ok, até percebo estamos em época de contenção mas caramba, o DS3 não é propriamente carro do povo e tem um preço que não é propriamente dos mais acessíveis! Estamos a falar do veículo que pretende ser (e é!) Premium!
De resto o habitáculo é extremamente acolhedor, estamos rodeados de bons materiais, apesar de ter apenas 3 portas, acolhe confortavelmente 4 adultos e até 5 se não forem de dimensões XXL.
O requinte “Premium” está bem à vista em todos os pormenores deliciosos à vista de todos, pois desde o bonito volante, recortado na parte inferior, ao punho cromado da caixa de velocidades e à mistura de pele e de plástico lacado de todo o tablier, tudo de excelente qualidade.
Falar de qualidade também é falar da capota de acionamento elétrico do DS3 que abre e fecha em apenas 11 segundo, comandado por um botão que se encontra localizado numa consola, no tejadilho.
E a qualidade de uma capota deste tipo transparece sempre na forma como isola o habitáculo e passageiros dos barulhos exteriores.
Infelizmente a rigidez estrutural é, tal como acontece com outros pequenos cabrios, afetada quando levamos a capota aberta sentindo-se algumas vibrações ao nível da carroçaria, que aumentam exponencialmente conforme diminui a qualidade das estradas por onde circulamos.
A bagageira chega para ali albergarmos as compras semanais de uma ida a um hipermercado ou a bagagem de um fim-de-semana, pecando apenas pelas reduzidas dimensões da sua “boca”, por culpa dos reforços estruturais ao nível da carroçaria devido ao facto de não possuir tejadilho.
A motorizar o DS3 aqui em ensaio vamos encontrar o muito conhecido e reputado 1.6 HDi, na versão de 90 cv. Se na maioria dos casos chega para as encomendas, muito por culpa do aspeto raçudo e do bom comportamento dinâmico deste automóvel, por vezes queremos mais… do que este propulsor por muito que se esforce, consegue fazer e tudo isto tem um culpado: a caixa de velocidades “pilotada” que a Citroen continua a teimar em equipar os seus automóveis e já tão criticada ao longo dos anos! É simplesmente exasperante!
Ora deixa cá ver por onde começo:
Seleciona-se a primeira velocidade e começa a festa, que é o mesmo que dizer a confusão e o stress por parte de quem conduz.
Apenas usando a caixa no modo manual e após alguma insistência (e muitas vezes nem assim!) é que conseguimos que engrene a 2ª velocidade a rotações mais baixas e mesmo assim quase sempre estão garantidos alguns solavancos e safanões que ao fim de algum tempo incomodam bastante.
Depois a passagem de todas as velocidades é sempre demasiado lenta e feita de forma bastante estranha, aprece que no exato momento em que engrena a velocidade logo a seguir existe algo que puxa o carro para trás, engrena a
mudança e depois atira o carro para a… frente!
Confesso, já conduzi muitos automóveis, equipados com os mais variados tipos de caixas automáticas e… nenhuma como esta!
Quando já habituados a esta “coisa que mete mudanças”, até nos podemos dar ao luxo de fazer uma condução mais atrevida, até porque o DS3 se predispõe a que assim seja, com um bom comportamento dinâmico, apesar de que, quando conduzido nos limites, temos de estar bastante atentos à traseira que volta e meia, em curva, parece querer ir-se embora, podendo provocar alguns calafrios aos menos experientes.
Quanto aos consumos… cá temos outra vez a malfadada caixa de velocidades a estragar o “retrato”, pois todos sabemos que este propulsor equipado com uma caixa de velocidades normal, tem consumos excelentes.
Já este DS3, com caixa pilotada, gasta sempre mais uns decilitros, mas mesmo assim e fazendo uma condução bastante moderada e já habituados às indecisões da caixa de velocidades, conseguimos fazer um, muito respeitável, consumo de 5 litros aos cem, isto em estrada e rodando a velocidades balizadas entre os 80 e os 100 km/h, enquanto em circuito urbano é praticamente impossível baixar dos 6 litros.
Gostam do DS3 Cabrio, querem adquirir um e não se querem arrepender?
Então escolham uma versão equipada com a tradicional caixa de velocidades manual e não com esta "coisa esquisita" que equipa a unidade aqui em teste, pois só irão ganhar com isso: ganham no conforto de utilização, nas performances - principalmente nos arranques e nas recuperações -, nos consumos e acima de tudo não irão passar por nabos, quando desfilarem por aí a bordo deste Top-Model!
Ficha Técnica
Motor – 4 cilindros
Potência – 92 cv às 4000 rpm
Binário – 230 Nm às 1750 rpm
Alimentação – Injeção direta, turbo, intercooler
Transmissão – Automática (“pilotada”), 6 velocidades.
Tração - Dianteira
Velocidade máxima (dados da marca) – 178 km/h
Aceleração 0 aos 100 km/h (dados da marca) – 12,9 seg.
Suspensão
Dianteira - Tipo McPherson com barra estabilizadora.
Traseira – Independente com elemento torsional.
Pneus - 205 / 45 R17
Depósito combustível – 50
Dimensões
Comprimento – 3.498 mm
Altura – 1452 mm
Largura – 1.715 mm
Distância entre eixos – 2.464 mm
Peso – 1165 kg
Agradecimento
Citroen Portugal
Avaliação
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Carlos Veiga (2014)
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