A convite do Pedro Alves da Rent-a-Moto, o Motor Atual foi até à HM Motos, em Miraflores, para experimentar a novíssima Benelli TRK 502.
Por acaso, esta moto despertou-me curiosidade, quando a vi pela primeira vez no Lisboa Motoshow, principalmente porque ia de encontro a uma ideia que eu já tinha em relação às motos de média cilindrada.
Explicando melhor, fazia-me um bocado de confusão, porque é que havia tantos modelos maxi-trail de alta cilindrada e nenhuma marca tinha ainda apostado em apresentar uma moto que, de alguma forma, tivesse o mesmo design que as maxi de grande cilindrada, mas equipada com um motor mais pequeno, menos potente e que, por isso mesmo, tivesse um preço final mais acessível, pois nem todos possuem capacidade financeira para adquirir um veículo de duas rodas cujo preço, está normalmente sempre acima dos 10 mil euros (quando não chegam aos 20 mil...)!
Digam o que disserem mas... é muito guito!
Sim, é verdade que existem no mercado diversos modelos trail de média cilindrada, alguns muito bons, cujo preço é acessível, mas a realidade é que não existia até agora, uma moto que, digamos, tivesse a mesma imagem e majestosidade das grandes maxi-trail.
E a Benelli TRK 502 não faz a coisa por menos pois, enquanto estava na HM Motos, na conversa com o Pedro Alves, por acaso, estacionou mesmo ao lado da TRK que eu tinha acabado de estacionar, uma BMW GS1200, artilhada até ao pescoço e... a Benelli, pelo menos no que diz respeito à envergadura e imponência, não se sentiu humilhada, antes pelo contrário. Ou seja, se a colocarmos no meio de um "rebanho" de maxi-trails das "grandes" e das mais variadas marcas e modelos, não ficará deslocada, o que é um fator (muito) positivo.
Não gostei, nem do aspeto e nem da qualidade da chapa metálica que envolve a ponteira de escape. Sendo a moto tão bonita, aquele pedaço de metal, destoa completamente do resto do conjunto... parece que foi feita à pressa...
Também achei um exagero, as dimensões (largura) dos ferros laterais de proteção.
Ok, já a vi ao longe, chegou a hora de me chegar mais à TRK e dar atenção à qualidade dos materiais e à sua montagem e... desilusão, pois esperava mais. Existe uma estranha mistura de plásticos de boa e de menos boa qualidade o que é bem sentido apenas com o toque.
Por isso, sou obrigado a ficar com a suspeita que, após algum tempo e principalmente se rodarmos pelas ruas degradas das nossas cidades, quase de certeza que vão aparecer ruídos e vibrações parasitas que, pelo menos a mim que sou um "picuinhas" do caraças, iriam incomodar bastante.
Olhando para a qualidade de alguns parafusos... fiquei com a ideia de que, também poderia ser melhor.
Quem olha para a TRK 502, principalmente aqueles mais curtos de perna, ficam intimidados com a sua envergadura e quase de certeza que serão levados a pensar que "esta moto é muito grande e alta para mim". Nada mais errado.
O assento desta moto está perfeitamente dividido em duas secções, estando a secção que pertence ao condutor, desenhado de forma a estar o mais baixo e centrado possível, possibilitando assim a que a maioria das pessoas, que se sentem na TRK, consigam chegar com os pés ao chão.
Dou o meu exemplo, tenho 1,78 (ou tinha pois já cheguei à idade em que começo a encolher!) e chego totalmente com os pés ao chão e ainda fico com as pernas um "niquinho" fletidas, indicador de que, mesmo quem tenha um metro e sessenta e picos, chegue perfeitamente com os dois pés ao chão.
Já o passageiro viaja, não no primeiro mas sim no segundo andar, o que de alguma forma, poderá fazer com que não fique tão protegido pela enorme "marquise" frontal, com que esta Benelli vem equipada de série. Mas a realidade é que, como não andei nem com passageiro nem como passageiro, isto será algo a comprovar num futuro teste.
E chegou a hora da verdade, ou seja, se a Benelli TRK 502 passou com um meritório "Muito Bom" no capitulo do design e apenas com um "Suf" no que diz respeito à qualidade de alguns materiais, como se sairá em andamento?
Apesar do pouco tempo que tive para andar com esta moto - havia pessoas à espera para também a experimentarem – deu para perceber o seu comportamento e chegar a algumas conclusões interessantes.
Chave rodada, toque no botão e eis que o bicilindrico em linha, entra imediatamente em funcionamento, primeiro de forma mais abrupta e rude depois, baixando de rotação, torna-se mais sereno, aguardando que eu lhe dê ordem de marcha. Arranco da HM-Motos e sigo em direção a Linda-a-Velha, zona da Rotunda do Central Park que dá saída para a A5 e que naquela hora, já é um caos no que diz respeito ao trânsito, ou seja, o ideal para experimentar a TRK num ambiente urbano intenso.
Lá vou eu, pelo meio dos carros, nas calmas pois não conheço a moto e depois, num ritmo já mais "alegre", fico a perceber imediatamente duas coisas:
Primeiro e como referi no inicio, os ferros laterais de proteção são demasiado grandes, e isso sente-se na pratica, intimidando bastante quando pretendemos circular no meio dos "enlatados" e olhem que eu até sou bastante jeitoso no que diz respeito a razias.... Sim, as suas dimensões são exageradas e será por certo algo que tem de ser revisto pelos técnicos da marca italiana, prejudicando em demasia a condução, nos espaços mais apertados, a não ser se quisermos "personalizar" a pintura de alguns automóveis...
Depois temos o... travão de trás. Bom, dizer que aquilo é um travão, será por certo ofender os travões. Digamos que não trava mas que abranda. Para quem, como eu, faz bastante uso do travão traseiro quando conduz no meio dos carros, digamos que não será a melhor das sensações, "abrandar" em vez de travar.
Felizmente, o duplo disco da roda dianteira e os excelentes Pirelli com que vem equipada, têm capacidade suficiente para suprimir a falta de eficácia do disco traseiro e a TRK trava com segurança.
Umas voltinhas por Linda-a-Velha e sim, sinto-me bastante confortável em cima da Benelli de "pernas altas". A ergonomia da posição de condução é muito boa, tanto no que diz respeito à posição de pernas como dos braços. Aqui, em relação aos braços e sendo apenas um gosto pessoal, se o guiador estivesse dois ou três centímetros mais perto de mim, seria perfeito.
O painel de instrumentos é bastante completo, no entanto, achei o ponteiro do conta-rotações demasiado periclitante, o que me leva mais uma vez a pensar: se é assim, sendo novo, como será quando tiver alguns milhares de km em cima? Será daqueles que abanam tanto que ficamos sem saber a que rotação roda o motor?
A caixa de velocidades, apesar da pouca quilometragem da moto de teste, funciona bem. Aqui notei que a embraiagem precisava de ser afinada, pois tinha demasiada folga, algo que pelo que constatei, já tinha sido referido por outros motociclistas que a tinham conduzido, antes de mim.
Ok, já chega de trânsito intensivo. Vamos lá soltar os 47,6 cv e ver o que valem e a primeira coisa que senti foi que, o motor ainda estava algo preso, afinal de contas o seu conta quilómetros apenas indicava 803 km rodados!
Não puxando tanto pelo motor, tudo muda, a condução torna-se bastante mais fluída, as vibrações diminuem bastante (mas não desaparecem) e tudo se torna mais suave, agradável e... confortável.
Sim, dei um esticão à TRK e chegou com alguma facilidade aos 160 km/h, ficando o no entanto com a ideia de que não deverá andar muito mais, apesar da já referida pouca quilometragem do seu propulsor.
A TRK 502, sente-se em casa, é a rodar na casa dos 120/130 km/h e nesta faixa, mesmo com passageiro e carga, será uma excelente papa-quilómetros, não sendo por acaso que o seu depósito de combustível leva 20 litros do precioso líquido.
Conclusão - Com algumas coisas a precisarem de ser "limadas", a Benelli TRK 502, pode ser uma excelente porta de entrada para o mundo das maxi-trail, principalmente para aqueles que vem das 125, que querem subir de cilindrada, sem entrarem (ainda) em grandes "loucuras".
Contudo, tendo um preço de "chave-na-mão de 6.400 €, o seu maior problema dá pelo nome de Honda CB500X que custa "apenas" mais 400 €...
Fatores Positivos -
- Design.
- Posição de condução.
- Proteção do vento.
- Altura do assento do condutor.
- Travagem à frente.
- Pneus.
Fatores Negativos -
- Qualidade de materiais e respetiva montagem.
- Largura exagerada dos ferros de proteção laterais.
- Chapa metálica que envolve a ponteira do escape.
- "Abrandador" traseiro.
- Oscilação do ponteiro do conta-rotações.
- Vibrações excessivas nas peseiras, a alta rotação.
- Ressonância na zona frontal.
Especificações Técnicas
Motor – 2 cilindros paralelos, 4 tempos, 4 válvulas por cilindro.
Refrigeração – Líquido.
Cilindrada – 499,6 cc.
Potência – 47,6 cv às 8500 rpm.
Binário – 45 Nm.
Alimentação – Injeção eletrónica.
Transmissão – Manual de seis velocidades.
Transmissão final – cremalheira, corrente e pinhão de ataque.
Suspensões
Dianteira – Forquilha invertida (curso 135 mm).
Traseira – monoamortecedor.
Travões
Dianteiro – Duplo disco (320 mm).
Traseiro – Disco (260 mm)
ABS
Pneus
Dianteiro – 120/70-ZR17
Traseiro – 160/60 – ZR17
Depósito combustível – 20 Litros.
Peso – 213 Kg.
Preço (chave na mão) – 6.400 €
Avaliação Motor Atual
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(seis em dez pontos possíveis)
Carlos Veiga (2017)
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