Ao longo dos anos o Homem mostrou que a sua capacidade criativa acompanhava a necessidade de melhorar a qualidade de vida, sendo muitos os inventos que de uma forma ou de outra contribuíram para que isso acontecesse.
No entanto, uma iria modificar radicalmente - e para sempre - a nossa vivência quotidiana: o Automóvel.
Com o aparecimento dos primeiros veículos de transporte, das mais simples carroças até às sumptuosas carruagens -- construídas com madeiras nobres, revestidas por finos tecidos e atreladas a cavalos de pura raça -- usadas pelos fidalgos e nobreza, cedo se assistiu à generalização deste meio de transporte. Mas nem tudo era perfeito. Se, por um lado, a utilização de animais para fazer mover as carroças não era o mais prático, por outro, a necessidade de viajar para lugares cada vez mais longínquos fez com que se procurassem alternativas.
O surgimento do motor a vapor trouxe os primeiros comboios, um meio de transporte rápido e completo, que permitia transportar em conjunto um elevado número de pessoas e grandes quantidades de carga.
Todavia o comboio era um transporte colectivo, continuando a fazer falta um engenho que pudesse ser usado para transportar pessoas e alguma carga, sem estar limitado a horários e a percursos pré-estabelecidos.
O primeiro veículo capaz de se mover pelos seus próprios meios de que se tem notícias surgiu em 1776, quando um francês, Nicholas-Joseph Cugnot, construiu um estranho veículo de três rodas, propulsionado por um enorme motor a vapor.
Consta que este veículo seria também o causador do primeiro acidente da história do automóvel, quando Cugnot perdeu o controle da direcção do seu engenho e foi embater num dos muros do quartel onde exercia as funções de engenheiro militar.
Dois anos mais tarde nos EUA, Oliver Evans apresentaria um veículo com características semelhantes.
Nas primeiras décadas do século XIX as barulhentas e fumegantes «carruagens sem cavalos» proliferaram, aparecendo também algumas movidas por motores eléctricos, cujo maior inconveniente era a pouca autonomia proporcionada pelas suas enormes e pesadas baterias.
O primeiro motor de combustão interna surgiria em 1860, pela mão de Jean Etiènne Lenoir. O combustível usado para alimentar este revolucionário motor era o gás.
Cinco anos depois é aplicada em Inglaterra a lei da bandeira vermelha.
A partir dessa altura qualquer «carruagem sem cavalos» só podia circular se fosse precedida a curta distância por uma pessoa com uma bandeira vermelha.
Foi também a partir da segunda metade do século XIX que se começou a chamar a este tipo de veículos «voiture automobile» (veículo que se movimenta sozinho). A denominação "automobile" deriva da junção da palavra grega «autos» (por si só) com a palavra em latim «mobilis» (móvel).
Em 1876 Nikolas August Otto aperfeiçoa o motor a gás de Lenoir, conseguindo que este gerasse energia utilizando gasolina como combustível.
Desenvolvido a partir do motor de Otto, um alemão de nome Gottlieb Daimler apresentou em 1885 a sua versão de propulsor ideal para fazer movimentar uma «voiture automobile».
Este engenho de um cilindro, 264 cm3 e 0,7 cv de potência (!) foi adaptado com sucesso a um veículo de duas rodas.
Nesse mesmo ano, Karl Benz utiliza também o motor de Daimler para fazer mover um pequeno carro de três rodas.
Nascia assim o primeiro automóvel movido por um motor de combustão interna, iniciando uma nova era em direcção ao futuro.
O primeiro automóvel em Portugal -
Decorria o ano de 1895 quando Jorge de Avilez de Sousa Feio, quarto Conde de Avilez, moço fidalgo da Casa real e de Santiago do Cacém, adquiriu em Paris aquele que viria a ser o primeiro automóvel movido por um motor de combustão interna a pisar solo português: um Panhard & Levassor.
Comprado em segunda mão, este veículo vinha equipado com um motor Daimler de dois cilindros em V e 4 cv de potência, que o movia com extrema dificuldade, permitindo-lhe atingir uns «estonteantes» 20 km/h de velocidade máxima!
Quando chegou a Portugal, muitas foram as confusões e peripécias que envolveram o pequeno automóvel.
Primeiro na Alfândega de Lisboa, cujos funcionários não sabiam que taxa aplicar a tão estranho engenho. Após várias reuniões finalmente chegaram a um consenso: aquela máquina «esquisita» iria ser tributada com a taxa aduaneira que era aplicada às máquinas agrícolas a vapor...
Depois de taxas pagas, o Panhard & Levassor foi transportado, ainda encaixotado, para uma oficina de carruagens situada na rua dos Sapateiros.
Após ter sido devidamente desencaixotado e preparado para realizar a grande viagem até Santiago do Cacém, onde residia o seu novo proprietário, chegou a altura de colocar o motor em funcionamento.
No depósito de combustível foram colocados uns quantos litros de petróleo, liquido que, pensava-se, seria o ideal para aquele tipo de propulsor.
É claro que todas as tentativas para colocar o motor a trabalhar se revelaram infrutíferas. Até que Jules Philipe, um francês, engenheiro de minas, que tinha sido convidado a assistir aos preparativos para colocar em funcionamento o Panhard, alvitrou que se devia experimentar gasolina em vez de petróleo. Porém ninguém quis dar à manivela com receio que o motor explodisse.
Resolveram então pedir a um dos muitos populares que movidos pela curiosidade ali se encontravam, que girasse a manivela. A honra de tal acto coube a um jovem (galego) que ignorando a razão porque fora escolhido para tal tarefa, colocou-se à frente do carro, agarrou na manivela com toda a força e após a ter girado meia dúzia de vezes, eis que o motor «tosse», expelindo uma enorme nuvem de fumo negro e começa a funcionar, para gáudio de todos os presentes, que efusivamente aplaudiram tal acontecimento.
Depois de realizadas as despedidas, o Conde de Avilez, acompanhado pelo engenheiro francês, subiram para o Panhard & Levassor e iniciaram a viagem para Santiago do Cacém, com passagem obrigatória pela bonita vila de Palmela.
Quando, após ter percorrido algumas das ruas da vila, o Conde de Avilez se encontrava a descer uma íngreme ladeira, eis que de repente e vindo não se sabe de onde, lhe surge pela frente um burro! É claro que o choque foi inevitável.
O burro, apesar de muitas crónicas da época relatarem que o animal havia perecido no acidente, apenas sofreu alguns arranhões, ficando para a história como o causador do primeiro acidente rodoviário em Portugal.
No entanto, devido à ira do proprietário do burro e também de alguns populares, o Panhard & Levassor só pode prosseguir a sua marcha após o seu proprietário ter deixado como fiança a exorbitante quantia (para a época) de 40$00, com a condição de o burro ser inspecionado por um veterinário no dia seguinte, o que se fez. Os ferimentos sofridos pelo burro foram avaliados em 2$00, o que levou à devolução do restante valor da fiança ao Conde.
À chegada a Santiago do Cacém, assistiu-se a um autêntico «banho de multidão», pois toda a população da pequena vila alentejana saiu à rua para assim poder assistir à chegada do seu conterrâneo e de tão estranha máquina.
O «Gasolina», nome dado carinhosamente pelo povo ao Panhard & Levassor do Conde de Avilez, é propriedade do Automóvel Clube de Portugal, encontrando-se em exposição nas instalações da Delegação Norte do Clube, situadas na cidade do Porto.
A popularidade aumenta -
Mas seria já no século XX (1908) que Henry Ford, um norte-americano descendente de irlandeses, daria novo rumo à história da indústria automóvel com a criação da primeira linha de montagem do mundo -- ideia que lhe ocorreu após visitar uma fábrica de salsichas!
Ford «inundou» o mercado com os seus quase indestrutíveis e baratos Model T, «democratizando» este meio de transporte.
No campo desportivo podemos destacar também alguns dos mais famosos construtores e preparadores de automóveis: os De Dion e Panhard-Levassour, pioneiros das corridas; a Mercedes-Benz com os seus «flechas de prata»; a Maserati; a Alfa-Romeo; a Auto Union; a Bugatti; não esquecendo os velozes bólides de cor vermelha oriundos de Itália, cujo símbolo, o famoso «Cavallino Rampante», representa de forma notável a personalidade carismática do seu criador: o lendário Enzo Ferrari.
Novos valores: economia e segurança -
Durante as décadas de Cinquenta e Sessenta reinaram os mastodônticos «espadas» norte-americanos, possuidores de formas extravagantes e equipados com descomunais motores de 8, 10 e 12 cilindros (!), autênticos «devoradores» de gasolina. No entanto, na década seguinte e devido a graves incidentes políticos, assistiu-se à maior crise petrolífera de sempre.
Os combustíveis foram racionados e aumentaram astronomicamente de preço, o que provocou um recuo na produção de carros grandes e potentes na maioria das fábricas.
Os construtores rapidamente se adaptaram às novas exigências do mercado, desenvolvendo e
construindo automóveis mais pequenos e leves, equipados com motores de baixa cilindrada, consequentemente mais económicos e também menos poluentes.
Com o aproximar do fim do século XX começou a dar-se mais atenção à segurança dos automóveis. Os índices de mortalidade nas estradas mundiais crescia assustadoramente e um pouco por todo o lado surgiam vozes contestatárias que punham em causa a segurança e resistência dos carros construídos até então.
Mais uma vez os fabricantes souberam corresponder às expectativas e necessidades dos seus clientes, desenvolvendo e aplicando rapidamente nos seus automóveis os mais variados sistemas de segurança (chassis e carroçarias mais resistentes, Airbags, cintos de segurança, sistema de anti-bloqueio dos travões, controlo electrónico de estabilidade, multimédia, etc), sempre com o intuito de defender os utilizadores de sofrerem danos e ferimentos graves em caso de acidente.
E o futuro, o que nos reservará? -
Para já, e pelo que nos é permitido vislumbrar através dos veículos experimentais (protótipos) que vão sendo apresentados pela maioria dos fabricantes, grandes melhorias serão introduzidas nos campos da segurança – tanto activa como passiva --, equipamento, assim como a introdução de muitas novidades nas mecânicas, sendo a principal o uso de novos tipos de combustível/energia entre os quais se destacam obviamente, os automóveis híbridos e/ou movidos apenas a eletricidade
Muitas serão ainda as novidades que os construtores irão apresentar neste imenso e grandioso universo que é o mundo dos automóveis, espantando e deslumbrando quem os utiliza.
Carlos Veiga
Ao longo dos anos o Homem mostrou que a sua capacidade criativa acompanhava a necessidade de melhorar a qualidade de vida, sendo muitos os inventos que de uma forma ou de outra contribuíram para que isso acontecesse.
No entanto, uma iria modificar radicalmente - e para sempre - a nossa vivência quotidiana: o Automóvel.
Com o aparecimento dos primeiros veículos de transporte, das mais simples carroças até às sumptuosas carruagens -- construídas com madeiras nobres, revestidas por finos tecidos e atreladas a cavalos de pura raça -- usadas pelos fidalgos e nobreza, cedo se assistiu à generalização deste meio de transporte. Mas nem tudo era perfeito. Se, por um lado, a utilização de animais para fazer mover as carroças não era o mais prático, por outro, a necessidade de viajar para lugares cada vez mais longínquos fez com que se procurassem alternativas.
O surgimento do motor a vapor trouxe os primeiros comboios, um meio de transporte rápido e completo, que permitia transportar em conjunto um elevado número de pessoas e grandes quantidades de carga.
Todavia o comboio era um transporte colectivo, continuando a fazer falta um engenho que pudesse ser usado para transportar pessoas e alguma carga, sem estar limitado a horários e a percursos pré-estabelecidos.
Consta que este veículo seria também o causador do primeiro acidente da história do automóvel, quando Cugnot perdeu o controle da direcção do seu engenho e foi embater num dos muros do quartel onde exercia as funções de engenheiro militar.
Dois anos mais tarde nos EUA, Oliver Evans apresentaria um veículo com características semelhantes.
A partir dessa altura qualquer «carruagem sem cavalos» só podia circular se fosse precedida a curta distância por uma pessoa com uma bandeira vermelha.
Foi também a partir da segunda metade do século XIX que se começou a chamar a este tipo de veículos «voiture automobile» (veículo que se movimenta sozinho). A denominação "automobile" deriva da junção da palavra grega «autos» (por si só) com a palavra em latim «mobilis» (móvel).
Em 1876 Nikolas August Otto aperfeiçoa o motor a gás de Lenoir, conseguindo que este gerasse energia utilizando gasolina como combustível.
Comprado em segunda mão, este veículo vinha equipado com um motor Daimler de dois cilindros em V e 4 cv de potência, que o movia com extrema dificuldade, permitindo-lhe atingir uns «estonteantes» 20 km/h de velocidade máxima!
Após ter sido devidamente desencaixotado e preparado para realizar a grande viagem até Santiago do Cacém, onde residia o seu novo proprietário, chegou a altura de colocar o motor em funcionamento.
No depósito de combustível foram colocados uns quantos litros de petróleo, liquido que, pensava-se, seria o ideal para aquele tipo de propulsor.
É claro que todas as tentativas para colocar o motor a trabalhar se revelaram infrutíferas. Até que Jules Philipe, um francês, engenheiro de minas, que tinha sido convidado a assistir aos preparativos para colocar em funcionamento o Panhard, alvitrou que se devia experimentar gasolina em vez de petróleo. Porém ninguém quis dar à manivela com receio que o motor explodisse.
Resolveram então pedir a um dos muitos populares que movidos pela curiosidade ali se encontravam, que girasse a manivela. A honra de tal acto coube a um jovem (galego) que ignorando a razão porque fora escolhido para tal tarefa, colocou-se à frente do carro, agarrou na manivela com toda a força e após a ter girado meia dúzia de vezes, eis que o motor «tosse», expelindo uma enorme nuvem de fumo negro e começa a funcionar, para gáudio de todos os presentes, que efusivamente aplaudiram tal acontecimento.
O burro, apesar de muitas crónicas da época relatarem que o animal havia perecido no acidente, apenas sofreu alguns arranhões, ficando para a história como o causador do primeiro acidente rodoviário em Portugal.
À chegada a Santiago do Cacém, assistiu-se a um autêntico «banho de multidão», pois toda a população da pequena vila alentejana saiu à rua para assim poder assistir à chegada do seu conterrâneo e de tão estranha máquina.
Mas seria já no século XX (1908) que Henry Ford, um norte-americano descendente de irlandeses, daria novo rumo à história da indústria automóvel com a criação da primeira linha de montagem do mundo -- ideia que lhe ocorreu após visitar uma fábrica de salsichas!
Ford «inundou» o mercado com os seus quase indestrutíveis e baratos Model T, «democratizando» este meio de transporte.
Durante as décadas de Cinquenta e Sessenta reinaram os mastodônticos «espadas» norte-americanos, possuidores de formas extravagantes e equipados com descomunais motores de 8, 10 e 12 cilindros (!), autênticos «devoradores» de gasolina. No entanto, na década seguinte e devido a graves incidentes políticos, assistiu-se à maior crise petrolífera de sempre.
Os combustíveis foram racionados e aumentaram astronomicamente de preço, o que provocou um recuo na produção de carros grandes e potentes na maioria das fábricas.
Os construtores rapidamente se adaptaram às novas exigências do mercado, desenvolvendo e
construindo automóveis mais pequenos e leves, equipados com motores de baixa cilindrada, consequentemente mais económicos e também menos poluentes.
Mais uma vez os fabricantes souberam corresponder às expectativas e necessidades dos seus clientes, desenvolvendo e aplicando rapidamente nos seus automóveis os mais variados sistemas de segurança (chassis e carroçarias mais resistentes, Airbags, cintos de segurança, sistema de anti-bloqueio dos travões, controlo electrónico de estabilidade, multimédia, etc), sempre com o intuito de defender os utilizadores de sofrerem danos e ferimentos graves em caso de acidente.
Carlos Veiga
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