30 de setembro de 2013

Na estrada com…

Aprilia Caponord 1200 Travel Pack



Juntando o útil ao agradável, que melhor motivo poderíamos ter para efetuarmos algumas centenas de quilómetros com a Aprilia Caponord 1200 – gentilmente cedida pela Luzeiro – do que ir ter com os aventureiros do Clube Maxiscooters do Norte e acompanhá-los durante parte do percurso do 2º dia da Volta a Portugal em Scooter 2013?

Na véspera, fomos até às instalações da Luzeiro, em Massamá, para levantar a Caponord, que já esperava por nós, de revisão feita e pronta a rodar e durante o resto do dia, aproveitei para ficar a conhecer melhor a Caponord, aproveitando para tirar algumas das fotos, que ilustram este artigo.



Não temos dúvida, é uma Aprilia, pois como tem sido hábito nos últimos modelos, a linguagem estilística provém da híper-desportiva RSV4 e isso faz-se sentir quase sempre na dianteira dos modelos da marca de Noale. 

Sem vê-la e sabendo disso, logo poderíamos ser levados a pensar que uma carenagem frontal com grandes semelhanças com a RSV4 (para não dizer igual) não iria ficar bem numa moto de “pernas arregaçadas”. Mas, estando a falar de uma moto italiana… muitos vão concordar comigo quando afirmo que em relação ao desenho de motos e automóveis, poucos são aqueles (muito poucos mesmo!) que conseguem “bater” os designers italianos 

E tal como também acontece, por exemplo com a SRV 850, a Caponord faz jus precisamente à genialidade dos seus criadores. 
Olhada seja de que ângulo for, somos sempre surpreendidos pelas suas linhas agressivas e ousadas, mas tão bem integradas num conjunto que consegue ser simultâneamente elegante e desportivo.

Noutros modelos, embirrei sempre com aquele pequeno guarda-lamas colocado junto à roda traseira. 
Na Caponord, gosto bastante da forma como foi incorporado na parte de trás da moto, onde fazendo pandã (“pendant”) com o enorme pneu (180/55 ZR 17) e a belíssima ponteira de escape, contribuem para o fantástico aspeto desta Aprilia.

A qualidade dos materiais usados e o cuidado posto na montagem dos diversos componentes desta moto, vem demonstrar que a marca de Noale tem estado bastante atenta aos comentários negativos efetuados por alguns proprietários e fãs da marca, queixando-se da falta de qualidade existente em alguns materiais assim como na sua montagem, o que se refletia depois na forma como as Aprilia “envelheciam” precocemente.

Felizmente isso já pertence ao passado e esta Caponord 1200, já com 7 mil km rodados, é a prova disso mesmo pois tanto em cidade e quando rodei durante alguns quilómetros por uma um estradão de terra batida, em bastante mau estado, revelou-se imune a ruídos parasitas ou queixumes de qualquer espécie. 



No entanto, deixem-me esclarecer já que esta moto não foi criada para fazer todo-o-terreno! 
Aliás, basta olhar para as dimensões das rodas e para o tipo de “sapatos” que usa, para percebermos imediatamente que a “guerra” desta “menina”, não é a terra, lama ou areia, mas sim alcatrão, de toda a espécie, perfeito e super-aderente ou cheio de crateras e escorregadio, sendo precisamente neste último onde ela faz toda a diferença contando com a ajuda de uma enorme parafernália eletrónica, possibilitando ao condutor, ajustá-la de forma perfeita ao seu estilo de condução, tipo de estrada que vai percorrer, tipo de aderência, se viaja sozinho ou acompanhado, com ou sem bagagem, etc.

Esmiuçando melhor, podemos dizer que nada lhe falta: 

ATC (Aprilia Traction Control) - Controlo de tração com 3 níveis possíveis de escolha, sendo o primeiro para condução em piso molhado ou escorregadio, o segundo para uso normal e o terceiro para condução desportiva. Este último, é pouco intrusivo quando praticamos uma condução mais empenhada, pois só atua mesmo nos limites. 
Existe também a possibilidade de desativar completamente o ATC, o que só aconselho a quem seja realmente “pro”, pois os 125 cv e o seu “disparo” ao mais pequeno toque no acelerador, a isso aconselham.
Comigo e depois de ter experimentar os três modos para “ver como era”, voltei a colocá-la no nível intermédio e foi assim que rodei quase sempre, durante esta viagem.

ABS – Nada a dizer o que é sempre bom! Intromete-se muito pouco nas travagens, mesmo quando abusamos e apenas entra em ação nos limites de uma condução (muito empenhada), ou quando o piso está realmente escorregadio. Basta dizer que os pneus desta Caponord já estavam no fim de vida e mesmo a abusar, só por um par de vezes é que senti o ABS a entrar em funcionamento, existindo um perfeito entrosamento entre este e o ATC, possibilitando viajar a velocidades mais elevadas de forma totalmente segura e descontraída. 

RBW (Ride by Wire) – Sendo a Aprilia pioneira no uso do sistema “Ride by Wire” é lógico que a Caponord não podia fugir à regra e também possibilita a escolha de três modos diferentes de gestão eletrónica do funcionamento do motor. 
Podemos optar pelos modos “Rain” (que disponibiliza apenas 100 cv), para uso em piso molhado ou escorregadio; “Touring” (125 cv) para uma condução normal e o modo “Sport” cuja entrega desses mesmos 125 cv aparece de forma mais incisiva e enérgica, o que significa uma subida mais rápida de rotações seja qual for a velocidade engrenada. 

APP (Aprilia Cruise Control) – Apenas na versão aqui em ensaio, a Travel Pack.

ADD (Aprilia Dynamic Damping) – Também em exclusivo na versão Travel Pack, temos o ADD, um novo sistema que permite ao condutor escolher a afinação do “setting” da suspensão, possibilitando 5 escolhas diferentes:

- Só condutor.

- Condutor e carga.

- Condutor e passageiro.

- Condutor, passageiro e carga.

- Automático (é o próprio sistema que avalia e escolhe a afinação da suspensão).

Além disto, o ADD reconhece e avalia a condução do condutor (aceleração do motor, abertura do punho do acelerador, travagem, etc., adaptando automaticamente e instantaneamente o equilíbrio e funcionamento das suspensões (Sachs).  


Foto Aprilia


No painel de instrumentos, totalmente digital, além da existência de informações sobre o funcionamento de todos os sistemas acima referidos, vamos encontrar no centro, o velocímetro, ladeado pelo indicador da temperatura do motor e da quantidade de combustível existente no depósito e por cima, a barra da escala do conta-rotações. 
De ambos os lados estão situadas as habituais luzes avisadoras, do “Neutral”, piscas, luzes, etc., ABS, EFI, óleo, etc.
Mas não é tudo, pois ainda disponibiliza informação sobre qual a velocidade engrenada, temperatura exterior, consumo médio e instantâneo, assim como a indicação de quantos km podemos percorrer com a gasolina existente no depósito.



O motor da Caponord, que é o mesmo da Dorso Duro, mas com uma gestão eletrónica ligeiramente diferente, adaptada para um uso mais estradista, tem dois cilindros, colocados num V a 90º, arrefecido por líquido, dupla árvore de cames á cabeça, 4 válvulas por cilindro. Com 1197 cc de cilindrada, debita 125 cv às 8250 rpm e um binário de 114,8 Nm às 6800 rpm. 

Claro que ao lermos estes valores ficamos logo com “nervoso miudinho” e mais ainda quando, colocamos a chave na posição “on” e carregamos no “start”.



Ao fazê-lo, dentro da garagem, só consegui pensar que aquele poderoso “trovejar” saído do escape da Caponord, que me “sacudia” e acordava (eram 7 horas da manhã!), só podia ser igual à ira de “Thor”, Deus da mitologia nórdica, associado aos trovões, relâmpagos e tempestades. Que som fantástico!

Deixo o motor a aquecer enquanto me equipo, sento-me na moto e reparo que o guiador parece muito grande, que vamos com os braços muito abertos, sensação que se desvanece por completo em andamento e que nem chega a incomodar quando circulamos em cidade no meio dos carros. 

Aproveito para colocar o para-brisa na sua posição mais elevada, o que é feito manualmente, em meia dúzia de segundos e estou pronto a seguir viagem tendo como destino Pedrogão Grande, onde iria juntar-me à caravana da Volta a Portugal em Scooter.

Engreno a primeira velocidade e ao contrário do que acontece em muitos motores em V, a embraiagem é leve e a caixa de acionamento muito preciso.

Começo a rodar e rapidamente se acende o primeiro led do indicador da temperatura e enquanto o segundo led não dá sinal de vida, circulo a baixa velocidade, saindo de Linda-a-Velha em direção à 2ª Circular, com tudo ainda muito calmo, pois ainda era bastante cedo.

Com o segundo led aceso e já na autoestrada em direção a Vila Franca de Xira, mudo para o modo Sport e…deixa cá dar umas reais aviadelas a uns quantos e acordar outros tantos! Em menos de nada, passei as Portagens de Alverca e ainda em muito menos, já estava a sair da autoestrada e a seguir em direção ao Porto Alto.

Algures ali a meio… olhei de soslaio para o painel de instrumentos e reparei que indicava 246… naaaa…. não podia ser a velocidade máxima da Caponord 1200, porque todos sabem que eu nunca passo dos 120 km/h! 



Volto a colocar o modo Touring, baixo o ritmo de viagem, pois além do trânsito ser intenso começo a encontrar, cada vez mais, camiões e tratores com atrelados, carregados de tomate. Mas isso até nem era mau, pois quanto mais ultrapassagens, maior é a diversão. Só que durante vários quilómetros e quanto mais me aproximava da fábrica onde iam descarregar o dito tomate, o alcatrão ia mudando de cor, tornando-se vermelho, devido à enorme quantidade de tomate que caía dos atrelados, transformando a estrada num autêntico ringue de patinagem!

Atenção redobrada – por diversas vezes preferi circular pela berma, do que pela estrada, tal o seu estado! – passo pela fábrica e finalmente o piso volta à sua cor e aderência normal e… é o regresso à brincadeira, que é como quem diz, ao gozo fantástico que proporcionado por esta moto:

 Uma, duas abaixo, ultrapassa, 4ª, 5ª, 6ª, reduz, 5ª, 4ª, 3ª trava, olha a curva, deita… deita, levanta, acelera, 4ª, 5ª, 6ª, calma vêm lá carros, ops, é agora, acelera e iuuuuuuuuuupiiiiiiiiiiiiiiiiiii, outra vez 4ª, 5ª 6ª; que gozo!

Toda a ciclística está à altura das performances deste motor. Mesmo em condução (bastante) agressiva, usando e abusando dos travões, nunca deram sinais de fraqueza. Travagens sempre certinha, sempre eficazes.

Para verem como é divertido conduzir esta Aprilia, posso dizer-vos que ia tão, mas tão entretido a “brincar” que quando dei conta, já tinha passado pela saída para a famosa ponte da Chamusca, local por onde queria passar! Ou seja, acabei por ter de continuar em frente e passar então para a outra margem do Tejo, junto à fábrica de papel, através da célebre ponte que esteve encerada e que agora, depois de devidamente remodelada, foi novamente aberta ao tráfego.
De constância a Abrantes foi mais um pulinho, onde abasteci. Feitas as contas a Caponord 1200 vinha a consumir 6,7 L de gasolina em cada 10 km percorridos quase sempre num ritmo bastante rápido, e com picos de “estupidamente” rápido!

Moto com depósito cheio e faltava encher o “meu”, que também fiz a seguir e rapidamente, pois sabia que a estrada que ligava Abrantes a Vila de Rei é daquelas para serem feitas com a "faca-nos-dentes"!
Capacete na “carola”, luvas calçadas, dedo no botão, lá começa de novo o “Thor” a vociferar, modo Sport e “bora” lá!

E... volto a referir que esta nova Caponord 1200, é das motos mais engraçadas, divertidas e seguras que alguma vez conduzi (e olhem que já conduzi algumas…). Para mim, mais impressionante ainda que a rapidez com que atinge velocidades (muito) elevadas ou a forma como curva, é a facilidade com que ela faz tudo isto... e bem!



Por razões óbvias não vou referir velocidades, mas posso dizer-vos que cheguei a Vila de Rei, em pouco tempo e mais uma paragem, desta vez numa fonte para matar a sede, pois neste dia fazia bastante calor. Enquanto ali estive e enquanto apreciava, mais uma vez, as linhas esculturais desta moto, aproveitei para refletir sobre o que eu gostava menos na Caponord 1200: 

- Gostei menos das vibrações que se sentem não só ao ralenti, mas quando circulamos a baixa velocidade, causado sobretudo pelo característico (nestes motores em V “bater” do motor, o que por vezes se torna desagradável. 
Sim, as relações de caixa, são perfeitas para uso em estrada mas algo menos adequadas, para um uso intensivo em cidade. 
Os “raport” da primeira e da segunda velocidade um nadinha mais curtos era o ideal.

- Quando a ventoinha entra em funcionamento, a zona das pernas entra em modo “sauna”, devido ao muito calor que ali chega.

- O sistema de abertura das malas laterais (que fazem parte do Pack Travel) não é dos mais ergonómicos, o que dificulta um pouco a sua utilização.

E… estava na hora de seguir em direção a Pedrogão Grande, ao encontro dos aventureiros do Clube Maxiscooters de Portugal.
Resolvi abastecer novamente para efetuar nova medição. Antes de voltar à estrada, baixei ligeiramente o para-brisa para apanhar mais ar fresco e lá fui eu, nas calmas, mesmo calmas, quase ao sabor do vento, a 80/90 km/hora, velocidades que iria repetir no regresso, até pelo menos Abrantes.







Em Pedrogão Grande, ainda tive tempo para dar umas voltinhas por ali, incluindo uma rápida visita à barragem do Cabril e depois, já integrado na caravana da Volta a Portugal e de barriga cheia, seguimos viagem em direção a Abrantes, mas sempre pela estrada Nacional 2 (N2), o que nos levou a viajar por locais que nem sabia que existiam. 



Páramos em Vila de Rei no Centro Geodésico de Portugal e voltámos a parar um pouco mais à frente para reabastecimento das scooters. Como tinha abastecido ainda há pouco tempo e como o ritmo de viagem era agora mais baixo, faria o regresso até Lisboa, sem ter necessidade de reabastecer. 
Com um depósito que albega 25 litros de gasolina (incluindo 5 de reserva), a autonomia é bastante satisfatória.

Os quilómetros foram passando e chegámos a Abrantes, onde me despedi da caravana e apontei a Caponord em direção a Lisboa, desta vez sem “falhar” a passagem pela Ponte da Chamusca. 



O regresso pouca história teve pois feito conduzindo de forma totalmente descontraída.
Chegado a Lisboa, nova medição e, 5,7 L de média, foi quanto a Caponord gastou no regresso, bastante razoável, se levarmos em conta a sua cilindrada e potência.

No dia seguinte, ao regressar a casa e depois de ter devolvido a moto à Luzeiro, cheguei à conclusão que a Aprilia Caponord 1200 é ideal para condutores já bastante experientes e que procuram uma moto que, sem ser desconfortável como uma RR, ou “pastelona” como uma GT, consiga ser um pouco de ambas e esta bela italiana consegue sê-lo, de forma bastante eficiente. 
Quando espicaçada, as suas performances e comportamento dinâmico pode surpreender algumas desportivas e o conforto, espaço de arrumação (nesta versão) e equipamento, por certo não a envergonharão quando em confronto com alguns modelos mais turísticos. 

E a diversão está sempre garantida!


Informação Técnica

Motor – V-Twin a 90º, 4 tempos, árvore de cames dupla, 4 válvulas, refrigeração líquida. 

Cilindrada – 1197 cc

Potência – 125 cv às 8250 rpm

Binário – 114,8 Nm às 6800 rpm

Travões 
Dianteiro – 2 Discos de 320 mm, Brembo 4 pinças radiais.
Traseiro – Disco 240 mm, Brembo 1 pistão 
(ABS e ATC)

Pneus
Dianteiro – 120/70 ZR 17
Traseiro – 180/55 ZR 17

Depósito de combustível – 24 L (incluindo 5 L reserva)

Peso – 228 kg

Agradecimento

Luzeiro

http://www.luzeiro.com.pt/

Avaliação

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Carlos Veiga (2013)


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