"OUTSIDER" a ter em conta!
Os automóveis construídos pelos fabricantes norte-americanos sempre foram considerados «outsiders» no exigente mercado europeu.
No entanto, existe uma marca, a Chrysler, que tem conseguido comercializar com sucesso na Europa alguns dos seus modelos mais emblemáticos. Não resistimos à tentação e fomos experimentar o topo de gama da marca: o Chrysler 300M.
O imenso território dos EUA é «cortado» em toda a sua extensão pelas famosas «highways».
Estas estradas de excelente piso, cujas retas quase infinitas fariam as delícias de qualquer «acelera» europeu, são percorridas diariamente por milhões de condutores norte-americanos.
Devido ao forte policiamento existente nestas vias e também, por que não dizê-lo, ao modo de vida do povo norte-americano ("the american way of life"), o código de estrada é escrupulosamente cumprido. Tal é evidente, por exemplo, na forma como são respeitados os limites de velocidade máxima permitidos por lei... e que diferem de estado para estado.
Por isso, apesar de equiparem os seus automóveis com motores de elevada cilindrada, os fabricantes norte-americanos sempre deram primazia ao espaço, ao conforto e ao bem-estar, em detrimento das performances e de uma maior dinâmica.
O Chrysler 300M, por exemplo, apesar de ter cinco metros de comprimento demonstra um comportamento referencial em determinadas circunstâncias, mas sobre isso falaremos mais adiante.
Primeiro, temos de referir o especto e a imponência deste automóvel. Partindo de uma frente baixa e esguia — cujo «olhar» agressivo «intimida» bastante quem assiste à sua aproximação através do espelho retrovisor —, a marca norte-americana soube como esbater essa mesma agressividade ao longo do veículo, desde a zona do habitáculo, desenhado segundo o conceito «cab forward» ("cabina avançada") até à traseira bojuda e algo elevada, cujo formato contribui para a grande capacidade de carga do 300M (530 litros).
Do muito equipamento posto à disposição do condutor e dos passageiros, sobressaem os confortáveis assentos de pele — sendo os da frente aquecidos e com a particularidade do assento recuar uns centímetros sempre que abrimos a porta do condutor, facilitando a entrada —, acabamentos em madeira de nogueira, ar condicionado automático, computador de bordo e um espetacular sistema de som Infinity.
A qualidade do material encontra-se ao nível do que é usado pelas marcas europeias que normalmente dominam este segmento do mercado automóvel.
O mesmo já não podemos dizer do rigor da montagem e dos acabamentos, nomeadamente na parte inferior do «tablier» e na bagageira.
No capítulo da segurança — cumprindo as rigorosas leis em vigor no seu país de origem — este Chrysler vem equipado com airbags frontais e laterais; volante construído em magnésio fundido (para uma melhor distribuição da força exercida pelas mãos do condutor em caso de acidente), travões de disco às quatro rodas, coadjuvados pelo ABS e pelo controle de tração. É de realçar também a existência de um sistema de segurança (obrigatório nos E.U.A.), que permite a abertura da mala pelo interior.
O motor da viatura ensaiada, um 6 cilindros em V de 2.736 cm3, debita 204 cv às 5.800 rpm (existe outra versão equipada com um V6 de 3.518 cm3 e que debita 252 cv às 6.400 rpm); juntamente com a excelente caixa automática de 4 velocidades — com sistema «Autostick», que permite a passagem manual das velocidades, como se de uma caixa sequencial se tratasse —, é um primor em suavidade, silêncio e facilidade de utilização.
Apesar de não estarmos perante um propulsor muito rápido em termos de arranque e de recuperações (não podemos esquecer os 1.700 kg de peso deste automóvel), este V6 privilegia sobretudo o rolamento em estrada e em autoestrada, conseguindo-se viajar no Chrysler 300M a velocidades de cruzeiro elevadas com toda a segurança, existindo sempre debaixo do pedal do acelerador aqueles «cavalitos» extra tão necessários para sairmos de alguma situação mais difícil.
Custando cerca de 51.000 €* e inserido no competitivo segmento de mercado das berlinas de luxo, normalmente feudo das marcas germânicas, o Chrysler 300M não tem tido a vida facilitada no nosso País, não estando habitualmente inserido na lista de escolhas de quem pretende adquirir um automóvel deste segmento.
É pena, porque estamos perante um automóvel bem construído, de especto imponente e cujo espaço disponível e conforto proporcionado a quem nele viaja é superior ao que é oferecido por grande parte dos seus rivais.
Sem dúvida, um «outsider» a ter em conta!
*Preço referente a 2002
Carlos Veiga (Ensaio realizado em Maio de 2002)
Fotos – Fernando Correia
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