21 de abril de 2015

Yamaha XV950 R - "Não é uma moto, é uma filosofia de vida!"



Penso que ninguém tem alguma dúvida em como a Yamaha é "Pro", na arte de bem construir motos "Custom". O melhor e mais famoso exemplo é a familia Virago, nas suas variadas cilindradas - 125, 250, 535 e 1100 - e mais recentemente as Dragstar. E de certa forma, apesar do óbvio distanciamento, também poderemos incluir neste grupo a lindíssima FZX 750 com o seu motor de 4 cilindros e 20 válvulas ou então a supersônica V Max. 

No entanto, para os fãs empedernidos da "old school" norte-americana, a Yamaha inovou ao apresentar a XV950, um verdadeiro "ferro", com aquela simplicidade que normalmente está adjacente a este tipo de motos. 
Mas, querendo ir um pouco mais longe e tentando assim cativar um maior número de clientes, mostrando que os trabalhos de casa foram bem-feitos, a Yamaha apresentou também a XV950 R que, ao contrário do que a letra R possa querer indicar - uma versão mais Racing -, a moto aqui em ensaio foge ligeiramente ao que está instituído ser uma moto do tipo Custom, aproximando-se mais do conceito "Bobber", um estilo de moto mais minimalista.



E o que é uma Bobber? - Perguntam vocês. Assim e muito rapidamente, podemos dizer que uma Bobber é uma moto despejada de tudo o que é supérfluo e até mais do que isso. Existem duas versões diferentes sobre o surgimento das Bobbers. 
Uma das versões diz-nos que este conceito de moto nasceu logo após o fim da Segunda Grande Guerra, com o regresso dos soldados norte-americanos a casa que, ávidos de voltarem a poder usufruir de tudo o que a vida lhes poderia oferecer e até na procura da adrenalina a que estavam habituados onde se inclui a velocidade (os pilotos-aviadores das mais famosas esquadras de aviação, sempre estiveram ligados ao mundo das motos), retiravam das suas motos - na sua maioria, as grandes e pesadas Indian e Harley-Davidson - tudo o que consideravam ser supérfluo e pesado, incluído proteções, guarda-lamas, etc.
Já a outra versão diz-nos que as bobbers apareceram nos anos cinquenta e a "culpa" é atribuída ao aparecimento no mercado das motos inglesas que eram, na sua grande maioria, mais leves e mais rápidas que as marcas americanas. Claro que a melhor forma de tornar as motos "caseiras" mais competitivas quando comparadas com as motos dos "bifes", era precisamente retirar tudo o que fosse peso desnecessário. Ou seja, duas versões diferentes para um mesmo fim: tornar as motos mais leves, maneáveis e mais velozes.




E é assim que aparece agora a XV950R que, apesar de não ser uma bobber, na verdadeira conceção da palavra, rapidamente pode ser transformada numa.


Estamos assim, perante uma moto cujas linhas gerais são simples, mas cuja construção levou em conta precisamente os fãs deste tipo de motos e que, de alguma forma, gostam de personalizar a sua montada seja, entregando-a aos cuidados de uma empresa especializada neste tipo de transformações ou então, arregaçando as mangas e deitando mãos à obra, na garagem lá de casa.
 Claro que nem sempre o resultado final é o melhor... mas isso já é outra conversa!

Voltando à XV950 R, tudo nela é simples e minimalista, incluindo o redondo painel de intrumentos que, quanto a mim, peca por ser totalmente digital. Ok, parte da informação até poderia ser digital, mas pelo menos o velocímetro deveria ser analógico, mais "retro". 



Agora mais que minimalistas, quase microscópicas, são as luzes de aviso o que causa alguns problemas na sua visualização, principalmente de dia. Por exemplo, a luz verde do ponto-morto praticamente deixa de se ver quando a luz do sol incide diretamente sobre o pequeno painel de instrumentos. 

Outra coisa que me faz confusão não apenas em relação à XV950 R mas no que diz respeito a quase todas as Custom, é o facto de os construtores continuarem a colocar as fechaduras da ignição e da trava da moto, junto da coluna da direção. Que coisa mais sem jeito o ter de me esticar todo e às apalpadelas, tentar acertar com a chave na fechadura. Ok, tem tudo a ver com o conceito, é "cool" mas não é nada prático!




Sentados na XV950 algo que também sobressai imediatamente é a posição de condução, mais concretamente, o posicionamento das peseiras do condutor que estão colocadas a "meio-termo", nem lá à frente como numa Custom nem cá mais atrás, como numa qualquer moto normal, numa óbvia piscadela de olho, ao conceito "bobber". Para a minha estatura (1,78 m) e devido a este posicionamento das peseiras, preferia que guiador estivesse ligeiramente mais perto de mim (bastavam 3 ou 4 centímetros), não obrigando a levar os braços tão esticados, o que tornaria a condução mais confortável. 

Também gostaria que a minha perna direita e em particular o joelho, não embirrasse constantemente com a caixa do filtro do ar. 



E falando em conforto, o que é proporcionado pelo, também minimalista, assento, até que é bastante aceitável, contribuindo para isso o material usado, uma pele do tipo camurça. Claro que não estamos perante uma "poltrona" como algumas Custom possuem, mas como sabemos neste tipo de moto, o estilo sobrepõe-se a tudo o resto.


 Todavia, a Yamaha fez quanto a mim uma jogada de mestre ao equipar esta versão R, com uns excelentes amortecedores do tipo "piggy back" que conseguem atenuar de forma bastante eficaz a maioria das pancadas secas que sentimos quando circulamos por mau piso. A suspensão dianteira, apesar de algo mole, também contribui para o conforto aliado a um bom comportamento, até em estradas de mau piso, transmitindo confiança ao condutor levando até que,  por vezes, faça esquecer o tipo de moto que estamos a conduzir. 
Só que rapidamente somos lembrados disso, pela cacofonia de ruídos e faíscas provenientes das peseiras que, com demasiada facilidade tocam no asfalto, limitando a diversão que a sua excelente maneabilidade poderia proporcionar.

E antes que me esqueça, tenho de comentar algo que me surpreendeu pela positiva, que poucas vezes é referido e que faz uma grande diferença quando conduzimos uma moto. Falo das manetes. Diz-me a experiência que, na grande maioria das motos deste tipo, Customs, Cruisers, Bobbers e afins, as manetes são quase sempre "gigantes" e por isso mesmo nem sempre de confortável utilização. No caso da XV950 R, as manetes além de terem umas dimensões absolutamente normais, ergonomicamente são perfeitas o que, coadjuvado pela leveza do acionamento do travão dianteiro e principalmente da embraiagem - inclusão de cineblocos de borracha no sistema de embraiagem - facilitam bastante a vida ao condutor, principalmente se for do sexo feminino.



E chegou o momento de darmos vida ao "V-Twin" (dois cilindros em V) um motor que possui 942 cc, debita 52,1 cv às 5500 rpm e um binário máximo de 79,5 Nm logo ali às 3000 rpm.
Ao ralenti as poucas vibrações que chegam até nós são propositadas, pois Custom que é Custom tem de vibrar. 
O condutor de uma moto deste tipo tem de sentir a subida e descida de cada um dos seus dois "canecos" no interior dos respetivos cilindros. 
Mesmo assim, as vibrações que chegam até nós estão sempre bastante filtradas e ao contrário do que acontece com algumas motos deste tipo (em algumas, as vibrações são tantas que rapidamente ficamos com as mãos e os braços completamente dormentes!), não incomodam, principalmente em andamento onde quase desaparecem. 




Além de achar que o escape desta moto não é particularmente bonito, também o som dele proveniente é demasiado contido, filtrado, para uma "Bobber Style". 
Americanizando a coisa, um "Piper" um pouco mais "loud", assentava-lhe que nem uma luva!

Tal como os números indicam, principalmente no que se refere ao binário, a XV950R, responde de forma imediata, logo a baixas rotações, mantendo-se bastante vigoroso, mesmo quando puxamos mais por uma mudança, aumentando rápidamente de velocidade só que, a total ausência de proteção aerodinâmica faz com que rodar acima dos 120 km/h, seja um verdadeiro martírio a não ser que lhe metam uma "marquise" à frente. 

Mas verdade seja dita, a maioria das pessoas que compram uma custom (ou "derivado"), não procura velocidade mas sim uma moto "diferente" que possua um motor vigoroso, sobretudo no arranque e nas recuperações mas que acima de tudo, se destaque da restante "fauna" motociclista. E é precisamente isso que encontramos nesta moto.



Como disse um amigo meu, quando viu esta Yamaha XV950R: "isto não é uma moto, é uma filosofia de vida!"


Especificações Técnicas
Motor - 2 cilindros em V, refrigerados por ar.
Cilindrada - 942 cc 
Potência - 52,1 cv às 5500 rpm.
Binário máximo - 79,5 Nm às 3000 rpm.
Alimentação - Injeção eletrónica
Transmissão - Embraiagem multidiscos; caixa de 5 velocidades; correia.
Suspensão
Dianteira - Forquilha telescópica (41 mm), curso 135 mm.
Traseira – Dois amortecedores “piggy back” com amortecimento regulável, curso 110 mm.
Travões
Dianteiro – Disco “Wave”(298 mm)
Traseiro – Disco “Wave”(298 mm)
Pneus
Dianteiro - 100/90-19M/C 57H 
Traseiro 150/80B16M/C 71H 
Chassis – Duplo Berço
Comprimento - 2.290 mm
Largura - 830 mm
Altura - 1.120 mm
Distância entre eixos - 1.570 mm
Altura do assento - 690 mm
Distância mínima ao solo - 130 mm
Depósito de combustível - 12 Litros
Depósito de óleo - 4,3 Litros
Peso (em ordem de marcha) - 251 kg

Avaliação Motor Atual
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Carlos Veiga (2015

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