Penso que ninguém tem alguma dúvida em como a Yamaha é "Pro", na arte de bem construir motos "Custom". O melhor e mais famoso exemplo é a familia Virago, nas suas variadas cilindradas - 125, 250, 535 e 1100 - e mais recentemente as Dragstar. E de certa forma, apesar do óbvio distanciamento, também poderemos incluir neste grupo a lindíssima FZX 750 com o seu motor de 4 cilindros e 20 válvulas ou então a supersônica V Max.
No entanto, para os fãs empedernidos da "old school" norte-americana, a Yamaha inovou ao apresentar a XV950, um verdadeiro "ferro", com aquela simplicidade que normalmente está adjacente a este tipo de motos.
Mas, querendo ir um pouco mais longe e tentando assim cativar um maior número de clientes, mostrando que os trabalhos de casa foram bem-feitos, a Yamaha apresentou também a XV950 R que, ao contrário do que a letra R possa querer indicar - uma versão mais Racing -, a moto aqui em ensaio foge ligeiramente ao que está instituído ser uma moto do tipo Custom, aproximando-se mais do conceito "Bobber", um estilo de moto mais minimalista.
E o que é uma Bobber? - Perguntam vocês. Assim e muito rapidamente, podemos dizer que uma Bobber é uma moto despejada de tudo o que é supérfluo e até mais do que isso. Existem duas versões diferentes sobre o surgimento das Bobbers.
Uma das versões diz-nos que este conceito de moto nasceu logo após o fim da Segunda Grande Guerra, com o regresso dos soldados norte-americanos a casa que, ávidos de voltarem a poder usufruir de tudo o que a vida lhes poderia oferecer e até na procura da adrenalina a que estavam habituados onde se inclui a velocidade (os pilotos-aviadores das mais famosas esquadras de aviação, sempre estiveram ligados ao mundo das motos), retiravam das suas motos - na sua maioria, as grandes e pesadas Indian e Harley-Davidson - tudo o que consideravam ser supérfluo e pesado, incluído proteções, guarda-lamas, etc.
Já a outra versão diz-nos que as bobbers apareceram nos anos cinquenta e a "culpa" é atribuída ao aparecimento no mercado das motos inglesas que eram, na sua grande maioria, mais leves e mais rápidas que as marcas americanas. Claro que a melhor forma de tornar as motos "caseiras" mais competitivas quando comparadas com as motos dos "bifes", era precisamente retirar tudo o que fosse peso desnecessário. Ou seja, duas versões diferentes para um mesmo fim: tornar as motos mais leves, maneáveis e mais velozes.
E é assim que aparece agora a XV950R que, apesar de não ser uma bobber, na verdadeira conceção da palavra, rapidamente pode ser transformada numa.
Claro que nem sempre o resultado final é o melhor... mas isso já é outra conversa!
Voltando à XV950 R, tudo nela é simples e minimalista, incluindo o redondo painel de intrumentos que, quanto a mim, peca por ser totalmente digital. Ok, parte da informação até poderia ser digital, mas pelo menos o velocímetro deveria ser analógico, mais "retro".
Agora mais que minimalistas, quase microscópicas, são as luzes de aviso o que causa alguns problemas na sua visualização, principalmente de dia. Por exemplo, a luz verde do ponto-morto praticamente deixa de se ver quando a luz do sol incide diretamente sobre o pequeno painel de instrumentos.
Outra coisa que me faz confusão não apenas em relação à XV950 R mas no que diz respeito a quase todas as Custom, é o facto de os construtores continuarem a colocar as fechaduras da ignição e da trava da moto, junto da coluna da direção. Que coisa mais sem jeito o ter de me esticar todo e às apalpadelas, tentar acertar com a chave na fechadura. Ok, tem tudo a ver com o conceito, é "cool" mas não é nada prático!
Sentados na XV950 algo que também sobressai imediatamente é a posição de condução, mais concretamente, o posicionamento das peseiras do condutor que estão colocadas a "meio-termo", nem lá à frente como numa Custom nem cá mais atrás, como numa qualquer moto normal, numa óbvia piscadela de olho, ao conceito "bobber". Para a minha estatura (1,78 m) e devido a este posicionamento das peseiras, preferia que guiador estivesse ligeiramente mais perto de mim (bastavam 3 ou 4 centímetros), não obrigando a levar os braços tão esticados, o que tornaria a condução mais confortável.
Também gostaria que a minha perna direita e em particular o joelho, não embirrasse constantemente com a caixa do filtro do ar.
E falando em conforto, o que é proporcionado pelo, também minimalista, assento, até que é bastante aceitável, contribuindo para isso o material usado, uma pele do tipo camurça. Claro que não estamos perante uma "poltrona" como algumas Custom possuem, mas como sabemos neste tipo de moto, o estilo sobrepõe-se a tudo o resto.
Todavia, a Yamaha fez quanto a mim uma jogada de mestre ao equipar esta versão R, com uns excelentes amortecedores do tipo "piggy back" que conseguem atenuar de forma bastante eficaz a maioria das pancadas secas que sentimos quando circulamos por mau piso. A suspensão dianteira, apesar de algo mole, também contribui para o conforto aliado a um bom comportamento, até em estradas de mau piso, transmitindo confiança ao condutor levando até que, por vezes, faça esquecer o tipo de moto que estamos a conduzir.
Só que rapidamente somos lembrados disso, pela cacofonia de ruídos e faíscas provenientes das peseiras que, com demasiada facilidade tocam no asfalto, limitando a diversão que a sua excelente maneabilidade poderia proporcionar.
E antes que me esqueça, tenho de comentar algo que me surpreendeu pela positiva, que poucas vezes é referido e que faz uma grande diferença quando conduzimos uma moto. Falo das manetes. Diz-me a experiência que, na grande maioria das motos deste tipo, Customs, Cruisers, Bobbers e afins, as manetes são quase sempre "gigantes" e por isso mesmo nem sempre de confortável utilização. No caso da XV950 R, as manetes além de terem umas dimensões absolutamente normais, ergonomicamente são perfeitas o que, coadjuvado pela leveza do acionamento do travão dianteiro e principalmente da embraiagem - inclusão de cineblocos de borracha no sistema de embraiagem - facilitam bastante a vida ao condutor, principalmente se for do sexo feminino.
E chegou o momento de darmos vida ao "V-Twin" (dois cilindros em V) um motor que possui 942 cc, debita 52,1 cv às 5500 rpm e um binário máximo de 79,5 Nm logo ali às 3000 rpm.
Ao ralenti as poucas vibrações que chegam até nós são propositadas, pois Custom que é Custom tem de vibrar.
O condutor de uma moto deste tipo tem de sentir a subida e descida de cada um dos seus dois "canecos" no interior dos respetivos cilindros.
Mesmo assim, as vibrações que chegam até nós estão sempre bastante filtradas e ao contrário do que acontece com algumas motos deste tipo (em algumas, as vibrações são tantas que rapidamente ficamos com as mãos e os braços completamente dormentes!), não incomodam, principalmente em andamento onde quase desaparecem.
Além de achar que o escape desta moto não é particularmente bonito, também o som dele proveniente é demasiado contido, filtrado, para uma "Bobber Style".
Americanizando a coisa, um "Piper" um pouco mais "loud", assentava-lhe que nem uma luva!
Tal como os números indicam, principalmente no que se refere ao binário, a XV950R, responde de forma imediata, logo a baixas rotações, mantendo-se bastante vigoroso, mesmo quando puxamos mais por uma mudança, aumentando rápidamente de velocidade só que, a total ausência de proteção aerodinâmica faz com que rodar acima dos 120 km/h, seja um verdadeiro martírio a não ser que lhe metam uma "marquise" à frente.
Mas verdade seja dita, a maioria das pessoas que compram uma custom (ou "derivado"), não procura velocidade mas sim uma moto "diferente" que possua um motor vigoroso, sobretudo no arranque e nas recuperações mas que acima de tudo, se destaque da restante "fauna" motociclista. E é precisamente isso que encontramos nesta moto.
Como disse um amigo meu, quando viu esta Yamaha XV950R: "isto não é uma moto, é uma filosofia de vida!"
Especificações Técnicas
Motor - 2 cilindros em V, refrigerados por ar.
Cilindrada - 942 cc
Potência - 52,1 cv às 5500 rpm.
Binário máximo - 79,5 Nm às 3000 rpm.
Alimentação - Injeção eletrónica
Transmissão - Embraiagem multidiscos; caixa de 5 velocidades; correia.
Suspensão
Dianteira - Forquilha telescópica (41 mm), curso 135 mm.
Traseira – Dois amortecedores “piggy back” com amortecimento regulável, curso 110 mm.
Travões
Dianteiro – Disco “Wave”(298 mm)
Traseiro – Disco “Wave”(298 mm)
Pneus
Dianteiro - 100/90-19M/C 57H
Traseiro 150/80B16M/C 71H
Chassis – Duplo Berço
Comprimento - 2.290 mm
Largura - 830 mm
Altura - 1.120 mm
Distância entre eixos - 1.570 mm
Altura do assento - 690 mm
Distância mínima ao solo - 130 mm
Depósito de combustível - 12 Litros
Depósito de óleo - 4,3 Litros
Peso (em ordem de marcha) - 251 kg
Avaliação Motor Atual
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Avaliação Motor Atual
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Carlos Veiga (2015
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