Um compêndio de tecnologia em prol da máxima eficácia e prazer de condução!
Desde o dia em que se fez o agendamento para testar o novo Honda Civic Type R – com mais de três meses de antecedência, tal era o tamanho da lista de espera –, para mim os dias passaram a ter mais do que 24 horas e as semanas mais de sete dias, tal era o grau de ansiedade e expetativa em relação a este automóvel, principalmente depois de ter visto o vídeo sobre a voltinha efetuada ao circuito de Nürburgring, onde passou a ser o mais rápido automóvel de série de tração dianteira, com um fantástico tempo de 7 minutos, 50 segundos e 63 centésimos!
No meu "disco rígido", estão gravadas as memórias dos diversos testes efetuados com esta geração do Civic tanto na versão 5 portas, como com a Tourer sendo, sem dúvida alguma, no segmento B, um dos meus automóveis preferidos.
Claro que na véspera mal dormi, tal era o grau de expetativa e excitação. Levantei-me cedo (muito cedo!) e enquanto fazia tempo para ir levantar o carro às instalações da Honda, na Abrunheira, dei uma vista de olhos no teste que tinha feito em 2001 (já lá vão 15 anos!) ao Type R "EP3" (http://motoratual.blogspot.pt/2015/12/nostalgia-honda-civic-type-r-ep3.html), talvez tentando relembrar as sensações que, na altura, me tinha transmitido.
Algo de que não me esqueci durante os dias em que rodei com o novo Type R, foi a frase que o Carlos Cerqueira – responsável pela Comunicação e Relações Públicas da Honda em Portugal – disse, quando me entregou a chave do carro: "Carlos, hoje levas um carro muito especial".
E tinha toda a razão!
O novo Honda Civic Type R é "como o algodão, não engana"! Quero com isto dizer que basta olhar para este automóvel para percebermos que estamos perante um Civic muito, muito especial, tais são as diferenças em relação ao modelo "normal".
Tudo aquilo que vemos neste Honda desde os alargamentos, as entradas de ar, os diversos "spoilers", o difusor traseiro e o "estrondoso" aileron traseiro não servem apenas para enfeitar, ao contrário de muitos automóveis "desportivos"que dão aquele ar de "tuning" que tantos apreciam. Não meus caros, tudo o que diferencia o Type R de um Civic "civil", está ali porque simplesmente têm de estar e sem esta parafernália de apetrechos aerodinâmicos, este automóvel, como veremos mais à frente, não seria o que é!
Foram praticamente cinco anos, o tempo que levou a gestação da nova geração do Type R. Durante todo este tempo, foi sendo desenvolvido tanto no túnel de vento da HRD (Honda Racing Development) em Sakura no Japão – onde está ser levado a cabo todo o programa de desenvolvimento do motor de F1 da marca nipónica –, como testado exaustivamente em diversas pistas de todo o mundo, incluindo o Circuito de Suzuka e a já referida pista de Nurburgring Nordschleife, na Alemanha.
Mostrando que a eficácia de funcionamento e o design desportivo conseguem andar de "mãos dadas", a avantajada "asa" traseira, além de dar aquele "toque" especial ao desenho deste Civic, é peça fundamental quando conduzimos o Type R de forma... "Hard Core", melhorando substancialmente o comportamento do carro principalmente quando curvamos a alta velocidade.
Também as "guelras" laterais, situadas logo acima e atrás das cavas das rodas dianteiras - que, tal como as traseiras foram alargadas em relação ao Civic "normal" por causa do aumento da distância entre vias e dimensões das rodas - , além de contribuírem para o visual agressivo do carro, tem funções importantes tanto no que diz respeito ao arrefecimento dos travões como na canalização para o exterior dos diversos fluxos de ar quente, provenientes da "casa das máquinas", contribuindo dessa forma para um melhor arrefecimento do motor.
E que motor!
Dócil, suave, progressivo, generoso, esmagador, brutal, letal, monstruoso, arrebatador. apaixonante. orgásmico... poderia passar aqui o dia a debitar adjetivos atrás de adjetivos, numa tentativa de vos transmitir as sensações únicas que são vividas a bordo do Honda Civic Type R, tanto pelos passageiros, mas principalmente por quem vai sentado atrás do volante mas, tudo o que possa descrever, será pouco!
Construído de raiz e mostrando o quanto é especial através da tampa das válvulas em cor vermelha e do coletor de admissão (os mesmos componentes que equipam os Civic que participaram no campeonato WTCC de 2015), este motor de 4 cilindros e 1996 cc), debita números impressionantes, logo a começar pela generosa "ganadaria" de 310 cavalos que debitam a sua potência máxima às 6500 rpm ou ainda mais impressionante, os 400 Nm de binário máximo, disponíveis praticamente ao primeiro toque do pé no acelerador, logo ali às 2500 rpm!
Para conseguir tais valores e prestações, os técnicos da Honda fizeram algo inédito. Juntaram ao já famoso e, porque não dizê-lo com toda a frontalidade, lendário Sistema VTEC ( Sistema de Controlo Eletrónico de Comando e Abertura das Válvulas) e também ao VTC (Comando Variável da Distribuição), um turbo-compressor de nova geração, de pequenas dimensões e bastante mais leve que os usados pela concorrência.
Conta também com um novo sistema de injeção direta de controlo multiponto e injetores de alta pressão, resultando numa melhoria de 85% (!) na relação do caudal e de 45% na pressão do combustível, quando comparado com um sistema convencional, o que melhora substancialmente a entrega da potência, diminuindo ao mesmo tempo os consumos e as emissões de gases, estando em conformidade com a norma "Euro 6".
Assim, toda esta parafernália tecnológica a trabalhar em conjunto, o que nos oferece? Um turbo que fomenta um comportamento exemplar logo ali a baixas rotações, fornecendo depois uma ajuda extra ao sistema VTEC na transição de rotações e depois, bem... até ao red line, é puro prazer!
Algo tão simples e banal como ligar o motor de um automóvel, neste caso passa a ser um momento algo solene e inolvidável: pé na embraiagem, um toque no botão do Start, situado logo ali no lado do volante... um pequeno hiato de silêncio e eis que chega até nós um ronco forte e algo cavernoso mas mesmo assim contido (pelo menos ao ralenti...), ronco esse que é proveniente das 4 "bufadeiras", situadas duas a duas, de cada lado do difusor traseiro.
Ainda nas instalações da Honda na Abrunheira, enquanto deixo os 4 cilindros aquecerem e procuro a minha posição de condução, ajustando a magnífica baquet onde fico bem encaixado, não deixo de comparar este Civic "especial", com os outros (e já foram alguns!) Civic "normais" que passaram pelas minhas mãos.
Sim, sem dúvida, é um Honda Civic até mesmo na dificuldade em encontrar uma posição de condução que, sendo a correta para mim, não faça com que o aro do guiador tape o velocímetro digital. Também permanece a fraca qualidade de alguns dos plásticos das portas e zonas inferiores do habitáculo.
No entanto, as sensações que chegam até nós e o ambiente que se vive a bordo é muito, mas mesmo muito diferente e essas diferenças, são logo transmitidas pela perfeita posição de condução (esquecendo um pouco o marcador de velocidade) proporcionada pelas já referidas baquets – forradas a camurça vermelha, contrastando com a pele negra que reveste as laterais, com o logo "Type R", centralizado.
Também o volante é forrado a pele com costuras duplas vermelhas, formato plano na zona inferior e marcador vermelho no topo, mais o seletor da caixa de velocidades – com um curso de apenas 40 mm, o mesmo do NSX-R de 2002! – que tal como os pedais é de alumínio, contribuem para essa envolvência diferente e (bastante) mais desportiva.
Mas há mais! O conjunto dos bancos traseiros também foi redesenhado especialmente para serem usados apenas por duas pessoas. Embora a função de rebatimento da base dos bancos não esteja incluída, o encosto continua a poder ser rebatido numa divisão 60/40, oferecendo uma bagageira de piso plano, poupando 17% no peso, quando comparado com a versão "normal" do Civic de 5 portas, mantendo no entanto, a mesma capacidade de carga, o que é excelente.
E.. temos ali do lado esquerdo do volante, um botão muito especial, com a designação +R. Para que servirá? Calma, já lá iremos, mas convém referir que carregando neste botão, temos acesso, no ecrã Multi-informações inteligente (i-MID) a uma panóplia de novas informações, inerentes ao modo de condução +R e que são:
- Indicador de aceleração G.
- Indicador da pressão dos travões/posição do pedal do acelerador.
- Indicador da pressão do turbo-compressor, da temperatura da água e da pressão e temperatura do óleo.
- Tempos por volta.
- Tempos de aceleração, 0-100 km/h.
- Tempos de aceleração (0-100 m ou 0-1/4 de milha).
E por cima do conta rotações, temos, tal como acontece no Civic de competição, um conjunto de luzinhas que, convergindo para o centro, indicam-nos a altura ideal para passarmos de caixa, para quando nos queremos armar em "Tiago Monteiro".
Já em andamento e mesmo rodando nas calmas no IC19, a adrenalina vai subindo, conforme me vou habituando ao comportamento do Type R. Passar a caixa é algo que me leva a recordar a altura em que testei o fantástico Honda S2000. As sensações são praticamente as mesmas: seletor de curso muito curto e preciso e com aquele "toque" mecânico, de que tanto gosto.
Este Civic "especial de corrida", também está equipado com o sistema de travagem ativa em cidade (CTBA), concebido para ajudar nas "distrações", evitando ou pelo menos amenizando, as consequências dos acidentes a baixa velocidade, funcionando através da tecnologia de radar que faz a leitura da estrada à frente do carro. Caso detete o perigo de uma colisão iminente, aplica automaticamente os travões, funcionando apenas a velocidades inferiores a 32 km/h.
Deixo o IC19 ali na zona de Queluz de Baixo e, eis que chegam as primeiras curvas, que faço num ritmo perfeitamente tranquilo... para o Type R pois, noutro automóvel, ainda mais puxando à frente, seria a razão para me aplicar a fundo impedindo que me atirasse para fora de estrada. Mesmo neste ritmo, volto a dizer, tranquilo, começo a sentir o seu comportamento, agarrado à estrada que nem uma lapa e sem o mínimo de adorno.
Ok, cheguei a casa e vou ter de deixar as "brincadeiras" para outro dia, devido a afazeres profissionais. E foram esses mesmo afazeres profissionais que me levaram no dia seguinte, a rodar de forma intensiva, em Lisboa, principalmente na zona da baixa, percorrendo as avenidas da República, Liberdade e Almirante Reis, passando também pelo Martim Moniz, Praça da Figueira, Rossio, etc, usando o Type R como usaria o meu carro e... cheguei a algumas conclusões:
1º Conclusão - Ninguém consegue passar despercebido a bordo deste automóvel!
Seja enfiado no meio de uma imensa fila de trânsito, a rodar numa avenida, parado num semáforo, ou simplesmente estacionado numa qualquer artéria da capital, todos os olhares, mesmo de quem, em principio, não se interessa minimamente por automóveis, vão ter às linhas desportivas e agressivas desta "bomba".
Muitas fotos e selfies foram tiradas durante a semana em que tive na minha posse este Honda, em todo o lado, em andamento ou parado.
2º Conclusão - Conduz-se no dia a dia (quase) como qualquer outro Honda. Isto é, se conseguirmos conduzi-lo como um automóvel normal pois é difícil resistir aos seus "encantos"! A posição de condução, o volante, o toque único na caixa de velocidades e o som... o som, que mesmo num andamento lento é provocante, incitando sempre a que puxemos por ele é algo a que, quem realmente gosta de automóveis, não consegue resistir!
Eu não consigo!
3ª Conclusão – Sim, é duro! Podia estar aqui a embelezar a coisa mas o Type R é um automóvel rijo e só podia ser assim, visto que é um desportivo e apenas e só, o automóvel de série de tração dianteira, mais rápido do mundo! E para conseguir tal prestação... tem de ser duro, rijo.
No entanto, conseguimos conviver perfeitamente com ele no dia a dia, desde que tenhamos os devidos cuidados. Cuidado principalmente a estacionar senão, rapidamente irão ver (e sentir!) o avantajado para-choques frontal a "beijar" os passeios.
E... se querem saber como se sente uma peça de roupa dentro de uma máquina de lavar roupa no programa de centrifugação, entrem na Praça da Figueira, vindos do Martim Moniz e depois vão em direção à Av. da Liberdade.
Na Praça da Figueira e no Rossio, onde o piso empedrado está bastante degradado somos, o Type R e nós, violentamente sacudidos, o que nos obriga a passar muito devagar, mais lento que a maioria dos carros que nos rodeiam... deixando assim que, quem vai a bordo destes, se deliciem com a vista... e tirem todas as fotos!
Se é assim no modo Normal, imaginem como não será no modo +R. Nem me arrisquei a experimentar!
4ª e última conclusão – Apesar dos 310 cv e de todo o poderio que temos neste automóvel e, como já referi, é (quase) impossível resistir, durante as diversas voltas que efetuei por Lisboa, com várias paragens e trânsito intenso e... sem conseguir resistir a fazer um ou dois arranques (ok, confesso, foram mais que dois... ou três... ou quatro..ou...) mais "vigorosos", o computador indicou um consumo de 9,3 litros, o que considero ser um consumo muito simpático para um desportivo desta estirpe. O que apenas vem dar razão aos engenheiros da Honda que, ao incluírem o conhecido sistema "Idling Stop", conseguem diminuir o consumo de combustível em circuito urbano. E sem os tais arranques... acredito que facilmente os consumos entrem na casa dos oito litros.
Quando se roda com o modo +R ativado, o "Idling Stop" é desativado automaticamente.
Depois de ter rezado a S. Pedro e a todos os santinhos para que a chuva não estragasse o dia que estava destinado a, finalmente, testar como deve ser o Honda Civic Type R, chegámos ao sábado e somos brindados com um amanhecer magnifico, o sol a brilhar em todo o seu esplendor e as nuvens escuras a emigrarem para outros locais! Maravilha! O São Pedro é, sem dúvida alguma, fã de automóveis especiais, como este Honda!
Antes de fazer-me à estrada, uma rápida passagem pela estação de serviço para atestar o "bicho" e mais uma agradável surpresa: o Type R, apesar da sua mecânica muito especial, pode ser abastecido com gasolina normal de 95 octanas, tal como está indicado no seu manual de instruções.
Naaaa... como sempre faço, tratando os automóveis (e motos) de teste como trato os meus próprios veículos, cuido do Type R como se fosse meu e atesto o seu "bandulho" com gasolina da boa, de 98 octanas pois não quero que nenhum dos seus 310 cavalinhos sofra de alguma "gastroenterite" ou coisa parecida.
Alimentação saudável para um desportista nato, pois claro!
A parte inicial da viagem, que teria como destino final o Pico da Melriça, junto de Vila de Rei, onde se encontra o Ponto Geodésico que define o centro de Portugal e que, depois nos levaria até à "autobahn" particular" do Motor Atual, foi efetuada por autoestrada e num ritmo (quase) normal podendo desta forma, apreciar o comportamento do Type R com quatro pessoas a bordo. Nestas condições, posso dizer que podemos usar este automóvel ,tal como usaríamos qualquer outro Civic.
De forma a ficarem com uma ideia das capacidades do seu propulsor, digo-vos que permite que rodemos a 60 km/h em sexta velocidade, sem qualquer tipo de queixume e carregando no pedal mais à direita... "Balhamedeus"!
Não foi nada fácil para mim efetuar os testes de consumos. Conduzir num andamento moderado/económico durante algumas dezenas de quilómetros, enquanto ouvimos constantemente o "relinchar" provocatório das mais de três centenas de "cavalinhos" sempre prontos a entrar num galope desenfreado a qualquer momento, é puro sofrimento.
Mas tinha de ser e fica a prova que num automóvel destes é possível ver marcados no computador de bordo consumos na ordem dos 6,7 litros.
Numa breve paragem efetuada em Torres Novas, um simpático casal que tinha levantado na véspera um novíssimo Civic 1.6 i-DTEC, branquinho, aproximou-se para ver o Type R e... tirar a respetiva foto.
Seja onde for, é impossível passar despercebido quando se conduz este automóvel.
Almoço em Vila do Rei, fotos aqui, fotos ali e seguimos em direção a Ferreira do Zêzere por uma estrada que desconhecia mas da qual fiquei fã, tanto pelas paisagens e qualidade do piso, como pela quantidade de curvas para todos os gostos e também por ter pouco ou nenhum trânsito.
Claro que foi a altura para provocar o Honda Civic Type R colocando-o à prova!
Acionar o Modo +R, adoptar uma posição de condução menos descontraída e mais de "ataque" e, vamos lá, mas sem exageros pois segunda feira, tenho de devolvê-lo inteiro...
"Vai ficar com os cabelos em pé. O seu coração vai disparar. O novo Civic Type R é um automóvel de competição feroz adaptado para a estrada." - é o que se pode ler no site da Honda em relação a este automóvel! E eu acrescento, mais um adjetivo: fulminante!
Segundo o Priberam, fulminante significa:
Adjectivo de dois géneros.
- Que lança coriscos ou raios.
- Que mata instantaneamente.
- [Figurado] Arrebatado (por paixão violenta).
- Terrível, cruel.
"Que lança raios e coriscos"? Sem dúvida! Basta ouvir o troar dos escapes!
"Que mata instantaneamente"? Sem dúvida! Ainda hoje, ali para os lados de Ferreira do Zêzere, um certo rapazito a bordo de um Clio branco, deve estar para saber como é que aquele Honda "matou" cinco de uma só vez, enquanto ele apenas conseguiu ultrapassar um!
"Arrebatado (por paixão violenta)"? Sem dúvida! Fiquei!
"Terrível, cruel"? Sem dúvida! Para todos aqueles que teimem em defrontá-lo!
E como é que a Honda, além da criação de tão fantástico motor e de todo o trabalho efetuado ao nível da aerodinâmica, conseguiu que um Civic se transformasse, neste arma letal que é o Type-R?
Comecemos pela suspensão:
Na dianteira temos um sistema de suspensão MacPherson de duplo eixo, evoluído pela própria Honda que, consegue aliar uma melhor estabilidade a alta velocidade com uma grande capacidade de curvar no limite, sem que se perca a sensibilidade da direcção.
Tanto os braços inferiores da direção, como as forquilhas dos amortecedores são de alumínio, o que garante ao mesmo tempo uma maior rigidez e resistência e um menor peso.
A suspensão traseira possui uma barra de torção (em H) que melhora a estabilidade a alta velocidade, maximizando a rigidez de rolamento. Ao contrário do Civic "civil", a barra de torção em H do Type R é feita de tubos prensados em vez de um bloco sólido, o que melhora a rigidez de rolamento da traseira em 177%. Que diferença!
Voltando a falar na redução de peso, algo que é muito importante num automóvel com estas características, a aplicação de materiais adesivos em vez de materiais estruturais adicionais em aço permitiu aumentar a rigidez em 18%, poupando ao mesmo tempo 4,5 quilos.
Quanto aos amortecedores, estes são "adaptáveis" o que significa que limitam a transferência de peso para a traseira durante a aceleração, evitando o levantamento da frente do carro e também na desaceleração/travagem, quando o eixo dianteiro é sobrecarregado com peso, diminuindo o abaixamento da frente o que, tanto melhora a tração no arranque e nas saídas das curvas, como também maximiza a potência e eficácia dos travões nas desacelerações/travagens.
Os amortecedores "adaptáveis", também contribuem para uma condução mais estável e isenta de oscilações a alta velocidade, mesmo quando somos "sovados" por fortes ventos laterais.
E, como os técnicos da Honda chegaram à conclusão que não existia no mercado pneus adequados às características muito especiais deste automóvel - suficientemente duráveis para um uso diário mas oferecendo ao mesmo tempo, um comportamento irrepreensível quando usados nos limites – contaram com a ajuda da Continental para a criação de um pneu com as medidas 235/35 R19, desenvolvido especificamente para o Type R.
Como automóvel que anda (muito!) também tem de travar (muito!), o condutor tem à sua disposição um sistema de travagem da Brembo composto por discos perfurados de 350 mm (!) mordidos por pinças de 4 embolos na frente. Já os discos traseiros, são maiores 20 mm em comparação com os do Civic "normal", tanto no diâmetro como na espessura.
E depois temos ali mesmo à mão de semear, do lado esquerdo do volante, o botão "mágico, o +R que transforma, ainda mais, este automóvel numa máquina diabólica e que apenas deve ser accionado quando, quem vai ao volante, sabe realmente o que vai a fazer. Não basta apenas saber fazer um automóvel andar. Tem de se possuir já dotes de pilotagem e acima de tudo saber o que se faz! É mesmo assim, pois, carregando no +R, o Type R transfigura-se, tal e qual como no filme "O Estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde" onde, a personagem principal, interpretada pelo actor Spencer Tracy, se transfigurava por completo ao beber uma poção por ele inventada.
Visualmente, ao acionarmos o +R, no painel de instrumentos, as molduras dos mostradores ficam vermelhas e o logótipo +R acende à esquerda do conta rotações.
No ecrã digital situado à frente do condutor, aparece a silhueta do carro envolvida por uma auréola vermelha que desaparece lentamente, indicando que a partir daquele momento, este automóvel se transformou em algo muito especial.
Tudo se transforma, até mesmo a dureza (já de si bastante dura) das suspensões que aumenta uns significativos 30%!
A direção fica mais pesada e com menos assistência, fazendo uma leitura irrepreensível do que se passa lá à frente.
A resposta do motor fica ainda mais agressiva, com uma maior entrega de binário nas baixas rotações, perfeito para que as saídas das curvas sejam efetuadas de forma ainda mais rápida, chegado a velocidades "estratosféricas" o mais rapidamente possível.
Claro que tudo isto tem um contra e esse contra é precisamente no que diz respeito ao uso deste botão mágico, que deve ser efetuado apenas e só quando temos à nossa disposição uma pista ou, pelo menos, um trecho de estrada com um piso verdadeiramente imaculado pois, caso contrário, não conseguimos retirar do Type R tudo o que ele tem para oferecer. E o exemplo disso é que depois de ter experimentado o modo +R, retirei sempre maior prazer de condução no modo "Normal".
Em estradas "normais" o uso do +R torna-se inadequado e mais vale poupá-lo para aquela ida à pista (num track day, por exemplo) ou para aquela estradinha "maravilha", perdida algures no meio de uma serra, do que usá-lo apenas porque sim. Vão por mim, "guardem" o +R para aqueles momentos especiais, pois o Honda Civic Type R no modo "normal", logo mais confortável e não tão saltarico, oferece-nos prestações avassaladoras seja onde for (retas, curvas, semáforos, autoestradas, ...) e, por isso mesmo e voltando a referir, deve ser conduzido com muito juizinho pois quando carregamos no acelerador, seja em que mudança for... tudo o resto fica para trás!
Claro que estes andamentos têm os seus custos que é o mesmo que dizer que andar desta forma "custou-me" mais de 16 litros aos cem!
A forma como o Type R curva nos limites é completamente louca! É nestas condições que percebemos a razão de tantos apêndices aerodinâmicos, pois sente-se que tudo ali funciona em prol da máxima eficácia.
Sendo um "puxa-à-frente", a forma como (quase) nunca existem perdas de tração (excelente o diferencial mecânico) demonstra porque razão é que a largura entre rodas no eixo dianteiro é maior do que na traseira, uma mais valia quando queremos colocar os 310 cv no chão!
Magnífico!
Comentário Motor Atual - O que interessa que seja demasiado duro em alguns pisos ou que, mesmo sentado na excelente bacquet, o condutor veja o indicador da velocidade ser em parte, tapado pelo aro do volante ou até que alguns plásticos sejam de menor qualidade, quando temos à nossa disposição uma máquina que faz dos zero aos cem em apenas 5,7 segundos e atinge a velocidade máxima (limitada) de 270 km/h?
Mas, vão por mim pois este Honda é muito mais que isso.
No que diz respeito à entrega e disponibilidade da potência do motor que, em "parceria" com todas as transformações efetuadas em relação à versão "civil", o transformam no mais rápido tração dianteira do mercado, o Honda Civic Type R é simplesmente um compêndio de tecnologia em prol da máxima eficácia e prazer de condução!
Que bem que ficava na minha garagem!
- Fatores Positivos -
- "Fator" Type R: basta ver a sigla Type R num Honda para sabermos que é especial. Neste caso, é o mais especial fabricado até hoje!
- "Fator" Type R: basta ver a sigla Type R num Honda para sabermos que é especial. Neste caso, é o mais especial fabricado até hoje!
- Design: agressivo e até.. espampanante. No entanto e apesar de não ser fã de "tuning", confesso que fiquei completamente rendido, apaixonado, por este automóvel.
- Equipamento: a unidade aqui em teste estava equipada com o "Pack GT" que acrescenta à versão "normal" do Type R um rol imenso de equipamento que vale bem o que tem de se pagar a mais em relação à versão "básica".
- Motor: o coração deste automóvel, generoso e fulminante, proporcionando sensações diversas e repartidas entre a entrega de potência a baixa rotação e as prestações demoníacas, assim que o ponteiro do conta rotações sobe acima das 2500 rpm.
- Caixa de velocidades: dizer que faz lembrar o S2000, penso que diz tudo!
- Som: em qualquer regime de rotação, desde o ralenti, até ao red line, pura música para os nossos ouvidos!
- Comportamento: para um tração à frente, penso que dificilmente se conseguirá fazer melhor, sem que se torne demasiado selvagem para ser usado no dia a dia.
- Performances: muito juizinho, isto é, se não quiserem ficar rapidamente sem carta, pois atinge velocidades (muito) acima dos limites legais de velocidade, mais rapidamente do que o tempo que levam a ler este parágrafo!
- Preço: na minha opinião, os 43,280 € pedidos pelo Type R (equipado com o Pack GT), são uma autêntica pechincha, levando em conta tudo o que este soberbo automóvel nos oferece!
- Fatores Negativos -
- Não ser meu!
O Honda Civic Type R aqui em teste está equipado com o Pack GT que inclui:
- Apontamentos a vermelho nos difusores dianteiro e traseiro;
- Sensores dianteiros e traseiros de estacionamento;
- Faróis com sensor de luminosidade;
- Limpa-vidros automáticos com sensor de chuva;
- Espelhos retrovisores exteriores de funcionamento eléctrico com rebatimento;
- Cruise Control;
- Sistema de GPS da Garmin (incluindo quatro anos de actualizações gratuitas dos mapas);
- Sistema de som "Premium" com oito altifalantes e 320 watt;
- Ar condicionado automático de controlo da climatização, de dupla zona;
- Iluminação ambiente a vermelho.
Sistema de Assistência à Condução que inclui:
- Avisador de Colisão à Frente;
- Avisador de Saída da Faixa de Rodagem;
- Sistema de Suporte dos Máximos;
- Informação de Ângulo Morto;
- Monitor de Trânsito Lateral;
- Sistema de Reconhecimento de Sinalização de Trânsito;
- Limitador Inteligente da Velocidade.
Curiosidade - O protótipo do Civic Type R registou um tempo record para veículos de tracção dianteira, no circuito de Nürburgring, durante o programa de desenvolvimento e de testes.
Um Civic Type R de pré-produção obteve um tempo de 7 minutos e 50,63 segundos numa volta ao circuito de 20,8 km de Nürburgring Nordschleife, na Alemanha. Este tempo por volta foi conseguido durante a fase final dos testes de pré-produção realizados em Maio de 2014.
O Type R, estava equipada com um motor com afinações standard. As suspensões, a transmissão, o escape, os travões e a aerodinâmica da carroçaria eram idênticos aos que agora equipam o Civic Type R de produção.
A eliminação de equipamentos tais como o ar condicionado, o banco do passageiro dianteiro e o sistema de áudio permitiu retirar peso, compensando assim o peso extra da célula de segurança integral do veículo ( vulgo, "santo antónio") que estava montado, por motivos de segurança, no carro de testes que bateu o recorde.
Durante os testes, o carro de produção estava equipado com jantes de liga leve de 19 polegadas já com especificação de produção. Estas jantes estavam "calçadas" com pneus de estrada (e não de competição, como alguns dos seus mais diretos rivais usaram, quando também testaram neste mesmo circuito!) de tamanho 235/35R19, desenvolvidos em conjunto com a Continental especialmente para o novo Civic Type R.
Especificações Técnicas
Motor – 4 cilindros, 4 válvulas por cilindros, comando por corrente DOHC.
Cilindrada – 1996 cc.
Potência – 310 cv às 6500 rpm.
Binário – 400 Nm entre as 2500 e as 6500 rpm.
Performances
Velocidade máxima – 270 km/h (limitada).
0 aos 100 km/h – 5,7 seg.
Transmissão
Caixa de velocidades - Manual de 6 velocidades com diferencial de deslizamento limitado.
Tração – Dianteira.
Suspensão
Dianteira - MacPherson de duplo eixo.
Traseira – Barra de torção em H.
Direção - Assistência eléctrica e duplo pinhão.
Travões
Frente – Discos ventilados e perfurados de 350 mm; pinças de 4 êmbolos.
Trás – Discos sólidos de 296 mm.
Pneus – 235 35 R19 (Continental).
Dimensões
Comprimento – 4.390 mm.
Largura (com espelhos) – 2.065 mm.
Altura total (sem carga) – 1.466 mm.
Distância entre eixos – 2.605 mm.
Via dianteira – 1.602 mm.
Via traseira – 1.526 mm.
Altura ao solo (com condutor) – 118 mm.
Bagageira
Assentos posição normal – 498 litros.
Assentos rebatidos – 1214 litros
Depósito de combustível – 50 litros
Peso (em ordem de marcha) – 1378 kg.
Preços
Type R – Desde 40,780 €.
Type R GT – Desde 43,280 €.
Classificação Motor Atual
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(9 pontos em dez possíveis)
Carlos Veiga (2016)
Fotos:
Inês Veiga
Gonçalo Silva
Carlos Veiga
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