O Renault Clio tem sido ao longo de mais de três décadas, o automóvel preferido dos portugueses.
O mítico modelo da marca francesa comemorou em 2015, vinte cinco anos de existência sendo, em conjunto com o Mégane, o modelo que mais contribui para o tremendo sucesso da Renault em Portugal, mercado que a marca francesa lidera à 18 anos!
Mas não é tudo pois o atual Clio lidera as vendas no nosso país, pelo terceiro ano consecutivo!
Porque será que isto acontece? Porque razão ou razões este Renault é o automóvel preferido dos portugueses? É o que vamos tentar descobrir com este teste.
Antes de mais nada e como os olhos são os "primeiros a comer", olhando para o Clio o que vemos?
Vemos um automóvel cujo design, totalmente diferente das anteriores gerações, foi (e ainda é!) uma lufada de ar fresco no segmento onde onde está inserido, sendo ao mesmo tempo, o virar de página no que diz respeito à assinatura visual dos modelos da marca francesa. Tal como podemos já apreciar nos novos Mégane, Talisman e também no próximo Scénic, são automóveis que, de certa forma, foram "beber" à 4ª geração do Clio e suas derivações – Sport Tourer e Captur –, as linhas bases do desenho das respetivas carroçarias.
Na versão aqui em teste, a Renault mistura da melhor forma as linhas elegantes do Clio, sobressaindo a frente afilada e a traseira de "ancas" largas – com a personalidade desportiva da "assinatura GT Line", "enchendo o olho", principalmente nesta cor: Azul Malte (TEE).
Assim, nesta versão especial "GT Line", no exterior podemos contar com a inserção de elementos decorativos que distinguem este Clio das outras versões, tais como por exemplo: as capas dos retrovisores e os frisos das portas na cor "Dark Metal", para-choques dianteiro e traseiros "RS", ponteira de escape com acabamento cromado e jantes especificas de 16 polegadas.
No interior, vamos encontrar a "assinatura" "GT Line" na soleira das portas e também no volante forrado em pele, assentos específicos em tecido, pedaleira em alumínio e frisos nas portas e nos contornos dos altifalantes.
Quanto ao equipamento, também este Clio "GT Line" se destaca das outras versões seja através do Renault R-Link Evolution* – que é a designação do sistema multimédia da Renault que, através de um ecrã tátil de 7 polegadas, oferece uma enorme panóplia de funcionalidades entre as quais se destacam o reconhecimento de voz, sistema de navegação TomTom®, rádio 4 x 35 W, audio streaming e telefone mãos livres Bluetooth®, entradas USB, ar condicionado automático, vidros elétricos nas 4 portas, retrovisores exteriores rebatíveis eletricamente, sensores de chuva e luminosidade, Cruise Control e o já tradicional (pelo menos na Renault) cartão "mãos livres".
Em relação ao propulsor que equipa este automóvel, da parte do Motor Atual também é uma estreia pois, este é o primeiro motor de três cilindros que testamos.
Com apenas 898 cc, alimentado por um sistema de injeção multiponto sequencial e com a ajuda de um sistema turbo com intercooler, este pequeno propulsor, faz esquecer (quase) todos os motores de 4 cilindros que já equiparam o Clio, debitando 90 cv às 5250 rpm e atingindo um binário máximo de 135 Nm logo ali às 2500 rpm que, segundo a marca, consegue levar este peso pluma de apenas 1009 kg a fazer dos zero aos 100 km/h em 12,2 segundos.
Isto na teoria é tudo muito bonito, mas como é que funciona, na prática, no dia a dia, dando-lhe o uso que a maioria dos seus proprietários dá, ou irá dar?
Começando, pelo habitáculo, a posição de condução é excelente, com tudo ali à mão e com uma ergonomia exemplar. Assento acolhedor com boa proteção lateral e, apesar de ficar sempre mais alto que o desejável, sinto-me bastante à vontade e confortável dentro do Clio, tal como acontece com o passageiro que segue ao nosso lado.
O painel de instrumentos, de design elegante e muito moderno – com velocímetro digital – facilita bastante a leitura de toda a informação mostrada, no que é ajudado pelo excelente sistema Renault R-Link Evolution* que, através do ecrã digital situado no centro do tablier é dos mais completos e fáceis de "mexer" que encontramos neste segmento, o que não acontece em alguns dos seu diretos mais adversários, pobres na informação disponibilizada e de manuseamento algo complicado.
Bons acabamentos, apesar dos normais plásticos duros que sempre encontramos neste tipo de automóveis, sobressaindo no entanto alguns "mimos" que apenas encontramos em automóveis mais caros e do segmento superior como por exemplo, a parte superior do tablier ser almofadada, o que lhe dá aquele toque de carro "Premium".
Na próxima geração do Clio, a Renault terá de efetuar um trabalho melhor no que diz respeito ao espaço disponível nos lugares traseiros. Esse trabalho terá de passar também pela diminuição do volume dos assentos dianteiros, na nossa opinião "grandes demais", tal como encontramos em alguns rivais sem que isso os torne menos confortáveis ou ergonómicos.
Quanto à bagageira, apesar dos seus 300 litros de capacidade, demonstrarem que não é das maiores, chega perfeitamente para as necessidades do dia a dia e também para aquela deslocação mais longa, desde que não se queira levar tudo, incluindo a sogra e o periquito!
Aliás, sempre podem levar o periquito na respetiva gaiola, tal como as malas da sogra, mas para isso vão ter de rebater o assento traseiro e aí ficam com uma bagageira com 1146 litros de capacidade! Quanto à sogra, se for como a minha... que vá de comboio... ou de autocarro ou... a pé!
E chegou a hora de rodar a chave e... ops, desculpem, mas é a força do hábito. No Clio, basta termos o cartão "mãos livres" no bolso, para termos acesso ao seu interior e para o podermos conduzir. Para isso basta carregar no botão "Start/Stop", situado logo ali ao lado do volante, na consola central para ativar os três cilindros do seu motor.
Como já referi, nunca tinha conduzido um automóvel propulsionado por um motor tricilindrico e por isso, sinceramente, não sei o que me esperava. Aliás, pensei que o que me esperava era algo parecido com um motor barulhento com imensas vibrações e com prestações, digamos, um pouco melhores que os conhecidos "papa-reformas"!
A primeira surpresa surgiu ainda nas instalações da Renault, ali no Lagoas Park, em Oeiras. Carreguei no botão e o motor entrou em funcionamento. Não, não pode ser! Será que me entregaram o carro errado? Este tem quatro cilindros e não apenas três!
Excelente o trabalho efetuado pelos técnicos da Renault neste propulsor, no isolamento das vibrações e ruído que chega ao interior do Clio.
Ninguém vai notar que na "casa das máquinas", está um motor de "apenas" três cilindros e não um "normal" quatro cilindros.
Um ouvido mais apurado e conhecedor, conseguirá distinguir este motor de um 4 cilindros mas, apenas se encostar o ouvido ao capot!
Já em andamento, sobressai o excelente "mix" entre o conforto proporcionado e o bom comportamento do chassis e suspensões, mesmo em pisos mais degradados ou quando conduzimos de forma mais afoita e entusiasmada.
Bem sentado (apesar de algo alto...), seletor da caixa de velocidades logo ali à mão, volante de boa pega e com uma direção comunicativa q.b., o Clio, é muito fácil de ser conduzido, tanto no trânsito complicado das nossa cidades – a visibilidade para trás poderia ser melhor –, como em estrada onde tem um comportamento muito satisfatório, isto se... não exigirmos demais do seu pequeno motor.
Explicando melhor, os seus 90 cv, chegam bem para as "encomendas", isto claro se não nos deixarmos levar pelas suas linhas desportivas, principalmente nesta versão "GT Line" pois, por muito agressivo que seja o seu aspeto, não deixa de ser um Clio TCE. Não que desiluda, bem longe disso.
O seu motor é muito arisco, principalmente nos arranques e nas recuperações (aqui é até dos melhores do seu segmento!), muito por culpa do pequeno turbo que dá uma grande ajuda, principalmente na transição das baixas para médias rotações, onde chega a surpreender e muito rapidamente, em autoestrada, vemos o seu velocímetro a chegar aos 140/150 km/h sem que notemos, o que acontece também por causa da sua excelente insonorização.
No entanto, quando queremos puxar mais por ele, chegando às altas rotações, aí sim, começamos a sentir que o seu motor tem apenas 898 cc e que por isso mesmo, milagres não existem, pois não foi feito para estas "guerras".
Conduzido e usado de forma perfeitamente normal, idas e vindas do emprego, com passagem pelo supermercado para as habituais compras de última hora, idas ao café, e no fim de semana, com a costumeira voltinha domingueira, desta vez tendo como destino a zona de Peniche, fiquei também agradado com os seus consumos.
Se em cidade, o Clio bebeu 6,5 litros, já durante a tal ida a Peniche com três pessoas a bordo, o computador de bordo indicou que gastámos apenas 5 litros de combustível por cada 100 km percorridos, o que é excelente!
Ah, é verdade! O Clio possui o Modo Eco, que supostamente faz com que consuma menos, mas sinceramente, façam de conta que não existe pois, quando ligado, amordaça de tal forma o comportamento e as prestações do seu motor que, além de retirar todo e qualquer prazer de condução, obriga a que carreguemos (muito) mais no acelerador e... lá se vai a economia!
Comentário Motor Atual – Com linhas modernas e (muito) bonitas, principalmente nesta versão "GT Line", bons acabamentos confortável e seguro, percebemos porque razão é que este automóvel, caiu no "goto" dos condutores portugueses. O Renault Clio é aquele tipo de automóvel do qual não se é proprietário. Este automóvel faz parte da família. Está ali sempre que é preciso e é na homogeneidade do seu conjunto que se situa a razão do seu tremendo sucesso.
Se juntarmos a esta homogeneidade, uma fiabilidade acima da média, que é comprovada pelas muitas unidades da primeira geração que encontramos todos os dias a rodarem por aí, com quilometragens capazes de fazer inveja a muitos modelos de marcas consideradas de topo, está tudo dito!
Fatores Positivos:
- Design apelativo.
- Equipamento desta versão "GT Line".
- Facilidade de uso.
- Disponibilidade do motor a baixas e médias rotações (90% do binário, logo às 1650 rpm).
- Consumos.
Fatores negativos:
- Espaço nos lugares traseiros.
- Visibilidade traseira.
- Modo Eco.
Especificações Técnicas
Motor – 3 cilindros em linha, 4 válvulas por cilindro.
Cilindrada – 898 cc.
Potência – 90 ás 5250 rpm..
Binário – 135 Nm às 2500 rpm.
Alimentação - Injeção Multiponto Sequencial. Turbo com Overboost. (Stop & Start).
Transmissão
Tração – Dianteira.
Caixa de velocidades – Manual de 5 velocidades.
Direção – Elétrica de assistência variável.
Suspensões
Dianteira – Independente, do tipo Macpherson.
Traseira – Barra de torção com molas helicoidais.
Travões
Frente – Discos ventilados.
Trás – Tambores.
Pneus – 195/55 R16.
Dimensões
Comprimento – 4062 mm.
Largura – 1732 mm.
Altura – 1448 mm.
Bagageira – 300 Litros.
Depósito Combustível – 45 Litros.
Peso – 1009 kg.
Classificação Motor Atual
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(7 pontos em 10 possíveis)
Agradecimento – Quero realçar o facto deste ser o primeiro trabalho do Motor Atual, efetuado com um Renault (espero que seja o primeiro de muitos!), o que muito me apraz, demonstrando que, são cada vez mais as marcas que acreditam neste projeto e na seriedade e isenção do trabalho aqui efetuado. Obrigado Ana Gil. Obrigado Renault Portugal.
Carlos Veiga (2016)
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