Já lá vai o tempo em que as chamadas "carrinhas", as versões familiares das "berlinas" e com maior capacidade de carga que o automóvel do qual derivavam, eram usadas por quem tinha uma família grande ou precisava de espaço para carga, não se importando que este tipo de automóvel fosse considerado o "patinhos feio" da gama à qual pertenciam
No meu disco rígido cerebral, estão guardadas algumas memórias relacionadas com este tipo de automóvel, como por exemplo do senhor Lino que era o dono da mercearia lá do bairro, que saía de casa de madrugada para regressar algumas horas mais tarde, com a sua carrinha, uma valente Renault 12 Break, carregada até ao teto, com todo o tipo de caixas de legumes e sacas de legumes e caixas de fruta que tinha adquirido no antigo mercado do Rego.
E cada vez que ia à "santa terrinha, a carrinha, mais parecia um camião TIR, do que uma Renault 12, quase roçando com a traseira no chão tal o peso que transportava!
Só que os anos foram passando e com o aparecimento das pequenas "furgonetas", destacando-se a mítica Renault Express e mais tarde, as Kangoo, as ditas carrinhas, foram ganhando "status" e de simples veículos de carga, os tais "patinhos feios", transformaram-se em magníficos "cisnes", que é o mesmo que dizer que hoje em dia, até conseguem ser mais bonitas e charmosas que os modelos das quais derivam, as berlinas e os hatchbacks.
E foi assim que chegámos a 2016, ano do lançamento daquela que é a "trisneta" da saudosa Renault 12 break, e que desde então tem arrasado corações e aniquilado praticamente toda a concorrência, especialmente na versão que tivemos oportunidade de experimentar: a Renault Mégane Sport Tourer dCi 130 "GT Line".
Design & Acabamentos – Uma lufada de ar novo e fresco, é o que sentimos sempre que olhamos para a Mégane Sport Tourer, ainda mais com este nível de equipamento, o "GT Line". Mas deixemos o equipamento para umas linhas mais abaixo e vamos olhar agora para o desenho exterior desta carrinha.
No segmento C (e não só!), raras são as vezes em que as marcas conseguem juntar num só veículo, um design que conjugue de forma harmoniosa, a elegância e o dinamismo e a Renault fê-lo e sem perder a sua identidade, como marca que ao longo dos tempos, tem surpreendido com modelos bastante originais e apelativos e como é óbvio, a Mégane ST, não é a exceção à regra.
Para começar, estamos perante o automóvel mais baixo e com as vias mais largas o que lhe dá um "arcaboiço" possante, contribuindo também para isso o acabamento em cromado que serve de moldura aos vidros da ST e as barras de tejadilho, "rasteirinhas", em alumínio anodizado.
Como não podia deixar de ser, na frente, a assinatura luminosa em forma de C com guia de luz e efeito 3D, (a unidade aqui em teste vinha equipada com faróis "Full LED", tecnologia "Pure Vision", que já experimentámos na Talisman e que são verdadeiramente fantásticos!).
Na traseira, as alongadas luzes "Edge Light", também com efeito 3D que contribuem grandemente para o aspeto futurista e dinâmico do Mégane, seja qual for a versão, carro, ou carrinha.
E como estamos perante a versão "GT Line", o para-choques dianteiro com design mais desportivo, a grelha inferior em ninho de abelha, a ponteira de de escape cromada, o difusor perfilado, o monograma "GT Line" colocado tanto nos guarda-lamas dianteiros, como no portão traseiro e a contribuição das belíssimas jantes de 17 polegadas "Dark Metal" (as de 18 polegadas que equipam a ST aqui em teste são opcionais), fazem toda a diferença, no aspeto final desta carrinha, acrescentando à elegância e dinamismo já citados, aquele toque desportivo, sem cair em exageros de "tunings" foleiros e descabidos. Na "mouche"!
Seguindo para o interior, sobressaem os assentos específicos desta versão, tipo bacquet com apoios de cabeça integrados e costuras em azul.
A compor toda esta envolvência desportiva que carateriza a linha "GT Line" temos os pormenores em azul do habitáculo, destacando-se os frisos azuis nas portas e o "anel" e respetivas costuras da cobertura que envolvem o seletor da caixa de velocidades, tal como o volante "cortado" na sua parte inferior.
Quanto aos materiais usados, vamos encontrar no interior da Mégane Sport Tourer, o que de melhor se faz no seu segmento, num mix perfeito entre a ousadia do desenho e a qualidade dos acabamentos.
E... estranhamente, ou talvez não, na unidade aqui em teste, não ouvimos nenhum ruído parasita e nem sentimos vibrações "esquisitas", como tinha acontecido quando testámos a versão carro do Mégane, o que apenas vem demonstrar que a Renault está muito atenta às queixas dos seus clientes e que existe uma continua e real evolução na construção dos seus automóveis.
Ergonomia & Equipamento – Tal já tinha referido quando testei a versão berlina do Mégane, "Tá-se bem", no interior da Mégane Sport Tourer. E ainda "tá-se melhor", neste "GT Line"! E isto porquê? Porque podemos contar com uns assentos bastante confortáveis e ergonómicos. Estes, pecam apenas no acesso aos comandos para regulação da posição, ou seja, devido a serem algo volumosos, ocupam muito espaço e por vezes não é fácil conseguirmos colocar o assento na posição ideal... e olhem que nem tenho as mão muito grandes (mas também não tenho mãozinhas do Trump!).
De resto, o conforto tem nota alta, mesmo após rodarmos de seguida, algumas centenas de quilómetros.
Está tudo no sítio certo, incluindo na consola central, a tablet multimédia vertical de 8,7 polegadas R-Link 2 que dá acesso a uma panóplia de informações, incluindo o acesso ao GPS, rádio, Bluetooth, sistemas de ajuda à condução, aplicações, ar condicionado e "cereja no topo do bolo", o programa Multi-Sense que dá acesso a cinco modos diferentes de condução: Neutral, Sport, Comfort, Personalizado e Eco.
E existem também cinco ambientes luminosos, que mudam tanto no habitáculo, como no painel de instrumentos e na "tablet" do R-Link2. consoante o modo de condução que escolhemos, divididos entre as seguintes cores: sépia, vermelho, azul, violeta e verde.
Tal como acontece noutros modelos da marca francesa, a moldura em preto, que envolve a "tablet", rapidamente fica cheia de dedadas e muito sinceramente, para mim seria uma enorme dor de cabeça, ver ali aquelas impressões digitais a causarem um aspeto desleixado e menos limpo pois, passaria a vida a tentar limpá-las.
Um plástico de melhor qualidade, ou outro tipo de material, mais resistente às marcas deixadas pelos dedos, teria outro efeito, para melhor.
Quanto à bagageira, temos à nossa disposição 580 litros que é mais do que suficiente para a bagagem das cinco pessoas que podem viajar na Sport Tourer. Além disso, é bastante versátil oferecendo duas posições do piso, a mais alta que, com os assentos traseiros rebatidos, fica com uma excelente área, totalmente plana, para o transporte de bagagens mais volumosas.
Como acréscimo, ficamos com um "buraco" de 55 litros, debaixo do piso.
Com o piso na posição mais baixa, ficamos com a bagageira na sua máxima capacidade, os já citados 580 litros. Existem ainda pequenos espaços de arrumação nas laterais,
O rebatimento do banco traseiro, pode ser efetuado de forma bastante fácil, através dos pequenos manípulos situados na bagageira e que permitem o rebatimento em 1/3 ou 2/3.
Nesta carrinha Renault, o banco do passageiro também pode ser totalmente rebatido, criando assim espaço para ali arrumarmos bagagens que podem chegar aos 2,7 metros de comprimento!
Motor, Consumos & Performances – Quanto à motorização que equipa esta Sport Tourer, é exatamente a mesma que equipa o Mégane berlina que testámos aqui no Motor Atual.
Assim, para locomover os quase 1400 kg (1394 kg) que esta carrinha pesa, temos aquele que consideramos ser o propulsor mais equilibrado da gama Mégane, o Energy dCi 1,6 litros de 130 cv com Stop & Start.
Apesar de ser algo barulhento, o excelente trabalho efetuado ao nível da insonorização – vidros de maior espessura que garantem um melhor isolamento, novas juntas de estanquicidade colocadas exteriormente na parte inferior das portas, espumas e feltros de maior densidade, colocadas sob o capot, nas cavas das rodas, nas zonas inferiores das portas, na moldura do vidro dianteiro, na zona da bagageira, etc - faz desaparecer, quase na totalidade, o matraquear típico dos motores alimentados por gasóleo.
Fiquei até com a impressão que a Sport Tourer, rodando a velocidades de cruzeiro, consegue ser ligeiramente mais silenciosa que a versão berlina.
Quando exigimos mais dos 130 cv, chega até nós um ronco que, sem ser demasiado intrusivo (no Sport Mode), é bastante agradável.
Seja no arranque, nas recuperações ou até mesmo levando as rotações quase ao limite, a sua pujança faz com que nos esquecemos que estamos perante um motor a diesel de apenas 1600 cc, graças ao seu binário que surge com uns generosos 320 Nm, logo ali abaixo das 2000 rpm, principal razão da agradabilidade de condução, seja a que velocidade for.
E fazendo jus ao seu nome – Sport Tourer – a carrinha anda muito e... curva ainda melhor, apesar da serenidade que reina a bordo.
Em relação aos modos de condução proporcionados pelo sistema "Multi-Sense e tal como aconteceu durante o teste ao Mégane "carro", experimentei todos ( Neutral, Sport, Confort, Personalizado e Eco) e o meu preferido é o modo Sport o qual, sem perder pitada do conforto que se vive a bordo, transmite ao condutor, sensações mais entusiasmantes, mesmo quando se efetua uma condução serena e pacata, no dia a dia.
Sentimos mais automóvel e isso é ótimo!
Numa condução mais empenhada, vêm ao de cima a qualidade do chassis e suspensões, aos quais os "sapatos" com a medida 220/40 18, dão uma grande contribuição para que a carrinha Mégane tenha um comportamento bastante são, transmitindo confiança ao condutor, mesmo quando este abusa um "poucochinho".
Não é a mais desportiva das Sport Tourer (acaba de chegar ao mercado o Mégane Sport Tourer GT com opção de escolha entre um propulsor a gasóleo, o dCi 1,6 que debita 165 cv e outro alimentado a gasolina com 1616 cc e 205 cv, ambos equipados com caixa automática de dupla embraiagem EDC e o sistema de quatro rodas direcionais, 4Control), mas que satisfaz bastante, lá isso satisfaz!
Durante este teste, com três pessoas a bordo e respetiva bagagem para um fim de semana, fizemos consumos balizados entre os 5,4 litros aos cem, numa condução "levezinha" em estrada, a rodar quase sempre em sexta velocidade e a cumprir os limites de velocidade impostos pelos radares SINCRO e os 9,9 litros aos cem, gastos num percurso onde, digamos que foi para... tirar o "carvão", ao motor.
E pelo andamento que esta carrinha permite, duvido que lá tenha ficado algum bocadinho de carvão!
Fatores Positivos:
- Design (É linda de "morrer"!
- Qualidade geral dos materiais, principalmente os de toque "macio".
- Equipamento, principalmente desta versão "GT Line".
- Muito confortável, destacando-se o silêncio a bordo e a envolvência de todo o habitáculo.
- Motor generoso e capaz de proporcionar agradáveis momentos de condução, apesar da sua baixa cilindrada.
Fatores Negativos:
- Sistema multimédia algo complexo, necessitando algum tempo de aprendizagem/habituação.
- Acesso difícil (assentos muito volumosos) aos manípulos de regulação da posição dos assentos dianteiros, principalmente o do condutor.
- Moldura que envolve a tablet, fica com mau aspeto, devido às dedadas.
Classificação Final
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(8,5 em dez pontos possíveis)
Especificações Técnicas
Motor – 4 cilindros em linha, 16 válvulas.
Cilindrada – 1598 cc.
Potência – 130 cv às 4000 rpm.
Binário – 320 Nm às 1750rpm.
Tipo de combustível – Diesel.
Alimentação – Injeção direta com admissão variável e rampa comum.
Turbo de geometria variável e Intercooler.
Caixa – Manual de 6 velocidades.
Tração – Dianteira.
Direção – Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica.
Travões
Dianteira – Discos ventilados.
Traseira – Discos.
Pneus: 225/40 R18 (unidade de teste)
Dimensões
Comprimento – 4626 mm.
Largura – 1814 mm.
Altura – 1449mm.
Distância entre eixos – 2669 mm.
Depósito de combustível – 47 litros.
Bagageira – 521 litros.
Peso – 1394 kg.
Prestações (dados da marca)
Velocidade máxima – 198 km/h.
Aceleração 0-100 km/h – 10,6 seg.
Emissões CO2 – 103 g/km.
Nível de emissões – Euro 6.
Carlos Veiga (2017)
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