Muitos dos meu amigos, são fãs incondicionais de automóveis. No entanto, existe um, para o qual, se um carro, não tiver no mínimo 500 cv e custar mais de 200 mil euros, não é carro!
Este diálogo, aconteceu uns dias antes da realização deste teste com um amigo, "expert" em automóveis:
- Carlos, que automóvel vais testar desta vez?
- Vou experimentar um Clio...
- Outra vez um Clio? Mas já testaste, pelo menos dois!
- Exato! Testei um da geração anterior na versão TCE, equipado com o motor de três cilindros e mais recentemente, o dCi 110 da nova geração, na versão GT Line.
- Opá, um Clio é um Clio, aquele utilitário, que é pau para toda a obra, mas que não deixa de ser um "carrito".
- Olha que não é bem assim. Por exemplo, o Clio equipado com o motor dCi de 110 cv já tem um comportamento de referência, capaz até de envergonhar automóveis do segmento superior.
- Pois, pois, então e este que vais conduzir agora? O que tem ele assim de tão diferente dos Clio "normais"?
- Tem tudo! A começar pela sua designação: Renault Clio R.S. Trophy EDC 220!
- Ah, ok, mais uma versãozita, com algum equipamento extra e pouco mais...
- Olha que não! Vai pelo que te digo: este Clio é mesmo especial!
- Naaaa... não me convences, é apenas mais um Clio...
- Ok, então fazemos assim: vais acompanhar-me num dos dias do teste, para veres ao vivo e a cores a nova "pequena" grande máquina da Renault.
- Ok, pode ser... (pouco convencido...)
No dia agendado, lá fui eu até ao Lagoas Park, em Oeiras, levantar o Clio R.S. Trophy. Já o tinha visto de soslaio por diversas, vezes, estacionado na garagem da Renault Portugal, mas nunca tinha olhado, com olhos de ver.
Para já digo o seguinte: se estivesse comprador deste automóvel a cor escolhida seria exatamente a mesma da unidade aqui em teste: Amarelo Sirius!
Além de ser a cor oficial da Renault Sport, na minha opinião, assenta que nem uma luva neste Clio.
Logo ao primeiro olhar, ficamos com a certeza que estamos perante um Clio bastante diferente dos restantes "irmãos"e isso nota-se logo na dianteira mais larga, graças ao parachoques de maiores dimensões e mais perto do chão.
Original - com a forma da bandeira de xadrez -, o exclusivo sistema de iluminação de LED (com multi refletores) que dá pelo nome de R.S.Vision, além de contribuir, tanto de dia como de noite, para o aspeto agressivo deste pequeno desportivo é também uma grande mais valia no que diz respeito à segurança, proporcionando uma iluminação de topo, que encontramos apenas em automóveis de gamas superiores.
Na traseira, além da assinatura em C das luzes, é óbvio que tanto o difusor de ar, como o pequeno aileron superior contribuem para o aspeto mais desportivo deste Clio R.S..
Só que, aqueles dois escapes, além do aspeto agressivo, sendo da responsabilidade da Akrapovic, mostram que não estão ali apenas por serem bonitos, mas para algo mais... mas já lá iremos.
Acedendo ao interior, sobressaem imediatamente as alterações efetuadas, quando comparado com o modelo anterior, especialmente no que diz respeito à qualidade dos materiais usados e sobretudo uma maior atenção ao pormenor, tal como acontece com todas as versões da nova geração do Clio.
Mas é aqui também que este Clio R.S. Trophy EDC 220 sobressai dos demais, destacando-se os assentos de estilo “bacquet” com costuras e assinatura R.S. em vermelho, que combinam na perfeição com os cintos de segurança e os tapetes debruados também a vermelho, volante forrado a pele perfurada, assinatura “Renault Sport” no tablier, à frente do lugar do passageiro e no centro, o R.S. Monitor 2.0.
Levo algum tempo até encontrar a minha posição de condução e fico com algumas dúvidas em relação ao apoio lateral dos assentos dianteiros, mas de resto, tudo é familiar, afinal de contas, não deixa de ser um Clio no que diz respeito à ergonomia e espaço interior, onde quatro passageiros viajam confortavelmente instalados, tolerando bem um quinto passageiro, desde que este não tenha 2 metros de altura não pese 120 kg!
Nota positiva para o excelente posicionamento e leveza do toque das patilhas, colocadas atrás do volante que comandam a caixa de velocidades EDC.
Com apenas um toque no botão do start, graças ao cartão “mãos-livres”, ligamos o motor e chega até nós, mesmo ao ralenti, um som grave e rouco.
A Akrapovic, que usou titânio na construção de alguns dos componentes do sistema de escape do R.S. Trophy, efetuou um excelente trabalho no que diz respeito ao som produzido pelas duas “bufadeiras”, saindo delas um ronco agressivo e com aqueles deliciosos “ráteres” nas passagens das mudanças, que contribuem para o aumento da adrenalina, tanto para quem vai a bordo deste Clio, como quem fica “embasbacado” a vê-lo ir embora, depois de ter sido ultrapassado, porque este pequeno Renault adora “humilhar” outros automóveis, incluindo muitos que, sendo bastante mais caros dariam, supostamente, mais luta. Mas não dão!
E o culpado é, sem dúvida alguma, um “velho conhecido” do Motor Atual, o motor de 4 cilindros, 1.6 Turbo, que já experimentámos em dois... Nissan! Exatamente, Nissan, que como sabemos faz parte da conhecida Aliança Renault/Nissan, sendo por isso natural a partilha de motores e componentes. E ainda bem que assim é, pois se já tinha gostado do comportamento deste propulsor no Pulsar e no, muito especial Juke Nismo, o que poderei agora dizer sobre as alterações efetuadas pelo departamento de competição da marca francesa? A Renault Sport? De onde saem os motores que equipam os automóveis de competição incluindo a Fórmula 1?
Exatamente! Renault Sport!
Assim, trabalhado pelo departamento de competição da Renault, o 1.6 Turbo, debita agora 220 cv e um binário máximo de 280 Nm (mais 20 cv e 20 Nm que a versão anterior, respetivamente) e surge associado à caixa de velocidades de dupla embraiagem EDC comandada através de patilhas no volante, sendo 30% mais rápida que a versão anterior, incluindo a permissão de reduzir mais cedo em situações limite de travagem. Isso é mais evidente quando se opta pelo modo de condução R.S. Drive que altera o comportamento, transformando este Clio, num verdadeiro desportivo.
Sendo um desportivo, falar sobre consumos é quase irrelevante, pois economia nunca foi sinónimo de performances e este Clio, não é a exceção. Mesmo assim, neste teste, os consumos estiveram balizados entre os 5,3 litros num andamento totalmente “sofredor” (sim, num carros destes, efetuar condução económica significa não poder usufruir de tanto divertimento e isto, pelo menos para mim, é um "Grande Sofrimento"!)
No meu andamento “normal”, que seria a forma que conduziria este Clio caso eu fosse o seu proprietário, consumos na casa dos dez litros estavam garantidos, o que seria algo elevado, mas que se compreende, devido às suas características técnicas.
Puxando a sério pelo R.S.Trophy, consumos na casa dos 14 litros, estão garantidos! Afinal de contas sempre temos de matar a sede a 220 cavalos, certo?
Launch Control, sabe o que é? Aquele “gadjet” que apenas os desportivos muito, muito caros possuem e que proporciona arranques fulminantes? Pois é, o meu amigo (lembram-se dele? O tal que dizia que este era apenas mais um Clio), ficou literalmente branco, quando, sem lhe dizer, usei o “Launch Control” num arranque!
Para ativar o “Launch Control” é necessário pressionar o botão R.S. Drive, situado entre os dois assentos dianteiros, colocar o pé esquerdo no pedal de travão e manter as mãos a pressionar as duas patilhas junto ao volante. Depois é só acelerar a fundo, tirar o pé do travão e... arrancar que nem um foguete!
O excelente sistema de telemetria que faz parte do R.S. Monitor 2.0, vai confirmar que é possível cumprir dos 0 aos 100 km/h em escassos 6,6 segundos e os primeiros mil metros em apenas 26,4 segundos.
Além disso, este sistema de telemetria que é único no segmento, permite monitorizar diversas temperaturas, valores de binário e de potência em tempo real, pressão do turbo, pressão da travagem, ângulo do volante, regime do motor, binário à roda, acelerações, forças “G” e cronómetro.
Fantástico é, podermos gravar todos estes dados numa simples "pen", para posterior análise no computador de casa, ocupando os dados de 1 hora de condução, um ficheiro com apenas 3MB.
Quanto ao Clio R,S. Trophy EDC 220, a rapidez e eficácia com que “devora” o asfalto chegam a ser estonteantes. É um desportivo, puro e duro, que dá um gozo do “caraças”!
A culpa não é apenas da direção precisa e direta, mas sobretudo do chassis “Cup” e das suspensões que provém dos programas de competição da Renault Sport.
E qual “cereja no topo do bolo”, é o equipamento pneumático, uns Michelin Pilot Super Sport, montados em jantes de 18 polegadas.
Sim, é verdade, este Clio é bastante rijo, só que seria impossível ter um comportamento tão eficaz e ser capaz de lidar com os 220 cv, se tivesse o conforto que encontramos nos seus irmãos "normais".
Mesmo assim, é um automóvel com o qual podemos conviver diariamente, sem que tenhamos de ser clientes do “endireita” lá do bairro.
O Renault Clio R.S. Trophy EDC 220 pode ser adquirido por 31.750 €.
Não é barato e aproxima-se muito dos valores pedidos por modelos do segmento superior, no entanto, além de beneficiar da garantia contratual de cinco anos/100.000 km transversal a toda a gama da marca, o que diz bem sobre a confiança que a Renault tem neste automóvel, experimente conduzi-lo e verá que... nunca olhará para um Renault Clio da mesma forma!
Ah, já me esquecia, o meu amigo, depois dos diversos “cagaços” que lhe preguei durante a tarde em que esteve sentado no lugar do passageiro, apenas disse: “quando for a conduzir, olhar para o espelho retrovisor e vir que se aproxima um Renault Clio, vou deixá-lo passar, seja ele qual for, pois não quero passar vergonhas!”
E olhem que ele até tem um carrito bem jeitoso...
Fatores Positivos:
- Design desportivo.
- Equipamento.
- Sistema de telemetria do R.S. Monitor 2.0.
- Motor explosivo,
- Caixa de velocidades EDC.
- Launch Control.
- Comportamento exemplar.
- Garantia
Fatores Negativos:
- Consumos.
- Apoio lateral dos assentos poderia ser melhor.
- Suspensão rija.
- Preço.
Classificação Motor Atual
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(Sete em dez pontos possíveis)
Especificações Técnicas
Motor – 4 cilindros.
Cilindrada – 1618 cc.
Potência – 220 cv.
Binário -280 Nm.
Alimentação – Injeção direta. Turbo Intercooler.
Caixa de velocidades – Automática de seis velocidades, dupla embraiagem.
Travões
Dianteiros – Discos Ventilados.
Traseiros – Discos.
Depósito de combustível – 45 Litros.
Peso – 1279 kg.
Preço – 31,750 €.
Carlos Veiga (2017)
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