Em ensaio - Nissan Micra IG-T 0.9 Tekna

Introdução - Quando vi as primeiras imagens deste novo Nissan pensei imediatamente: sendo este automóvel tão diferente (para melhor!) daqueles que até agora usaram a designação Micra, porque é que a marca japonesa não batizou este modelo com um nome diferente deixando, quiçá, o Micra para um verdadeiro "mini" automóvel para lutar diretamente no segmento A? 
Temos um bom exemplo dentro da própria marca, o Pulsar, que sendo o direto sucessor do fracassa que foi o Tiida, ambos pertencentes ao segmento C, a Nissan deixou cair o nome do modelo anterior, criando um novo nome para um novo automóvel. 

E olhem bem para este novo Nissan... não merecia um novo nome? De repente lembrei-me do que se passa também com a Mini, que apesar de fabricar automóveis cada vez maiores e melhores, insiste em batizar todos com o nome... Mini!

Então Nissan, onde está a vossa criatividade?

Bom, nomes à parte, vamos ao que interessa, ver o que vale o novo... "Macro", ops, Micra!

Design & Acabamentos – Não há dúvida! A quinta geração do Nissan Micra arrasa no que diz respeito ao seu design! 

Esqueçam o modelo anterior (acho que vou escrever isto diversas vezes durante este teste). Aliás, pensando melhor não esqueçam, comparem as gerações anteriores com o novo. 
Maior (muito maior com os seus quase 4 metros de comprimento!), possui um desenho que conjuga da melhor forma a jovialidade e alegria que um automóvel do segmento B deve ter,  com uma agressividade q.b. e tiques de desportivo. 

Verdadeiro dois volumes e vendido apenas na versão de cinco portas, quando olhado de frente, é "como o algodão, não engana"! É um Nissan!

Os faróis esguios situados entre a tradicional grelha em "V" e o capot curto 
transmitem imediatamente uma sensação familiar de dinamismo, característica dos modelos mais recentes da Nissan (com o óbvio destaque para o Qashqai), acentuada pela linha inclinada do tejadilho. Sendo o toque final dado pela traseira de forte carácter, com as rodas colocadas nos extremos da carroçaria, uma ligeira bossa central na tampa da bagageira,  rematada pelos faróis traseiros, colocados nas extremidades da carroçaria. 

O toque final é dado pelo defletor traseiro e pela ocultação dos puxadores das portas, situados junto à moldura do vidro, de cor preta, o que contribuem de forma efetiva para a boa imagem deste "pequeno" automóvel. 

E antes de abrir a porta para analisar o interior, tenho de referir o excelente contraste entre esta cor – Gunmetal Grey – e o cor de laranja das aplicações externas (e também internas) que fazem parte do Pack de Personalização Energy Orange, com o qual a unidade aqui em teste vinha equipado. Sobressai a decoração dos assentos e a zona frontal do tablier, almofadada e forrada em pele sintética, também cor de laranja. Magnífico!

Abrindo a porta... que diferença em relação ao anterior Micra! E lá me lembrei outra vez do nome... Micra... que, na minha opinião, nada tem a ver com este automóvel!

Mesmo com os meus mais de cem rechonchudos quilinhos senti-me muito  confortável, não existindo qualquer sentimento de claustrofobia nos lugares dianteiros, o que já não se poderá dizer dos lugares traseiros, muito por culpa do tamanho algo diminuto dos vidros das portas traseiras. Não que se viaje mal lá atrás, antes pelo contrário, pois o espaço disponível é bastante acolhedor mas, vamos algo "escondidos". Quanto ao espaço disponível, está dentro da média do que é habitual neste segmento, onde duas pessoas viajam sempre mais confortáveis do que três.

Em relação aos materiais e apesar do uso intensivo dos plásticos duros, tanto a parte superior do tablier, semi-mole, como o já referido
 revestimento em pele sintética - colocada na zona central à frente do condutor e passageiro, na consola central e nas portas -, contribuem para um elevado grau de qualidade que encontramos no seu interior. Isto se não olharmos para a fraca qualidade dos painéis plásticos das portas. Felizmente que, e tal como é apanágio das marcas nipónicas, o elevado cuidado posto na montagem dos materiais contribui, de forma decisiva, para que se rode muitos milhares de quilómetros sem que apareçam ruídos parasitas, o que pessoalmente me agrada muito.

É um Nissan e está tudo dito!

Ergonomia & Equipamento – Tal como referi no capítulo anterior, quatro pessoas viajam confortavelmente no Micra. Já um quinto passageiro irá fazer com que exista algum constrangimento na divisão dos lugares do assento traseiro. E o condutor e o "pendura" vão ter de chegar os seus assentos um "niquinho" para a frente para que, quem viaje atrás, possa ter mais espaço para as pernas, o que é normal nos automóveis deste segmento. Bom para quatro pessoas, satisfatório para cinco, se nenhuma tiver dois metros de altura, obviamente! 

Quando pouco tenho a dizer sobre a posiço de condução de um automóvel, isso significa que esta é fácil de encontrar e todos os comandos estão logo ali à mão. 
Os assentos dianteiros são muito confortáveis e, apesar de não estarmos perante um verdadeiro automóvel desportivo, estes seguram bem o corpo nas curvas mais apertadas. 

A bagageira tem capacidade para albergar até 300 litros, valor que pode ser ampliado até aos 1004 litros quando rebatemos os assentos traseiros (divididos em 60:40).
Existem diversos locais de arrumação, destacando-se aquele que está situado na consola central, com iluminação e que é ideal para ali colocarmos o smartphone, pois também é ali que estão situadas as tomadas USB e de 12 volts.
O porta-luvas  tem capacidade para albergar uma garrafa de 2 litros. 

E as mais usuais garrafas de 1,5 litros, perguntam vocês? Essas cabem na perfeição nos compartimentos das portas dianteiras. 
Adicionalmente, existem dois suportes para copos situados entre os assentos dianteiros, além de outro na traseira.

Quanto ao equipamento, posso dizer que, levando em conta o segmento em que este automóvel se insere, quase nada lhe falta. 

O "quase", tem a ver com a incompreensível ausência de vidros elétricos e iluminação interior na zona dos lugares traseiro! Não consigo perceber... como é que este carro, nem nas suas versões mais caras que estão recheadas de tudo o que é equipamento e gadgets, não possui uns simples vidros elétricos ou um pequeno "plafonier" para iluminar a zona traseira? 

Felizmente que nada mais falta ao Micra, principalmente na versão aqui em ensaio, a Tekna, onde vamos até encontrar o sistema áudio premium BOSE Personal, único no seu segmento e que oferece uma experiência auditiva de 360˚ graças aos dois altifalantes situados no apoio de cabeça do assento do condutor.

Apesar do Bose Personal possuir, no total, apenas seis altifalantes – dois nas portas dianteiras, dois nos pilares A e os dois no encosto de cabeça do passageiro, já referidos – tecnologia Ultra-Nearfield by Bose –, oferece uma qualidade sonora incomparável e que faz inveja à maioria dos sistemas de som dos automóveis do segmento C e até D!
Este sistema de som faz parte do equipamento de série da versão Tekna, sendo nas versões Acenta e N-Connecta.
Sentem-se no lugar do condutor, escolham a vossa música preferida, levantem o volume e deixem-se envolver pela som do Bose Personal.  Magnífico!

Na consola central vamos encontrar um visor touch de 7 polegadas totalmente a cores que nos dá acesso a uma grande parafernália de funcionalidades, que fazem parte do Nissan Connect – de série nas versões Tekna e N-Connecta e opcional nas versões Acenta -, além do rádio digital DAB, navegação por satélite e aplicações tipo smartphone, Android e também ao Apple CarPlay.
Quando um iPhone é ligado através de um cabo de alimentação Apple, este oferece aos utilizadores um controlo por voz Siri, mapas Apple com navegação detalhada, acesso a música, serviços de telefone e outras aplicações como Audiobooks e Spotify.

Posicionado no painel de instrumentos, entre o velocímetro e o conta rotações, está também um visor TFT de 5 polegadas e a cores que nos transmite informações diretas sobre o funcionamento do Micra, sendo controlado através de diversos botões colocados no volante. 

Nesta versão Tekna (opcional nas outras versões), além dos seis airbags, Programa de Estabilidade Eletrónica, ABS, Arranque Assistido nas Subidas, Limitador de velocidade, Sensor de Faróis Automático, Luzes de Emergência Automáticas e Monitorização da Pressão dos Pneus, está presente o  "Safety+" que engloba o Sistema Inteligente de Manutenção de Faixa, o Sistema Anti Colisão Inteligente com Reconhecimento de Peões, o Reconhecimento de Sinais de Trânsito e o Assistente de Máximos.

Motor  & Consumos – O propulsor que equipa o Micra já é um "velho" conhecido nosso, sendo o mesmo que equipa o Renault Clio TCE que também testámos aqui no Motor Atual.

É surpreendente o comportamento deste pequeno três cilindros de apenas 899 cc. Os seus 90 cv e os 140 Nm estão bem presentes em toda a sua faixa de rotação, embora eu tivesse sentido algumas diferenças entre o comportamento da unidade propulsora que equipa este Micra e a outra que propulsionava o Clio TCE que testámos. 
Apesar da menor quilometragem deste Micra, quando comparado com o Clio, o certo é que o motor do automóvel japonês é mais vivaço na forma como sobe de regime até às rotações mais altas e se mantém por lá.

Por outro lado, no arranque, logo ali nos primeiros metros, sentimos uma pequena hesitação que não existe no Renault. E é essa ligeira hesitação que também está presente nas recuperações a baixa rotação, ou seja, mais vale meter uma "abaixo" para que a resposta seja imediata e aí sim, podemos afirmar que a a condução se torna mais direta e entusiástica, do que esperar que o turbo "encha" e "dispare". 

Quando levado ao limite até podemos ficar algo surpresos com o vigor que demonstra, no que é muito bem acompanhado pelo excelente trabalho efetuado no chassis "V" da marca japonesa que sofreu alterações profundas, por forma a oferecer um excelente estabilidade em todo o tipo de curvas, mostrando que este novo Nissan tem arcaboiço para "aguentar" com um motor (muito) mais potente. 

É precisamente a curvar a sério, quando tentamos levar este pequeno Micra aos seus limites, que damos graças por estar equipado com dois sistemas de segurança que apenas encontramos em modelos de gama superiores, cujo valor, quase que dava para adquirir dois automóveis iguais a este. Falo do Controlo Inteligente da Trajetória que, ajusta de forma automática a pressão do travão de forma individual a cada uma das rodas, para que o Micra se mantenha na trajetória pretendida e o Controlo Inteligente da Carroçaria - um sistema que aplica de forma subtil os travões de forma a evitar que a carroçaria adorne em demasia também, aumentando o conforto a bordo, 

Devido a ter ficado surpreso com o brilhante comportamento dinâmico do novo Micra, lanço o desafio à Nissan: para quando um Micra (Macro) Nismo?

Carro, já têm! Agora basta deixar que os magos da Nismo façam a sua magia, o que até não será muito difícil, devido à partilha de componentes que existe entre a Nissan e a Renault e, por certo teríamos um "small" desportivo capaz de lutar "mano a mano" com o Clio R.S. Trophy ou até mesmo superá-lo. Os fãs dos modelos desportivos iriam adorar!

Deixando o hipotético Nismo para trás e voltando ao mais real Micra 0.9 IG-T Tekna, debrucemo-nos sobre o combustível que consome.

 Condução de senhora...

Condução à "macho"...

Assim, entre uns excelentes 6 litros aos cem gastos pela minha mulher na sua condução calma e segura e, os gulosos 7,5 litros gastos por mim enquanto puxava pelo Micra por uma bela estrada de montanha situada algures entre a barragem de Castelo de Bode e a bonita vila de Constância, com muita subidas e descidas, o que obrigou os três cilindros a "suarem em barda"! Podemos dizer que os consumos são bastante justos, tendo em conta o que o novo Micra oferece e o que os seus principais rivais também fazem.

Conclusão Motor Atual: Não gostei do facto de terem dado o nome Micra a um automóvel que nada tem a ver com o... Micra! Por exemplo, Nissan Macro, acho que fica bem melhor e era uma forma de mostrar aos clientes que não era apenas um Micra, mas sim um automóvel (bastante) superior. 
Ou então, que tal o nome "Macron", em honra do novo Presidente Francês, visto que este Nissan é fabricado na mesma fábrica em Flins, França, onde também nascem os Renault Clio e Zoe?

Maior, muito bonito, mais confortável, melhor motorizado e com um equipamento capaz de fazer inveja a muito automóvel de categorias superiores, este automóvel demonstra que, desde o lançamento do Qashqai, a Nissan voltou à luta com vontade de se afirmar em todos os segmentos e, na realidade, é isso que este Micra consegue: provavelmente, é o melhor automóvel do segmento B!

Gostei muito!


Fatores Positivos: 
- Linhas originais, modernas e desportivas.
- Interior moderno e arrojado.
- Materiais de boa qualidade, principalmente em toda a zona frontal.
- Montagem cuidadosa.
- Equipamento.
- Sistema de som Personal Bose.
- Comportamento do motor a médias e altas rotações.
- Silêncio a bordo.
- Conforto.

Fatores Negativos:
- Revestimento plástico das portas de fraca qualidade.
- Lugares traseiro algo claustrofóbicos devido às pequenas dimensões dos vidros traseiros.
- Visibilidade traseira (muito) limitada - felizmente existe a câmara que nos mostra o que se passa lá atrás.
- Ausência de vidros elétricos e também de luz interior nos lugares traseiros principalmente sendo esta versão, a Tekna, a melhor 
- Motor algo amorfo a baixas rotações, até o turbo ganhar vida.

Características Técnicas

Motor – Três cilindros em linha, 4 válvulas por cilindro.

Cilindrada – 899 cc

Potência – 90 cv ás 5500 rpm.

Binário – 140 Nm às 2250 rpm.

Alimentação – Injeção direta, Turbo com Intercooler. 

Sistema Start-Stop.

Transmissão – Dianteira, caixa manual de 5 velocidades.

Direção – Cremalheira com assistência elétrica.

Pneus – 205/45 R17

Dimensões

Comprimento – 3,999 m.

Altura – 1,455 m.

Largura – 1,743 m.

Distância entre eixos – 2,525 m.

Bagageira – 300 Litros.

Depósito de combustível – 41 Litros.

Peso – 1076 kg.

Classificação Motor Atual 

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(7,5 pontos em 10 possíveis)

Carlos Veiga (2017)