Mantendo a tradição, mais um "Five Dias de Vacances" e, este ano, com um "cheirinho" caseiro, pois a "Xijota" foi a minha companheira de viagem.
Cansei-me de ter de andar sempre a pedinchar motos às marcas quando o interesse também é delas. Entre, nem sequer responderem aos meus emails, ao "não temos motos disponíveis" e até ao "vamos ver o que se arranja" e chegar à data prevista e nada, fartei-me pela falta de respeito que algumas marcas tem tido em relação ao meu trabalho, que tem como custo para elas, apenas a cedência das motos, pois ao contrário de muitos, nunca pedi nada às mesmas, nem um cêntimo, aliás, nem a m*rda de um autocolante, sendo as despesas todas por minha conta! Todas!
Assim sendo e de consciência totalmente tranquila, apenas sei que já não tenho pachorra para andar atrás deles! Querem que eu teste algum carro ou moto? Têm os meus contactos. Liguem!
Voltando ao que realmente interessa, a Xijota foi à revisão antes da viagem para troca dos óleos do motor, transmissão, travões e também da suspensão da frente, onde o Mestre Carlos Figueiredo – proprietário do Stand GiraMotos em Linda-a-Velha – fez a sua magia, com a colocação de uns casquilhos e uma afinação diferente, tendo em conta não só o peso da moto, como também o peso a transportar e o meu tipo de condução.
1º Dia – Lá vou eu!
Como acontece sempre antes de viajar, dormi mal e acordei bastante cedo, isto apesar de ter tido uma semana de trabalho extenuante, com alguns dias de 16 horas de trabalho.
O certo é que bem cedo, abri a pestana e depois de um duche rápido, lá estava eu mais a Xijota prontinhos para nos fazermos à estrada, deixando para trás tudo e quando digo tudo, é mesmo tudo, incluindo as "melgas" que tenho lá em casa, mais os gatos, pássaros, chinchila e peixes.
Não quero saber de nada! Não me liguem, não me escrevam, não me digam nada a não ser que seja o fim do mundo e mesmo assim, o mais provável é eu não atender ou andar por locais sem rede! Não me chateiem!
Alforges montados, motor a aquecer e chegou a hora! Normalmente o primeiro dia é sempre igual e serve para me levar até Celavisa, Arganil, local que tem sido a base para a realização do "Five Dias de Vacances".
Num andamento tranquilo, deixo Lisboa para trás e sigo pela A1 até Aveiras e depois, como sempre, vou pela estrada nacional até Coimbra.
Por ser domingo, o trânsito é escasso e a viagem decorreu de forma tranquila, rodando a velocidades moderadas, raramente passando dos 120 km/h e das poucas vezes que o fiz foi apenas quando precisava de ultrapassar.
Paragem em Pombal para esticar as pernas, um cafézinho no conhecido Nicola, situado mesmo à frente da Câmara Municipal.
Mais estrada e quando cheguei à entrada de Coimbra, tive uma surpresa. Todas as entradas para o centro da cidade estavam vedadas devido à realização de uma prova de ciclismo o que, de alguma forma, me trocou as voltas, pois pretendia efetuar uma paragem mais prolongada para almoçar.
Mudança de planos e resolvi seguir imediatamente em direção à N17 (mais conhecida como a Estrada das Beira) até Poiares, seguindo depois em direção a Góis e finalmente, Celavisa.
Se até aqui vinha num andamento moderado, com a entrada na Estrada da Beira (que adoro!), com as suas belas curvas e depois de Poiares a Góis, que conheço de olhos fechados, digamos que... lá se foram os consumos!
Claro que a Xijota não é e nunca poderia ser uma RR, mas consigo ter bons momentos de condução aos seus comandos e, para mim, isso chega! Desde que eu me consiga divertir sem exceder os meus limites de segurança, está perfeito!
Este primeiro dia terminou com 265 km rodados, com a Xijota a consumir 15,77 litros o que dá uma média de 5,95 litros por cada 100 km percorridos.
Para o tipo de moto que é, viajando com alforges e top-case completamente cheios e praticando uma condução "divertida" de Coimbra para cima, acho que não está mal...
2º Dia – Terra queimada!
Como já é tradição no "Five Dias de Vacances", claro que o galo do vizinho, acordou-me às 5, 6 e 7 da manhã! Cócórócó a p#ta que te pariu!
Bom, nada a fazer, levantar-me e tomar um duche, pequena vistoria à Xijota e motor em funcionamento.
Vou até Góis para degustar o belo do galão escuro a ferver e a torradinha, no conhecido café MayTay.
Apesar de já ter uma ideia de qual seria o meu destino, consulto mais uma vez o mapa. Sim, mapa! Ok, gosto do GPS, até sou fã do aparelhinho que tanto jeito me dá na cidade mas, para viajar de moto, nada como o velhinho mapa! O que querem? Sou da velha guarda e penso que o mapa tem mais a ver com a moto que o GPS!
Digamos que já tinha uma ideia de qual seria, ou melhor, quais seriam os locais quer ia visitar, pois sentia que era algo que tinha e devia fazer. Já devem ter percebido por esta altura que estou a falar de toda a imensa zona, que foi gravemente afetada pelos incêndios de Pedrogão Grande e de Góis.
Depois de Góis, segui para a Lousã e ali apanhei a N236 em direção a Castanheira de Pêra que fica a 34 quilómetros de distância. E é logo ali, mal começo a subir a Serra da Lousã, que vejo que apesar de tão grande desgraça ter acontecido ali tão perto, nada foi feito para precaver outras situações parecidas!
A N236 (não confundir com a N236-1, onde aconteceu a grande tragédia!) entre a Lousã e Castanheira de Pêra é uma estradinha muito apertada e sinuosa, sempre rodeada por tanta vegetação que em alguns sítios o sol não chega a entrar. Daí o facto de em muitos locais, o mal cuidado alcatrão se encontrar molhado e, por isso, temos de circular - principalmente quando vamos de moto - com cuidados redobrados. Só que o principal risco quando se percorre esta estrada, não está nas zonas mais escuras e húmidas, mas sim nas zonas abertas, devido à enorme quantidade de vegetação velha e seca e lixo que encontramos nas bermas da estrada e em muitas zonas, até na faixa de rodagem.
Agora tentem seguir o meu raciocínio: se em 34 quilómetros que percorri da N236, apenas passei por um veículo de todo o terreno e por uma carrinha da EDP, que melhor sítio, mais sossegado e seguro poderia alguém encontrar, se quisesse atear um ou vários fogos?
Quer dizer, temos uma zona que é um autêntico barril de pólvora, pronto a que alguém lhe deite fogo, sem a miníma vigilância?
E a prometida limpeza das florestas e matas?
Onde estão aqueles que fizeram discursos tão pomposos nas televisões?
E onde estão os presidentes das Câmaras locais e os presidentes das Juntas de freguesias?
Provavelmente muito ocupados com as eleições que se aproximam de forma a garantirem os seus "tachos", do que em evitarem que outra desgraça volte a acontecer!
Quilómetros e quilómetros, que percorri devagar, parando a moto aqui e ali e sempre a pensar em como seria fácil alguém atear fogo e seguir descansado sem que ninguém, alguma vez, viesse a saber quem tinha sido!
E quanto mais me aproximava de Castanheira de Pêra, mais ia ficando perplexo e chocado com aquilo que via, com as dimensões desta tremenda catástrofe! Que devastação! Isto simplesmente não devia ter acontecido! Pelo facto de isto ter acontecido é que posso ser levado a pensar muitas coisas, talvez demasiadas para alguns, mas felizmente ou infelizmente, dependendo do ponto de vista, muitos são aqueles que pensam da mesma forma, tal como, por exemplo, as inúmeras pessoas com quem falei pelos locais por onde fui passando. Aquelas pessoas vivem lá, assistiram a tudo, sofreram de forma direta ou indireta com aquela hedionda desgraça. São a estas pessoas que se deve dar a palavra e o tempo de antena e não aos senhores televisivos e a todos os técnicos "especializados" que apareceram nos dias seguintes, em tudo o que era canal televisivo a mandar "bitaites"!
Onde estava essa escumalha, antes do incêndio? Escondidos no conforto dos seus gabinetes climatizados a fingirem que trabalham?
Onde estão as medidas preventivas? Mesmo após o incêndio, como pude ver da Lousã até Castanheira de Pêra, tudo continua igual porquê?
E a ridícula figura que, pelos vistos, a Polícia Judiciária fez quando ainda o incêndio estava bem vivo? Veio a público dizer que tinha descoberto a coitadinha da árvore onde tinha caído o suposto raio que seria o causador de tamanha tragédia? Uma árvore que segundo me foi dito por pessoas com quem falei, tanto em Pedrogão Grande como depois na Pampilhosa na Serra, que era tudo mentira, pois aquela árvore já estava naquele estado há muitos anos!!
Pior ainda foi quando o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) apresentou um relatório, no qual vinha referido que naquele local onde mora a célebre árvore, não tinham sido detetadas quaisquer descargas elétricas, vulgo, relâmpagos! E o que fez a Policia Judiciária? Nem um comunicado, um desmentido, um pedido de desculpas, nada. NADA!
Gosto do silêncio! Do silêncio que se "ouve" no campo, nas montanhas, nas serras. Nestes meus passeios solitários, dou por mim inúmeras vezes a parar em locais remotos, sem ninguém em redor, a desligar o motor da moto e a ficar por ali durante largos momentos a "ouvir" aquele silêncio, a saborear tão estranha, mas ao mesmo tempo, tão deliciosa sensação.
E "ouvir" o silêncio foi algo que também fiz desta vez sempre que parei a moto. Só que agora, o silêncio que ali se "ouve", é completamente diferente..É um silêncio ensurdecedor... Pesado... Doloroso... Muito doloroso!
Cheguei a Castanheira de Pêra e apesar de tudo, nota-se que as pessoas tentam prosseguir com as suas vidas. Vi movimento nas ruas, tanto de automóveis como de pessoas a pé e muitas crianças no seu "chilrear" alegre que seguiam em fila indiana para irem desfrutar do local que é o ex-libris daquela bonita vila.
Falo da Praia das Rocas, que não conhecia e que muito me surpreendeu. Mas antes, estando em Castanheira de Pêra e olhando em redor, a vista é agora totalmente desoladora e quando digo em redor é mesmo numa volta de 360 graus! No entanto, ali mesmo no meio, temos um verdadeiro oásis que é a lindíssima Praia das Rocas!
Quem me conhece, sabe que não sou grande fã de piscinas e praias, mas que aquele local é mesmo apetecível, lá isso é!
Um local que deve e merece ser visitado e frequentado e isso leva-me imediatamente a falar dos "solidários", daqueles que fizeram questão de publicar em tudo o que é redes sociais, fotos das roupinhas velhas que tinham lá por casa e que enviaram para os "coitadinhos e desgraçadinhos do incêndio que ficaram sem nada" e que depois, COBARDEMENTE, cancelaram as muitas reservas que tinham feito, para passarem férias nestas zonas!
Volto a dizer: COBARDES!!!
Não será agora que todas aquelas pessoas, aqueles restaurantes, lojas, hoteís e pensões, resumindo, todo o comércio local, mais precisa da ajuda das pessoas?
"Ah, agora aquilo está feio e tudo queimado e não quero passar as férias num local tão horroroso", por certo terá pensado a maioria dos "solidários" que cancelaram e continuam a cancelar as marcações que já tinham efetuado, alguma delas desde o ano passado! Enviar para lá umas calças desbotadas, uns ténis que já não servem e umas t-shirts ou camisolas que deixaram de servir ou já não estão na moda, não pode, ou não deveria deixar ninguém de consciência tranquila ou com o sentimento de "já fiz a minha parte"!
Pelo que me foi dito, um dos maiores problemas que tiveram com toda a logística que envolveu a recolha dos bens solidários e a posterior entrega, teve a ver com a sua seleção que teve de ser feita porque muito daquilo que foi enviado, principalmente vestuário e calçado, não estavam em condições de serem usados!
Quando dou alguma coisa a alguém, seja o que for, parto sempre do princípio de que, o que não serve para mim, também não serve para mais ninguém, seja o que for: sapatos, calças, camisolas, etc. No entanto, segundo o que me foi dito por diferentes pessoas em diferentes locais, parece que houve muita "boa gente" (provavelmente os mesmos "solidários" que cancelaram as férias!) que aproveitou a oportunidade para se ver livre de muito lixo, pois enviaram de tudo, calças, camisolas, vestidos, sapatos, completamente rotos e gastos e que, por certo, não serviam para quem os enviou mas iriam servir para os "coitadinhos dos incêndios"! Sobre este assunto por aqui me fico, antes de começar a insultar, pois sempre que me lembro das conversas que tive, do que me foi contado, apenas me apetece apertar o pescoço a alguém!
Aproveito e lanço aqui um repto a tudo o que é Motoclube, Associações, grupos e no geral, a todos os motociclistas que por esta altura se fazem à estrada, seja de férias, passeios de fim de semana ou simples passeios com almoço ou piquenique pelo meio. Combinem entre todos e venham visitar estas terras, estas gentes, pois eles mais que ninguém merecem que não sejam esquecidos!
Venham passear, almocem por cá, vão à praia das Rocas e a outros locais maravilhosos que por aqui existem e vão ver que não dão o vosso tempo como perdido e o vosso dinheiro por mal gasto. E, ao mesmo tempo, visitem os locais que foram dizimados por este terrível incêndio e façam, cada um de vós, a sua própria reflexão sobre tudo aquilo que por aqui se passou, pois uma coisa é vermos as imagens na televisão e outra, muito diferente, é vermos a realidade e tentar imaginar o que foi aquele inferno!
Segui então em direção a Figueiró dos Vinhos pela, infelizmente famosa, estrada N236/1.
Podia criticar alguns jornalistas por terem batizado esta estrada com o muito infeliz nome de "estrada da morte" mas, a partir do momento em que vejo na televisão, alguém como a Judite de Sousa a fazer uma reportagem em direto, ao lado de um corpo tapado com um lençol branco, pouco mais haverá a dizer sobre a maioria do jornalismo que atualmente é praticado em Portugal, onde a única coisa que é respeitada, são os níveis de audiências!
Enquanto percorria aqueles quilómetros, sempre a velocidade reduzida e olhava horrorizado para todo aquele "espetáculo" dantesco, vieram-me à cabeça os muitos filmes de ficção científica que já tinha visto sobre fim do mundo, ou como seria o mundo após uma guerra nuclear. Pois é meus amigos, não é preciso armas nucleares para dizimar tudo e todos. Basta o fogo!
Aquilo tudo que estava ali a desfilar perante os meus olhos não era, nem mais uma sequela do "Exterminador" ou do "Mad Max" mas sim a terrível realidade do que aconteceu naquele local, naquelas terras, no mês de Junho de 2017!
Cheguei a Figueiró dos Vinhos e... senti no ar as mesmas energias positivas que tinha sentido em Castanheira de Pêra.
Como era hora de almoço, perguntei a dois soldados da GNR onde poderia encontrar um restaurante bom e barato para almoçar e aconselharam-me a ir ao Solar que era mesmo ali em frente, onde a comida é caseira e os preços muito comedidos.
O Solar é um restaurante com um ambiente familiar, onde fui muito bem recebido e devorei uma deliciosa carne de porco assada no forno. Mais sobremesa e bebida e paguei apenas 6,50 €! Fantástico!
Voltei à estrada e rapidamente estava em Pedrogão Grande. E que diferença... Não sei se devido à hora a que lá cheguei, a meio da tarde e com muito calor, o certo é que o ambiente era totalmente diferente do que tinha encontrado em Figueiró e em Castanheira.
Pouca gente nas ruas, pouco movimento e um ambiente mais pesado. Dei uma volta por ali, parei durante uns instantes debaixo de uma sombra onde estavam uns velhotes e a conversa rolou, sendo o assunto o mesmo: os incêndios, o que foi feito, o que deviam ter feito e não foi feito porque... não quiseram ou não deixaram! Às tantas, já eram cinco ou seis pessoas que estavam ali na conversa comigo e as críticas iam sempre dar ao mesmo:
SIRESP – Como é que é possível que um sistema de telecomunicações que, supostamente devia ter sido o último a falhar, foi o primeiro a colapsar? A resposta era sempre o mesma: "você devia ter visto os cabos a atravessar as matas pelo chão. Até tropeçávamos neles! Já se sabia que, qualquer incêndio, por muito pequeno que fosse, dava cabo daquilo tudo"!
Centro/S de Comando – Tanto em Figueiró dos Vinhos, como agora confirmado pelas gentes de Pedrogão Grande, o maior problema foi... o tempo que os "senhores dos coletes" levavam a dar ordens, perdendo horas sem fim em reuniões, enquanto tudo ardia à sua volta, até decidirem fazer seja o que for.
Quando os "senhores dos coletes" finalmente chegavam a alguma conclusão, na maioria dos casos, já era tarde e já tudo ardia. As ordens tardavam a chegar aos bombeiros, sendo depois impossível que estes atuassem em tempo útil, de forma a salvarem fosse o que fosse!
Ouvi também das bocas de várias pessoas, de diferentes sítios por onde passei ,que sim é verdade, bombeiros não faltavam. Só que muitos deles passavam horas e horas a fio, debaixo do sol abrasador, à espera que lhes dessem ordem e/ou os autorizassem a agir, enquanto tudo à sua volta ardia! Sem ordem vindas dos "senhores dos coletes", nada feito!
Por isso, segundo também me foi dito, é que o primeiro batalhão de bombeiros vindos de Espanha estava a causar grandes "incómodos", pois por onde passavam, apagavam tudo! Agora tirem as vossas próprias conclusões, sobre a polémica que aconteceu com o reforço de bombeiros espanhóis que estavam para chegar e que, segundo consta, não os deixaram entrar em Portugal!
Muito mais poderia escrever sobre o que me foi dito, mas prefiro ficar-me por aqui, devido a todo o respeito que tenho por aquelas pessoas, pelos bombeiros e por quem ajudou aquelas pessoas.
O mais importante agora é reconstruir tudo o que foi devorado pelo incêndio e acima de tudo, que nunca caia no esquecimento o que ali aconteceu.
Da minha parte, espero voltar em Agosto e com a minha família, nem que seja apenas em passeio e almoçar por lá! É apenas uma "pequena e simbólica ajuda", mas se houver quem faça o mesmo, isso significa que uma "pequena e simbólica ajuda", junta com outras tantas "pequenas e simbólicas ajudas", podem fazer toda a diferença.
Pensem nisso!
3º Dia – Outra vez nas alturas!
Sim, o costume... cócórócó e já esgotei a minha lista de nomes ordinários e mais alguns inventados à ultima da hora, que chamei ao galo!
Bom, vamos lá! O ritual de sempre, levantar, tomar um duche, ver se está tudo em condições com a Xijota e vamos embora que se faz... tarde!
Pequeno almoço, desta vez em Arganil, uma ida rápida à Câmara Municipal para pedir umas informações sobre a matricula de uma scooter que temos na terrinha e estou pronto para seguir viagem.
Aponto primeiro a Coja e, tal como tem sido até agora, mantenho um andamento moderado enquanto sigo depois pela estrada da Beira em direção a Seia.
Adoro esta estrada mas reparo que sempre que por aqui passo – normalmente uma ou duas vezes por ano –, encontro o piso cada vez mais degradado, parecendo que é de propósito que deixaram de efetuar a manutenção a esta tão magnifica e importante estrada.
Metido nos meus pensamentos, rapidamente chego a Seia e também rapidamente a Xijota começa a trepar serra acima e cheia de vontade de brincar. Só que a brincadeira acabou, praticamente antes de começar, pois rapidamente apanhei um grupo de motos que circulava "mais ou menos" nas calmas, serra acima.
Digo mais ou menos porque um deles, numa BMW GS, artilhada até à medula e carregada até ao pescoço, teimava em seguir, fora de mão, mesmo nas curvas. Por isso decidi ficar calmamente atrás deles e ver como "paravam as modas". Até os podia ter ultrapassado, mas pelo comportamento daquele "menino", podia levar a mal ser ultrapassado e muito sinceramente não me apetecia mesmo um "picanço" naquela altura em que circulava praticamente em estado "zen".
Claro que jogo em casa, pois as minhas raízes paternas estão em Seia, cidade que me diz muito.
Reparem no gajo da GS, fora de mão! Foi assim que ele subiu a Serra da Estrela!
E foi enquanto ia observando as "habilidades" do menino da GS que, de repente, numa curva, aparecem pela frente e ocupando toda a estrada, umas sete ou oito vacas e um boi enormeeeeee!
Claro que o "menino" da GS, apanhou um grande "cagaço", pois circulava totalmente fora de mão. Agora pergunto eu: e se viesse de lá um carro, uma moto ou até mesmo como é costume por estas bandas, um ou mais ciclistas em alta velocidade? Será normal, lá na terrinha deles, os motociclistas comportarem-se desta forma? Provavelmente sim, pois da parte dos outros, nunca houve uma chamada de atenção ou um ato de reprovação, parecendo ser normal, tal comportamento.
Adiante, chegámos à Torre e enquanto eles foram para um lado, eu fui para o outro. Xijota parada, um passeio a pé por ali, uma visita ao pequeno centro comercial que ali existe, onde sempre se aproveita para provar o queijinho da serra e outras iguarias.
Regresso para junto da Xijota e felizmente vejo que os "fora-de-mão" já se foram embora. Boa! Assim já posso seguir sozinho, sem impecilhos e malabaristas à minha frente. Começo a ir por ali abaixo e vejo que a Xijota estava bem disposta. Assim sendo, vamos lá ver se é desta que consigo limpar os pneus mesmo até ao fim!
O certo é que fui andando, curvando... curvando e, apesar de ser a descer – curvar a descer, pelo menos para mim, é sempre menos seguro e oferece menos confiança que a subir, onde vamos em força e não pendurados na caixa de velocidades e nos travões, ainda por cima nesta estrada que possui ângulos de inclinação muito (mesmo muito!) acentuados - e... cheguei ao Sabugueiro!
Com a barriga a dar horas, estava na hora de almoçar. Uma rápida olhadela ao pneu de trás e... ainda não! Falta um "niquinho". Ok, já veremos o que se pode fazer, mas antes, vamos lá ao restaurante Casa da Ponte, tratar do frango de churrasco que estava uma delícia!
Eu sei, comer frango, quando se pode comer outra coisa, principalmente pratos típicos da região? Havia muita coisa, mas ia demorar mais tempo e a alternativa era... chanfana, algo que detesto!
Almocei nas calmas, dei por ali um pequeno passeio a pé para ver os cães da Serra (ainda não perdi a esperança de vir a ter um!) e fiz-me ao caminho, de regresso a Seia.
Ora vamos lá a ver se é desta. A estrada do Sabugueiro a Seia, conheço-a muito bem, por isso vai ter de ser agora!
Aplico-me ainda mais na condução, aqui e ali, em algumas curvas, tento imitar a posição de condução dos pilotos de MotoGP (aposto que se viesse alguém atrás de mim com alguns conhecimentos de pilotagem de moto, despistava-se de tanto rir com as minhas tristes figuras em cima da moto!), deixo rapidamente para trás o Museu do Pão e a aldeia da Serra e entro disparado em Seia! Epá, acalma lá os cavalos, pois por estas bandas, os nossos amigos da GNR não perdoam nada, principalmente a quem não é da terra.
Estava na hora de descansar um pouco, tanto eu como a Xijota e para recuperar forças, nada como uma garrafa de Água das Pedras fresquinha e uma deliciosa... salada de frutas! Vejam lá que estava tão boa, que até os pedacinhos de kiwi, fruto que detesto, marcharam!
Voltei para a Xijota, olho para o pneu traseiro e... não é que consegui? Pneu limpinho, limpinho! Aposto que algumas das tristes figuras que devo ter feito, de certa forma devem ter contribuído para isto, pensei eu todo orgulhoso!
Bom, deixa-te lá de parvoíces e de fazer essas figurinhas tristes, pois acabou-se a parvoíce! Vamos mas é regressar a casa, a Celavisa, naquele ritmo tranquilo e seguro que se impõe fazer.
E chegámos a casa, eu e a Xijota, felizes e cansados (mais eu que ela, como é óbvio. Já começo a não ter idade para este tipo de brincadeiras, arre!).
Dia 4 – P#ta da cavilha!
Cinco horas da manhã, blablá blá cócórócócó, seis horas bláblá cócórócócó etc e tal. Galo dum c#brão, se te apanho, torço-te o pescoço!
Banho tomado, vestido e calçado, o dia estava destinado a ir até à cidade da Guarda que não conheço, pois pelo que sei, apenas lá estive uma vez quando tinha cinco ou seis anos.
Desço as escada, abro o portão da garagem, ligo o motor da Xijota, sento-me em cima dela e quando a tiro do descanso central em vez de ouvir o tradicional "tump", da roda traseira a bater no chão, ouço um ecoante "ploft"!
Ó diabo! O que se passa aqui? Desmonto, olho, apalpo o pneu traseiro e... estou tramado! Pneu vazio!
Coloco de novo a moto no descanso central e, nem ainda tinha dado meia volta ao pneu, quando vejo mesmo no centro deste, uma enorme cavilha orgulhosamente brilhante, ali espetada! Xiii, já foste!
Como não sou de perder a calma nestas situações, rapidamente penso num plano para tentar safar-me da cavilha, que colocava em perigo a concretização dos "Five Dias de Vacances" e quiçá, do meu regresso de moto a Lisboa, pois se não resolvesse o problema, teria de deixar ficar a moto em Celavisa e regressar de autocarro ou comboio.
Deixa cá analisar a coisa e tentar resolver a situação sem ter de incomodar ninguém: Celavisa fica sensivelmente, a meio caminho entre Góis e Arganil.
Em Arganil existe uma oficina de motos e em Góis também. Contudo, a meio caminho de Góis existe uma bomba de gasolina, onde poderei encher o pneu de ar. Ok, está decidido, Góis!
Lá fui eu, muito devagarinho, tentando transformar os meus 100 quilinhos em menos de metade, quase sempre sentado em cima do depósito de forma a prejudicar o menos possível o pneu traseiro, tarefa impossível, pois só a moto, pesa 270kg, fora a top-case! O certo é que lá consegui chegar às ditas bombas de gasolina, enchi o pneu e ele aguentou-se! Boa! Vamos embora rapidamente antes que fique vazio outra vez.
Chego à oficina e o Carlos Castanheira, o proprietário, analisou o pneu e a dona cavilha, torceu o nariz e as notícias não foram as melhores. Pneu já quase em fim de uso, com uma cavilha desse tamanho espetada, muito dificilmente aceitará um taco, sendo normal em casos parecidos, "cuspir" o taco cá para fora.
A melhor solução seria, trocar o pneu ao que eu acedi imediatamente pois ainda estava a pensar no passeio até à Guarda. Só que, o pneu mesmo de outra marca que não o Bridgestone, com aquelas medidas, não havia e mandar vir demorava sempre dois ou três dias até chegar. Ora bolas, estou mesmo tramado. Pelo menos se conseguisse remediar a coisa de forma a eu chegar a Lisboa, já era muito bom.
Assim, o Carlos Castanheira, com muita paciência, lá esteve à volta do pneu e após nem meia hora, já estava o taco colocado, o pneu cheio e pronta a rodar.
Decididamente, o "Five Dias de Vacances" teria de passar a somente "Four Dias de Vacances", com a promessa de que, no próximo ano, passará a "Six Dias de Vacances", para compensar. Claro que fiquei triste, mas existem coisas piores na vida do que ter menos um dia de férias.
Regresso a Celavisa, a roupa de volta aos alforges que rapidamente são montados na Xijota, casa trancada e faço-me à estrada.
Primeiro, pensei em fazer a viagem de regresso via IP3 e depois pela autoestrada até Lisboa.
Mas pensando melhor, cheguei à conclusão que, devido à grande interrogação que era nesta altura o estado do pneu, pois não sabia se o taco iria aguentar a viagem pela autoestrada, principalmente num dia tão quente como aquele – a velocidade a que viajaria seria sempre mais elevada do que se fosse pela estrada nacional, o que iria sujeitar o pneu a um maior desgaste –, decidi efetuar o regresso novamente pela estrada da Beira até Coimbra e de novo pela nacional até Aveiras, onde apanharia a autoestrada até Lisboa e finalmente chegaria a Linda-a-Velha.
Ritmo de viagem baixo, apenas uma paragem para mordiscar qualquer coisa e principalmente matar a sede e tudo tranquilo até Lisboa.
Conclusão – 933 quilómetros percorridos em 4 dias, sendo um deles, para mim o principal, o que foi dedicado a visitar os locais que foram dizimados pelos incêndios de Pedrogão Grande e Góis, o mais importante e o qual recordarei para sempre, principalmente devido ao que vi e ouvi e que gerou em mim, um misto de muitas emoções, desde, tristeza, muito respeito e raiva, muita raiva!
Quanto aos restantes dias foram como eu gosto, bem passados, com o tempo a ajudar, bons momentos de condução com a Xijota a mostrar, mais uma vez, que é uma excelente companheira de viagem.
Tal como digo sempre, estas mini-férias a solo servem acima de tudo para efetuar um "reset" ao meu "disco rígido"!
Venham os "Five (Six!) Dias de Vacances 2018"!
Carlos Veiga (2017)
Continuação de boas viagens e do excelente blog!
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