21 de maio de 2020

Yamaha Niken - Primeiro estranha-se, mas depois... é pura diversão! (Reposição)


Domingo, dez horas da manhã. O local? Um evento organizado pelo Grupo Motard do Infantado e que se encontra a abarrotar de motociclistas, penduras e não só. 
Chego nas calmas e estaciono a Yamaha Niken, no meio das muitas dezenas de motos que por ali estão estacionadas. Afasto-me ligeiramente e fico por ali a ouvir os comentários sobre esta moto:

"Coisa estranha! Horrível! Fantástica! Uauuuuuu, linda! Parece um gato eriçado! Sexo entre o Alien e o Predador, só podia dar nisto! Quero uma, já está à venda?"

E aquela que foi a pergunta que me fizeram mais vezes durante os dias em que tive a Niken na minha posse: "Isto não cai, pois não?"


Primeiro facto: ninguém consegue passar despercebido aos comandos de uma Yamaha Niken!

Segundo facto: num qualquer local, por muitas motos que estejam estacionadas, por muito caras  e exclusivas que sejam, as pessoas apenas têm olhos para a Yamaha Niken!

Terceiro facto: esta Yamaha de três rodas, dá um “gozo do caraças”!

Mas calma, antes de irmos ao "gozo", voltemos uns dias atrás, mais concretamente ao dia em que fui levantar a Niken às instalações da Yamaha Motor Portugal. 
Ali estava ela, a olhar para mim com aquele ar meio agressivo, meio tresloucado. 


Enquanto eu esperava pela documentação e andava a cirandar, a apreciar as muitas motos que ali estavam, de cada vez que olhava para a Niken pensava para os meus "botões": que coisa estranha vou eu testar? Será que me vou dar bem com aquilo?"

Já tendo testado diversas "three-wheels" – incluindo a pequena Tricity 125 da Yamaha – e até mesmo a "four-Wheels" da Quadro, pelo menos já não era "virgem" no que diz respeito a ter mais que uma roda lá na frente! 

Mas... como seria conduzir uma "três rodas" puxada pelo conhecido motor da Tracer 900, o sensacional três cilindros 847 cc, 115 cv de potência às 10.000 rotações e um binário máximo de 87,5 Nm às 8,500 rpm, que é muito diferente dos propulsores de apenas um cilindro das "três rodas" que tinha conduzido até então e cuja potência máxima tinha sido os 41 cv da Piaggio MP3 500? Muito diferente, não acham?


Entretanto, documentos na mão, moto preparada e com o motor já a aquecer,  eis que chegou o momento! Meto a primeira velocidade, vou largando a embraiagem e... primeira surpresa! Mas... mas... afinal é igual às outras, às que têm apenas uma roda na frente, como por exemplo a Tracer 900! 
Bem, como veremos, não é bem igual, só que a facilidade com que se conduz é simplesmente desconcertante!

Quem já conduziu uma scooter de 3 rodas, seja de que cilindrada for, sabe perfeitamente que aquilo que mais sente e que leva algum tempo até nos habituarmos e conseguirmos ter confiança na frente da moto/scooter é o peso na frente e a inércia que existe quando pretendemos curvar, principalmente nas transições rápidas de direção. 
Na Yamaha Niken, apesar das suas dimensões e peso (263 kg, pronta a andar) esse peso e principalmente essa inércia, mal se sente. Ou seja, sentimos que é mais pesada que, por exemplo uma Tracer, mas nada que em meia dúzia de metros, não tenhamos esquecido completamente.

Só que... a Niken não é uma moto qualquer. Para começar é muuuuiiiito larga e isso sente-se principalmente quando queremos fazer a 2ª Circular às oito da manhã, ou às seis da tarde.
Os espelhos retrovisores que, apesar de proporcionarem uma boa visibilidade lá para trás, ficam excessivamente de fora, alargando muito a já larga frente da Niken, prejudicam a circulação no meio dos automóveis. 
Quer dizer, depois de habituados, até vamos andando mas, de vez em quando temos de encostar, para deixar passar os bandos de Nmax e PCX zumbidoras furiosas, que vêm atrás!

E já agora, um aviso: quando conduzirem uma moto destas e pararem junto ao passeio nunca se esqueçam que esta, ao contrário das outras motos, tem duas rodas à frente e não apenas uma, centrada. Ou seja, ao pararmos junto a um passeio temos de dar o devido desconto na lateral, porque senão, as raspadelas no passeio com a roda (e até mesmo as quedas), estão garantidas!

Mas olhemos de novo para a Niken: sim, do depósito para trás é, sem dúvida alguma, uma Tracer 900. Do depósito para a frente é onde faz toda a diferença! 


É aqui, no eixo dianteiro, que a Niken se destaca, devido à presença de duas rodas de 15 polegadas, cada uma calçada com pneus 120/70 R 15, especialmente fabricados pela Bridgestone para esta moto - atrás está montado um largo 190/55 R 17.


A segurar as duas rodas temos também duas forquilhas telescópicas colocadas de lado, que são parte integrante do sistema LMW (Leaning Multi Wheel), que já tinha sido estreado numa versão, digamos, mais básica, na pequena scooter Tricity. 
Por sua vez, as forquilhas estão presas a uma complexo sistema de braços e paralelogramas – o tal sistema LMW – que faz toda a diferença, na forma como conduzimos esta moto, em comparação com outras. E porquê? 

Porque, basicamente, e ao contrário do que acontece nas motos, digamos, "normais", na Niken o limite está quase sempre na traseira e não na frente.
Explicando melhor, na frente temos sempre o dobro da borracha no chão o que representa o dobro da segurança pois, mesmo naqueles casos mais complicados em que encontramos pela frente piso molhado, carris dos elétricos, piso empedrado e escorregadio cheio de altos e baixos, avenidas que deveriam estar cobertas de asfalto liso e aveludado mas que, em vez disso, estão cheias de tampas de esgotos e remendos de alcatrão mal “enjorcados”, não tenho dúvida em afirmar que a Niken é duas vezes mais segura que qualquer outra moto do mercado.

Penso que não estou a dizer nenhuma mentira quando digo que qualquer motociclista, prefere "perder" a traseira do que a dianteira, isto porque, quando por alguma razão "perdemos" a traseira, é mais fácil, conseguirmos voltar a "encontrá-la". 
Por outro lado, quando "perdemos" a frente da moto,  é, como costumo dizer, "a morte do artista" e olhem que sei por experiência própria do que falo, pois já fui ao chão por ver a roda da frente "fugir". 
Quando tal não aconteceu e consegui “safar-me”, posso dizer que isso aconteceu mais por sorte, do que devido à qualidade do meu "kit de unhas"! Aqui não há heróis!  
E é precisamente neste tipo de situação que a Yamaha Niken faz toda a diferença!


A segurança que transmite faz com que curvemos com total segurança mesmo até aos 45 graus de inclinação que o sistema LMW permite, que é o mesmo que dizer, que quase sem darmos conta e muito antes do limite do LMW, já estamos no limite do pneu traseiro e isto tudo, com uma facilidade, quase desconcertante.

Como é óbvio, tudo tem limites, principalmente para quem tem pouca experiência, pois a Niken até pode ser, de alguma forma, intimidatória e exigente para os menos experientes. 

Os mais experientes, podem ter a certeza que, tal como aconteceu comigo, ao fim de meia dúzia de quilómetros e quando a pararem e olharem para o pneu traseiro, ficarão espantados ao ver que andaram a curvar no limite do pneu!


Então se tiverem oportunidade de fazer aquela vossa estrada favorita, cheia de curvas que tanto gostam, vão de certeza ficar maravilhados com o comportamento da Niken, comportamento esse que é muito bem coadjuvado pelo excelente sistema de travagem, que chega e sobra para todas as ocasiões, nunca mostrando fadiga, mesmo pesando esta Yamaha uns valentes 263 kg, muito bem repartidos (50/50) pelos dois eixos da moto.


E tal como na Tracer 900, temos à nossa disposição o D-Mode – que permite alternar entre três mapeamentos diferentes. Do mais calmo, ao mais agressivo que, é como quem diz, “no meio é que está a virtude”, sendo este, para mim, aquele que serve para tudo e mais alguma coisa. Os restantes são, para mim, um muito "pãozinho sem sal" e o outro demasiado agressivo –, o Cruise Control, Controlo de Tração, ABS, etc.


O motor de 3 cilindros,  sofreu algumas alterações de forma a proporcionar o mesmo comportamento eficaz e rápido que a Tracer 900 tem.
A relação de transmissão foi encurtada, a cambota é ligeiramente diferente, proporcionando uma maior inércia e também o sistema de injeção recebeu uns "pózinhos", de forma a proporcionar as mesmas prestações e resposta ágil da Tracer, apesar da Niken pesar mais 49 kg.

Quanto aos consumos, lamento informar-vos, mas desta vez, a diversão foi tanta que... esqueci-me de fazer as medições habituais. Todavia, sempre vos posso dizer que, mesmo sem preocupar-me minimamente com o combustível gasto e fazendo o gosto ao dedo em tudo o que era curva e reta, os consumos oscilaram entre os 5,4 e os 6, 9 e isto, volto a referir, sem o mínimo cuidado com o acelerador, consumos bastante razoáveis, direi até bons, para o peso, potência e a forma como conduzi, na maior parte das vezes, a Niken. O que querem... ela puxava por mim e... eu puxava por ela!

Posso dizer que essas alterações resultaram, pois a Niken tem um comportamento muito bom, seja em cidade, onde conseguimos rodar tranquilamente a baixa rotação com o motor a "ronronar", seja quando puxamos por ela em auto-estrada, sendo o limite, neste caso, a pouca proteção aerodinâmica que o minúsculo para-brisas proporciona. 


E é, nesta parte, que tenho de falar dos aspetos menos positivos da Niken, pois além da pouca proteção aerodinâmica – principalmente quando em menos de nada, vemos o velocímetro digital ultrapassar alegremente a marca dos 200 km/h e prosseguir por aí acima – e da largura da zona frontal que se torna num empecilho quando pretendemos circular no meio dos automóveis, tenho de falar também do assento que, tal como acontece na Tracer, é duro que se farta, o que significa que ao fim de poucos quilómetros, estamos com dores naquele sítio onde as costas mudam de nome.
E algo que, para mim, também é particularmente negativo (pois ando sempre com muita tralha) é, não existir numa moto deste tamanho e com uma frente tão avantajada (fora o minúsculo espaço situado debaixo da almofada do assento do passageiro que mal chega para lá se colocar o envelope dos documentos da moto e que, mesmo assim, teve de ser dobrado!), um compartimento para arrumar os documentos, a carteira, o telemóvel, as chaves e até as luvas. Fazia todo o sentido.


Conclusão Motor Atual – Alguns amigos motociclistas perguntaram se eu gostava da Niken e se, caso estivesse comprador de uma moto, a colocaria na lista de possíveis opções. E a minha resposta foi imediata: Sim e Não! Sim, gostei e não, não comprava!
Tinha gostado muito da Niken, não por ser uma moto bonita mas, sobretudo por ser diferente, pela segurança que transmite e pelo prazer de condução que proporciona. Apenas isto.
Até que... no dia em que regressei às instalações da Yamaha Motor Portugal para devolver a Niken e comentava sobre isto mesmo com um dos funcionários da marca – do que gostava e não gostava nesta moto –, às tantas ele diz-me: vá ali atrás espreitar e veja o que está lá. E eu fui!
E ainda bem que fui porque lá atrás estava outra Niken, a Niken que, sem qualquer tipo de dúvida, colocaria na tal lista de possíveis opções, caso estivesse comprador de uma moto. E que Niken era essa?

A Yamaha Niken GT!

Proteção do vento? A GT está equipada com um párabrisas de maiores dimensões, ou seja, problema resolvido!

Assento duro? Esta nova versão possui um novo assento mais ergonómico e confortável. Problema resolvido!

Espaço de arrumação? Por certo, as duas malas laterais ajudam a colmatar a falta de espaços de arrumação da Niken, certo? Mais um problema resolvido!

Além disto, podemos ainda contar com  a grande mais valia que são os punhos aquecidos, o sempre útil descanso central e duas tomadas de 12 volts que a versão GT trás de série.
Assim, está bem! Estava mais ao meu gosto, à qual eu apenas acrescentaria como extra, uma top-case (Sou aquele tipo de motociclista que mesmo que tivesse uma R1, tinha de montar uma top-case. O que querem... sou assim!) e...um Akrapovic – sempre com o DB Killer montado, pois já não tenho idade para andar a fugir da Polícia!
Só faltava mesmo escolher a cor, podendo optar pelas cores "Phantom Blue” e “Nimbus Grey”.
Eu sei qual a cor que escolhia, mas não vos digo, para não influenciar a vossa escolha!

Fatores Positivos:
Tecnologia LMW; 
- Segurança;
- Comportamento dinâmico irrepreensivel em qualquer situação;
- Excelente posição de condução;
Travões;
- Moto adequada para aqueles que gostam de ser diferentes.

Fatores Negativos:
- Largura frontal: -
Pouca proteção do vento;
- Assento rijo;
- Falta de espaço de arrumação para coisas tão básicas como um telemóvel, documentos, luvas ou chaves.

Classificação Motor Atual
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(7,5 pontos em 10 possíveis)

Especificações Técnicas
Motor  3 cilindros, 4 válvulas por cilindro, refrigeração líquida
Cilindrada  847 cc
Potência – 115 cv às 10.000 rpm
Binário – 87,5 Nm às 8.500 rpm
Alimentação  Injeção
Sistema de transmissão  caixa de 6 velocidades
Transmissão final  Corrente
Suspensão
Dianteira  Dupla forquilha telescópica invertida
Traseira – Monoamortecedor
Travões
Dianteiro  2 discos (298 mm)
Traseiro  Disco (282 mm)
Pneus
Frente  (2 pneus) 120/70 R 15
Trás  190/55 R 17
Dimensões
Comprimento  2,150 mm
Altura – 885 mm
Altura  1,250 mm
Altura do assento  820 mm
Distância mínima ao solo – 150 mm
Depósito Combustível – 18 Litros
Peso  263 kg

Carlos Veiga (2019)

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